Cotidiano

Catadores reclamam de diárias e cobram ‘transparência’

Recicladores da Associação de Catadores Terra Viva procuraram a Folha para reclamar do baixo valor de diárias recebidas, como também denunciar as condições precárias para lidar com a separação do material. 

Segundo Suzane da Silva, catadora há seis anos, o pagamento é repassado aos trabalhadores pela presidente da associação, Evandra Pereira, mas os associados não têm acesso às planilhas com dados sobre quanto é arrecadado mensalmente com a venda do material coletado tampouco os gastos com luz, aluguel de veículo e combustível.

“No espaço onde funciona a associação, vendemos desde o plástico ao cobre. Então é muito material reciclável que sai por toneladas. Nosso último pagamento foi de R$ 4, sendo que trabalhamos pela manhã, à tarde e às vezes entramos pela noite rasgando papel para receber tão pouco. Não existe esse pagamento tão baixo para o trabalhador que se esforça,” desabafou Suzane.

Iranilson Sousa, que também faz parte do Movimento Nacional dos Catadores (MNCR), cobra transparência nas contas da Associação Terra Viva. 

“No começo da associação, nós tínhamos fiscais do trabalho, tesoureiro e secretária, uma equipe responsável para manter a organização financeira. Mas agora só existem a presidente e a vice. O pagamento é feito somente pela presidente, mas no tempo em que ela se afastou da função, nossas diárias de R$ 4 foram para R$ 25. Quando Evandra [a presidente] reassumiu o cargo, a diária voltou a ser R$ 4, o que é um valor ‘suspeito’ que só aparece quando ela está à frente da organização das contas,” explicou o catador.

Os catadores também reivindicam melhorias no local de trabalho, como também o fornecimento de material apropriado para lidar com a separação do lixo e recicláveis. “Estamos expostos ao sol e até fezes de animais. Não há luvas nem máscaras para mexer com o lixo. Precisamos de um balcão e máquinas para prensar o material. Existem 36 famílias que dependem da associação para conseguirem manter alguma renda, portanto é fundamental que haja melhores condições de trabalho,” explicou a recicladora Berlinda Carlos.

QUANTIDADE COLETADA – A Folha também conversou com a presidente da Associação Terra Viva, Evandra Pereira. Segundo ela, o pagamento de diária varia conforme os dias e horas trabalhados, também se levando em consideração a quantidade coletada de reciclável durante o mês. 

“Os catadores não trabalham para mim, eles trabalham para eles próprios. Quem faz o salário são eles. Já levei advogados e outras pessoas para explicar como funcionam as finanças da associação, mas eles não compreendem. Cada material tem um preço e vendemos por toneladas. Somamos tudo, anotamos todos os gastos com luz e energia, por exemplo, e ninguém é mais privilegiado do que ninguém. As horas que cada um trabalhou são anotadas, assim como a quantidade de material vendido e o lucro gerado,” afirmou a presidente.

Questionada sobre o período em que esteve afastada no qual as diárias tiveram aumento considerável, Evandra explica que se ausentou por problemas de saúde e os trabalhadores tiveram que se organizar como podiam, já que só contavam com a ajuda da vice-presidente. 

“Fiquei afastada por 60 dias, mas houve a entrada de cargas extras de material reciclável, como cobre e plástico, cedido por colaboradores como o Núcleo Estadual do Ministério da Saúde, que, somados à venda dos outros materiais, gerou um bom lucro e, consequentemente, o pagamento maior aos catadores,” disse Evandra.

Sobre a melhoria na segurança do trabalho e a possibilidade de adquirirem máquinas que auxiliem a organização do reciclável, a presidente explica que já foram compradas luvas e máscaras para ajudar os catadores com o manuseio do lixo, mas que os próprios trabalhadores não adotaram por muito tempo o uso dos equipamentos. 

“Vi luvas jogadas pelo terreno e suspendi a compra, não havia porque gastar com algo que não era usado. Sobre as máquinas, nós temos projetos prontos a serem assinados com órgãos competentes e o intuito é melhorar ainda mais a associação. Não vou abandonar ninguém, o trabalho é difícil, mas o que importa é não desistir,” concluiu a presidente da Associação Terra Viva.