Cotidiano

Casos de sífilis em grávidas aumentam

A população tem relaxado na prevenção na hora do ato sexual, fazendo com que fique vulnerável a várias doenças, entre elas a sífilis

Em meio ao alerta dos órgãos da saúde pública sobre o zika vírus, possivelmente associado ao aumento dos casos de microcefalia, outra doença tem se tornado uma preocupação para as gestantes. O alarmante aumento de casos de sífilis em mulheres grávidas gestantes e sífilis congênita (transmitida de mãe para filho) nas capitais brasileiras tem chamado atenção dos especialistas em Saúde. 

Nos últimos sete anos, a quantidade de casos notificados praticamente triplicou no Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem alertando os órgãos de saúde para a diminuição da preocupação em relação à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST). De 2005 a 2014, mais de 100 mil grávidas brasileiras foram contaminadas com a sífilis, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Houve um aumento de 1,8 mil casos em 2005 para 21 mil casos em 2014. O número de crianças infectadas também subiu, totalizando mais de 13 mil bebês com sífilis em 2013.

Em Roraima, conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), em 2014 foram registrados 82 casos de gestantes com sífilis. Em 2015 foram 110. Os índices de sífilis congênita também aumentaram: foram 28 casos em 2014 e 31 em 2015.

O coordenador municipal de Vigilância DST/Aids e Hepatites Virais, Sebastião Diniz, associa o aumento no número de casos à redução do uso de preservativos. Segundo ele, o fato de terem diminuído as taxas de mortalidade pelo vírus da imunodeficiência (HIV), causador da Aids, pode ter gerado um certo relaxamento da população, porém, com a falta de cuidados, outras doenças acabam tendo aumento de incidência. “A sífilis pode ser evitada com preservativos e realizando exames rápidos de seis em seis meses. Além de detectar sífilis, pode-se detectar outras doenças graves também. As unidades de saúde disponibilizam os testes e distribuição de preservativos”, frisou.

Ele destaca o perigo da sífilis congênita e a necessidade de se iniciar o pré-natal o mais precocemente possível, pois a gestante precisa estar sob os cuidados na rede pública de saúde. “Fazemos o teste confirmatório através do VDRL, que é um exame específico para detectar a doença. Quando detectado, imediatamente a gestante entra em tratamento”, disse complementando que, quando diagnosticada e tratada rapidamente, há menos chances de passar a doença para o bebê.

O tratamento da doença é simples, no qual é utilizado um antibiótico muito conhecido, a Penicilina. Porém, o medicamento começou a faltar no exterior, o que acabou afetando o Brasil. Assim, estados e prefeituras enfrentam dificuldades para comprar o remédio.

Durante a gestação um primeiro teste é feito no pré-natal e um segundo na maternidade, quando é realizado o tratamento, evitando complicações para a criança após o nascimento. Já nos casos de baixa complexidade, o medicamento deve ser ofertado pela Atenção Básica. “Mesmo com a falta da penicilina, o município adquiriu a droga para poder administrar exclusivamente no tratamento das grávidas, que têm prioridade, para que as crianças não nasçam com sífilis congênita”, explicou o coordenador.

A sífilis tem cura, porém, se não for tratada, a bactéria pode se espalhar pelo organismo e, após anos de infecção, levar a complicações graves. O tratamento é estabelecido de acordo com a fase da doença. “Durante o tratamento nas grávidas, três doses da Penicilina são aplicadas, e é aconselhável que o companheiro também faça o exame e entre em tratamento. Acontece que, antes de finalizar o tratamento, algumas mulheres fazem relação sexual desprotegida com o parceiro contaminado e acaba sendo recontaminada. Por isso, é muito importante o uso do preservativo sempre”, destacou.

SINTOMAS – Os primeiros sintomas da doença são pequenas feridas nos órgãos sexuais e caroços nas virilhas. As feridas não doem, não coçam, não ardem e não apresentam pus. Mesmo sem tratamento, essas feridas podem desaparecer sem deixar cicatriz. Mas a pessoa continua doente e a doença se desenvolve.

Ao alcançar um certo estágio, podem surgir manchas em várias partes do corpo (inclusive mãos e pés) e queda dos cabelos. Após algum tempo, que varia de pessoa para pessoa, as manchas também desaparecem, dando a ideia de melhora. A doença pode ficar sem apresentar sintomas por meses ou anos, até o momento em que surgem complicações graves, como cegueira, paralisia, doença cerebral e problemas cardíacos, podendo inclusive levar à morte.

GOVERNO – Por meio de nota, o Governo de Roraima informou que a penicilina benzatina (benzetacil) teve estoque reduzido em função de uma crise de abastecimento que afetou o mundo inteiro, devido a problemas relacionados à matéria-prima do medicamento, que é importada.

A nota diz que o medicamento não chegou a ficar em falta, tendo estoque para atender à demanda de alta complexidade, que é de responsabilidade do Estado, como no caso de sífilis durante a gestação. Diante deste anúncio, a Sesau entrou em contato com o Ministério da Saúde, e aguarda informações e orientações.