A surpreendente votação que o então candidato ao Senado Telmário Mota (PDT) apresentou, nas eleições deste domingo, chamou a atenção principalmente porque um dos principais institutos de pesquisa do Brasil divulgou intenção de voto apontando o candidato pedetista em segundo lugar, com desvantagem de pelo menos cinco pontos percentuais em relação a Anchieta Júnior (PSDB), apontado em primeiro lugar, e tecnicamente empatado com Luciano Castro (PR) na segunda colocação.
Depois das urnas apuradas, o que se viu não refletiu ao que foi amplamente divulgado. Telmário foi eleito com 96.888 votos, o que corresponde a 41,24% dos votos válidos. Para explicar essa mudança nos números, a Folha conversou com os cientistas políticos Cleber Batalha, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), e Paulo Racoski, professor do Instituo Federal de Roraima (IFRR).
O cientista político Paulo Racoski defendeu que a estatística é uma ciência séria, mas destacou como absurda a margem de erro apontada nas pesquisas em relação aos números nas urnas, depois de apurados os votos. Ele acredita que os erros divulgados pelos institutos de pesquisa que apontavam a vitória de Anchieta podem ter sido por má interpretação dos dados ou por não terem ido a todos os municípios do interior do Estado.
“Apesar de estatística ser uma ciência, a apresentação dos dados pode ter má-fé ou má-intenção, mas prefiro não acreditar em manipulação dos números. Mas o descompasso das informações estatísticas era visível para intenção de voto para candidatura de um ou de outro”, frisou.
Segundo ele, uma possível manipulação dos números da pesquisa tem a intenção de induzir o eleitor indeciso e que quer votar em branco ou nulo. “Política não é jogo de inocentes e se vota com o principio de ética. Mas, não regra geral, essa manipulação de dados acaba refletindo na relação direta da votação”, frisou.
Para Racoski, as pessoas devem acreditar na estatística, porém devem estar atentas e analisar as várias pesquisas divulgadas a fazer seu valor de juízo, ponderando e trabalhando com investigação pessoal. “As pessoas não podem se deixar levar por má-fé, nem por má-vontade ou incapacidade profissional de quem coleta os dados estatísticos”, frisou.
ESTRATÉGIA – Paulo Racoski destacou a prática da campanha desenvolvida pelo candidato Telmário Mota como um dos pontos fortes que o levou a eleição. “Essa prática de política de subir num caminhão e andar pela cidade ele sempre fez, que fosse trabalhando, divulgando suas propostas e discutindo no corpo a corpo. O povo se identifica com ele”, disse. “Prática essa incomum entre outros candidatos nos últimos dez anos”. JARGÃO – Mas o ponto mais destacado pelo cientista político se refere a um jargão lançado por Telmário e que pegou entre os eleitores. “Uma pequena fala em que ele disse que deixaria um determinado senador ‘pianinho, pianinho’ pegou e virou um reflexo simbólico entre os eleitores e marcou como propaganda. A ideia se transformou em voto para ele, que seria para outro. Com isso, ele reverteu a situação que antes era adversa, principalmente entre os jovens, que gostam de sacada rápida e ideológica, contagiando as pessoas”, frisou. (R.R)
Cotidiano
Cientistas políticos analisam votação
Campanha de corpo a corpo e jargão sobre deixar “Jucá pianinho” levou Telmário Mota à vitória, conforme analistas