Cotidiano

Cheia preocupa moradores do Cauamé

Em alguns pontos, famílias inteiras estão rodeadas pela água do rio; Defesa Civil alerta para a possibilidade de acidentes e proliferação de doenças

Moradores do bairro Cauamé, na zona oeste da Capital, estão preocupados com a intensidade das chuvas e, consequentemente, a possibilidade de enchente em Boa Vista. Somente na última semana, o nível do Rio Branco subiu 1,20m e a água dos rios se aproximou das residências, deixando famílias em estado de alerta.

De acordo com o estoquista de mercado Rodrigo Araújo, que mora há cerca de dois anos no bairro com os pais, a situação está complicada. Segundo ele, o nível da água costumava se aproximar da sua casa, mas demorava mais tempo e recuava logo depois. “A água sempre chegou perto e voltou. Agora não. Ela veio muito mais rápida. Em uma semana subiu muito e acho que ela vai subir mais”, comentou.

Conforme o estoquista, a família já se preparou para a enchente, guardou os itens de valor, como fogão e geladeira, e subiu os móveis para cima de bancos improvisados. “A gente está pensando em sair daqui agora porque nós temos casa de parentes mais para a parte de cima do bairro. Depois, estamos pensando em vender essa casa e nos mudar, porque do jeito que está não dá”, avaliou.

Outra situação preocupante levantada pelo morador é o caso das famílias que estão em área ainda mais imprópria, fruto de invasões próximas ao rio. “Aqui tem muita criança que fica brincando na água da chuva e os pais deixam. Não tem uma preocupação”, ressaltou. A equipe da Folha esteve no local e observou algumas pessoas, inclusive crianças, se locomovendo pela água, mas os moradores optaram por não dar entrevista à reportagem.

OUTROS PONTOS – Elizabete Alonso, filha de uma moradora do bairro Caetano Filho, auxilia a mãe no pequeno comércio da família. Segundo ela, o movimento no mercadinho acaba sendo maior na época da cheia, por conta do fechamento de outras lojas localizadas mais próximas ao rio, mas a situação não deixa de ser triste. “É lamentável ver tantas pessoas nessa situação”, pontuou.

Conforme Elizabete, as famílias que residem às margens do Rio Branco já se antecipam a probabilidade da cheia. “Raramente a água sobe até aqui. Em 2011, foi a exceção. Naquela época, a casa ficou completamente destruída, tanto é que a minha mãe reconfigurou tudo. Antes a gente ocupava todo o espaço e agora ela foi dividida”, disse. “Já o pessoal que mora mais embaixo passa por esse problema. A gente sabe que eles já ficam na espera, se vai chover ou não. Tanto é que a estrutura das casas é simples, eles nem mobíliam por que podem perder tudo”, lembrou.

A vendedora disse ainda que muitas das famílias que moram no local já foram beneficiadas por projetos habitacionais do Governo Federal, mas acabam retornando para o ponto conhecido como “Beiral” e famoso por ser uma área de venda e consumo de drogas. “A gente escuta eles dizendo que ganharam uma casa, mas reclamando que é muito longe e que estão acostumados a morar no Centro da cidade. O que a gente acha que também é relacionado com o ‘ganha-pão’ deles”, disse, referindo-se ao tráfico de entorpecentes.

RECOMENDAÇÃO – O chefe da Divisão de Operações Especiais da Defesa Civil Estadual, tenente Emerson Gouveia, alerta a população que ainda reside em locais de inundação que não deve esperar a água chegar perto das suas casas. “Como ainda há previsão de chuva para os próximos dias, o nível do rio pode subir ainda mais e causar prejuízos. A Defesa Civil Estadual, em parceria com os municípios, está disposta a auxiliar a população, bastando acionar a equipe através dos telefones 193 e 199”, informou.

