Cotidiano

Com mais de 18 mil entrando pela fronteira, o foco é a Interiorização

Mais de 18.700 migrantes entraram pela fronteira de Roraima somente no mês de janeiro de 2019. Desse total, 5.817 saíram , ficando um saldo de 12.895 pessoas. Os dados são do Sistema de Tráfego Internacional (STI) da Polícia Federal, publicado no site do Ministério da Justiça.

Por conta desse grande quantitativo de migrantes que entra todos os meses no Estado é que a Operação Acolhida em Roraima pretende intensificar a interiorização já existente e parar a construção de novos abrigos. Uma das ideias da nova gestão é melhorar a governança do sistema, criando um Centro de Coordenação que una todos os atores envolvidos para troca de informações e, consequentemente, agilize o processo.

A Interiorização é o foco do novo coordenador da Operação, general Antônio Manoel de Barros. Frente ao aumento percentual de quase 400% no número de interiorizações realizadas em 2018 (cerca de cinco mil) em relação à 2019 (mais de 21 mil), ele pontuou que espera interiorizar cerca de 36 mil pessoas até o final do ano. “A meta é conseguir realizar três mil processos por mês”, explicou.

Ainda sobre a interiorização, vale ressaltar que o encaminhamento de imigrantes para outras localidades não ocorre apenas com os que vivem nos abrigos. A partir de um mapeamento feito pela Acolhida nos últimos quatro meses, foi possível constatar que, atualmente, 11 espaços são utilizados por imigrantes. Devido aos processos de interiorização, entretanto, o número de ocupantes nesses locais caiu de, aproximadamente, 3.300 para 2.800, segundo o Exército.

Como não se pode obrigar alguém a ficar em determinado lugar, o general pontuou que, nos casos dos imigrantes, o que vale é a informação que o público fornece na fronteira, assim que entra no país. “Acontece que ele pode dizer que não precisa de auxílio, mas quando chega na capital vai para um prédio abandonado. Atualmente, a maioria das repartições são do Governo do Estado, por isso a importância do apoio”, relatou.

Com o mapeamento e as estratégias discutidas, a Acolhida entrará em contato com os apoiadores, principalmente com o Governo do Estado, para que sejam organizadas as ações nos quatro tipos de espaços públicos ocupados: os que têm uma estrutura digna para atender a situação; os que precisam de alguma melhoria que possa ser corrigida de imediato; as que estão extremamente precárias, mas suportáveis; e as que não têm condições de ocupação.

A respeito dos imigrantes que ocupam esses espaços e dos relatos de que os mesmos só estariam nesses locais pela superlotação nos abrigos, o general Barros destacou que alguns deles sequer participam do processo. “Não é só por falta de espaço e não são todos os imigrantes que são envolvidos na operação. Estamos falando dos que estão em situação de vulnerabilidade e essa informação vem deles”, reafirmou.

NÚMEROS – Por dia, aproximadamente 500 imigrantes entram no Brasil e, consequentemente, em Roraima. Conforme o coordenador, parte são residentes e parte são vulneráveis. Desde março de 2018, mais de 330 mil adentraram no país. “Na fronteira os procedimentos legais são únicos, por isso o reforço de equipes e a barreira de vacinação. São ações de diversos níveis realizadas simultaneamente”, apontou. Só no ano passado, mais de 159 mil imigrantes foram vacinados e mais de 300 mil doses de vacina foram utilizadas. 

RECURSOS – Para este ano, está previsto o envio de cerca de R$280 milhões para serem utilizados durante todo o ano pela Operação, que não se resume só em abrigos, como também na interiorização e no consequente monitoramento dessas pessoas.

ESCRAVO – A respeito do caso da professora que foi condenada a dez anos de prisão por escravizar uma imigrante, o coordenador contou que a Operação Acolhida chegou a checar se a vítima estaria ligada ao processo de interiorização, mas foi confirmado que ela não passou pelo processo. “Acolhemos por uma questão humanitária e pelo fato de o brasileiro ser um povo acolhedor e miscigenado. Não quer dizer que não vamos dar atenção aos brasileiros. Felizmente este problema foi identificado pela Justiça e a lei foi cumprida”, concluiu.

Populares avaliam atuação da Operação Acolhida em Roraima


O comerciante João de Deus e a estudante de Jornalismo Júlia Rocha (Foto: Diane Sampaio/FolhaBV)

Muito se ouve falar sobre a Operação Acolhida e sua respectiva atuação em Roraima, mas nem todos têm conhecimento da Operação em si e das ações desenvolvidas. Você, leitor, considera importante a atuação da Acolhida? O comerciante João de Deus não vê importância. “Eu observo tanta gente na rua, passando aqui pelo comércio, querendo ajuda, buscando um atendimento no posto de saúde e muito mais. Pra mim então isso quer dizer que não é algo tão importante o que fazem”, disse. Na avaliação da estudante de Jornalismo Júlia Rocha, as ações são pouco divulgadas para a população. “Algumas pessoas não têm nem noção de como funcionam as coisas por lá. O que mais escuto por aí são pessoas reclamando da quantidade de imigrantes nas ruas, que eles estão lá porque são ambiciosos e não estão satisfeitos com a ajuda que o abrigo dá. Mas no fundo não sabem o que acontece, por falta de divulgação”, finalizou.