Mesmo com atraso de um mês, as primeiras chuvas do inverno roraimense já começam a provocar reflexos negativos nos municípios do interior de Roraima. Em Uiramutã, por exemplo, a situação das estradas das localidades mais afastadas da sede tem preocupado as autoridades que atuam dentro das Defesas Civil Estadual e Municipal.
“O Uiramutã é o município que mais sofre com essa questão dos atoleiros nas estradas e das enxurradas repentinas. Nós estamos com duas equipes por lá desde o período de estiagem, realizando tanto o trabalho de combate as chamas quanto no levantamento das áreas com potencial risco de interdição em decorrência das chuvas. Como é uma área serrana, os problemas se potencializam com maior facilidade e isso já está começando a ocorrer agora este ano”, disse o diretor Executivo de Proteção e Defesa Civil, coronel Cleudiomar Ferreira.
De acordo com ele, um relatório sobre a situação do município deve ser concluído até este sábado. Amajari, Bonfim e Caracaraí também estão com relatórios praticamente concluídos, mas ao contrário de Uiramutã, que possui deficiência de infraestrutura de estradas por conta da falta de manutenção, esses município tiveram grande parte de suas pontes danificadas por conta dos incêndios ocorridos durante o verão.
“A preocupação de Uiramutã é no sentido de evitar que ocorra o mesmo que aconteceu em 2016, quando várias comunidades ficaram isoladas por causa de enchentes. Bonfim solicitou o mesmo levantamento e em Caracaraí nós já concluímos os trabalhos. O município inclusive já decretou situação de emergência, aguardando análise em Brasília para conseguir o repasse de recursos para reconstrução de pontes danificadas pelas queimadas. Essa também é a mesma situação de Amajari, que também teve pontes destruídas durante a estiagem”, completou.
El Niño reduz volume de chuvas durante inverno no estado
Carlos Sander: “Na Região Amazônica, o El Niño propicia aumento da pressão atmosférica, reduzindo o volume de chuvas” (Foto: Nilzete Franco / Folha BV)
As chuvas que caíram nestes dois últimos dias são um alento para amenizar a temperatura. O professor e geógrafo Carlos Sander disse que chuvas são sempre bem-vindas, mas nos últimos anos, a partir da década de 90, se tornou popular a existência do El Niño, que é o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, passando assim a se discutir a influência desse fenômeno em diversas regiões do planeta.
“Várias situações climáticas, na maior parte do planeta, estão associadas ao El Niño. No caso da Região Amazônica, propicia aumento da pressão atmosférica o que faz reduzir o volume de chuvas durante o período chuvoso”, comentou Sander. Ele informou que Roraima, neste ano, está sob o efeito do El Niño e enquanto estiver ativo, a tendência é a redução de chuvas, fazendo com que esse período seja mais fraco do que foi em 2017 e 2018, quando houve boas chuvas e cheias nos Rios. “Agora não vai deixar de chover, mas será abaixo do previsto”, ressaltou o professor.
Sander destacou a influência do La Niña, que é o esfriamento das águas do Oceano Pacífico, e provoca na Amazônia a redução da pressão atmosférica, aumentando assim o volume de chuvas na região. “As principais cheias do Rio Branco costumam estar associadas ao fenômeno La Niña. Então não podemos mais discutir nosso período chuvoso sem considerar esse fator, além do El Niño”, esclareceu. (E.R.)