
Nesta semana Roraima relembra cinco anos do primeiro caso de COVID-19, dando início a um período de incertezas, colapso no sistema de saúde e milhares de vidas perdidas. O avanço do vírus impôs desafios à rede hospitalar, expôs fragilidades na infraestrutura pública e exigiu medidas emergenciais por parte das autoridades e da própria população.
Em entrevista a FolhaBV, o médico infectologista Mauro Asato, que atuou na linha de frente e enfrentou a doença de forma grave, relembra os momentos críticos da crise sanitária e destaca os impactos da COVID-19 na população roraimense.
O primeiro caso e a rápida disseminação
Os dois primeiros casos de coronavírus em Roraima foram confirmados no dia 21 de março, pela ex-prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, e o então secretário estadual de Saúde, Francisco Monteiro. Os pacientes estiveram em São Paulo para uma consulta médica, quando teriam contraído o vírus.
Após o diagnóstico positivo, o casal ficou isolado em suas residências e recebendo atendimento médico de profissionais. Na época, os profissionais de saúde lidavam com uma doença ainda pouco conhecida, sem um protocolo específico para tratamento.
“A gente ouvia falar, em 2019, de uma epidemia vindo de um vírus respiratório da China. Então, ficou alerta porque uma doença respiratória e, pelo fato da migração, em 24 horas você pode levar para o mundo inteiro. E nós estávamos esperando aqui. A gente viu que começou, em março de 2020, os casos lá no sudeste e aqui começou em 21 de março. […] Uma doença que causava medo, porque o índice de letalidade era alto. Começava com sintomas gripais, você perdia o paladar, olfato e depois perdia o corpo. Era rápido”
disse Mauro Asato.
Com a rápida propagação do vírus, os hospitais registraram um aumento exponencial de internações, e o número de óbitos cresceu. O Hospital Geral de Roraima (HGR), principal unidade de referência no estado, enfrentou dificuldades para atender a demanda.
Sintomas e grupos de risco
A COVID-19 afetou pessoas de todas as idades, mas os idosos e aqueles com comorbidades foram os mais vulneráveis. “Os pacientes obesos também tinham um agravamento maior. A dificuldade respiratória era um dos sinais mais preocupantes, e muitos chegavam ao hospital com insuficiência severa”, destacou Asato.
Além da febre e da tosse, sintomas como fadiga extrema, dores musculares e a perda de olfato e paladar foram marcas registradas da doença. Nos casos mais graves, a infecção causava comprometimento pulmonar severo, levando muitos pacientes à ventilação mecânica.
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A resposta de Roraima
Diante do avanço da pandemia de COVID-19 no Brasil, o Governo de Roraima decretou, no dia 16 de março de 2020, uma série de medidas de contingência para combater a propagação do vírus. As principais ações incluíram o fechamento das fronteiras com a Guiana e a Venezuela, a suspensão das aulas por 15 dias com a antecipação das férias escolares, além da proibição de visitas em hospitais e no sistema prisional. Também foi proibida a realização de eventos públicos com aglomeração de pessoas em todo o estado.
Em resposta à crise, a Prefeitura de Boa Vista decretou, no dia 22 de março de 2020, a situação de emergência no município. As medidas incluíam a proibição de todas as atividades comerciais, permitindo apenas os serviços de delivery, além do uso de máscara e álcool em gel.
A primeira morte por COVID-19 em Roraima
Em comparação com Manaus, que enfrentou um colapso devido à falta de oxigênio, Roraima conseguiu evitar um cenário ainda mais crítico. No entanto, o estado passou por dificuldades na estruturação hospitalar e na distribuição de insumos. A maior dificuldade, no entanto, foi o desconhecido, afinal: como enfrentar um vírus sem tratamento definido?
“Até hoje, o primeiro contato que você tem com a pandemia é o pessoal técnico de enfermagem, da saúde, médico, e que acabam sendo contaminados. Então, a primeira dificuldade foi o medo, em seguida o fato das pessoas que, depois disso aqui, iam morrer; e você não tinha nenhum tratamento, aí geraram vários riscos com relação à medicamentalização”, relembrou o infectologista, Mauro Asato, que também contraiu o vírus e ficou em estado grave na UTI do HGR.
Em meio às incertezas, 13 dias depois da confirmação do vírus em Roraima, a primeira vítima da COVID-19 em Roraima foi Edil Castro Miranda, idoso de 61 anos. Ele era servidor da Casa de Saúde Indígena (Casai) onde trabalhava como motorista.
O óbito foi confirmado no dia 3 de abril de 2020.
Desde então, segundo os dados do boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), atualizado em fevereiro deste ano, foram mais de 518 mil casos notificados, sendo 191 mil confirmados e 327 mil casos descartados. A capital, Boa Vista, registrou os maiores números entre os municípios: 148.662 casos confirmados e 210.545 descartados, conforme atualização do e-SUS. Mais de 2.200 pessoas já morreram de COVID-19 em Roraima.