Sobre as crianças brincando nos pontos de alagamento, Gouveia reforçou para o risco de acidentes e proliferação de doenças. “A gente orienta a população que já está próxima a essas áreas que estão inundadas que não façam uso da água para banho e muito menos para atividade recreativa. Até porque a gente não sabe a quantidade de sujeira que ela contém. As margens dos rios possuem acúmulo de lixo, carcaças de animais e, com a cheia, o fluxo da água leva tudo”, disse. “Além disso, nessa época os rios apresentam um nível muito elevado e a correnteza se torna forte, o que pode resultar em um acidente inesperado”, comentou. (P.C)

Até o momento, 20 famílias foram realocadas na Capital

A Prefeitura de Boa Vista, por meio da Defesa Civil Municipal, fez a recontagem de famílias que foram retiradas de suas casas na Área de Interesse Social Caetano Filho, o Beiral, e confirmou que 20 famílias estão alojadas na casa de parentes ou no Ginásio Tancredo Neves. A previsão é que hoje pela manhã mais três famílias sejam retiradas do Beiral. Outras sete famílias estão sendo monitoradas e poderão ser desalojadas em caso de elevação do nível do Rio Branco.

“A Defesa Civil decidiu encerrar as atividades de remoção na final da tarde de quinta-feira e continuar o trabalho com essas três famílias na manhã de sexta-feira por conta da insegurança do local no período da noite”, informou. O diretor da Defesa Civil municipal, Amarildo Gomes, ressaltou que, apesar de as famílias ainda estarem em áreas de risco, a permanência delas até esta sexta-feira foi possível por conta de certo recuo das margens do Rio Branco.

O diretor disse também que, do total de famílias retiradas de suas casas, 14 foram encaminhadas para casa de parentes e as outras seis estão abrigadas no Ginásio Tancredo Neves. Vinte e duas pessoas estão alojadas no abrigo, sendo dez adultos e 12 crianças, que recebem donativos e cestas básicas.

MONITORAMENTO – O diretor da Defesa Civil Municipal afirmou que a Capital é monitorada durante o ano todo, com um mapa de todas as áreas de risco, mas que o maior problema atual é no Caetano Filho. “Nesse momento nós estamos tendo problema por ter muitas casas próximas ao rio. Percebe-se que não está chovendo muito na cidade, mas está chovendo muito nas cabeceiras no interior do Estado”, disse.

Amarildo reforçou que a população pode solicitar auxílio da equipe através da Central 156, para retirada do local, no entanto, o diretor esclareceu que a Defesa Civil não compactua com a permanência das pessoas em local impróprio. “Nós fazemos esse trabalho de retirar as pessoas dessas áreas de risco, ajudamos na mudança e, dependendo da situação, nós ajudamos no retorno da população. No caso das pessoas que estão em área de extremo risco, nós não fazemos esse trabalho de volta. Nós não podemos ajudar a população a retornar para um local que não é seguro para eles. Nesses casos nós orientamos a mudança para casa de parentes ou alternativas possíveis”, afirmou.

Órgãos de controle alertam para compartilhamento de informações falsas

A Defesa Civil do Município e do Estado confirmaram que as imagens supostamente registradas nos bairros Cauamé e Jardim Caranã compartilhadas na manhã de ontem, 29, em redes sociais e em aplicativos de mensagens instantâneas, são falsas. As publicações mostram casas submersas e moradores carregando eletrodomésticos e outros pertences.

O diretor da Defesa Civil Municipal, Amarildo Gomes, informou à Folha que existe apenas um pedido de ajuda próximo ao bairro Cauamé e que a situação lá ainda pode ser considerada tranquila. “As imagens não são verdadeiras”, frisou.

O chefe da Divisão de Operações Especiais da Defesa Civil Estadual, tenente Emerson Gouveia, alertou para a veracidade das informações compartilhadas. “É bom que a imprensa esteja aliada para desmistificar porque acontece muito disso. Às vezes as pessoas compartilham imagens que não são daqui ou de eventos que não são recentes. Qualquer dúvida, a população pode entrar em contato com a Defesa Civil ou com o Corpo de Bombeiros para confirmar”, ressaltou. (P.C)