A greve dos auditores fiscais lotados na Inspetoria da Receita Federal em Pacaraima, município localizado a cerca de 200 quilômetros da capital, na região Norte do Estado, chega ao sétimo mês. Desde então, estão mantidos apenas os serviços essenciais, como a liberação de cargas perecíveis, animais vivos e atendimento a viajantes. Caminhões e carretas, por sua vez, permanecem parados no pátio do órgão.
Há quase duas semanas no local, Adenilson Alves é um dos 80 motoristas que estão dormindo nos caminhões por não poder atravessar com a mercadoria, seja para o Brasil ou para a Venezuela. Entre os mais de 150 caminhões e carretas, a maioria das mercadorias se resume em calcário, marmitas utilizadas por organizações não-governamentais e alimentos, como arroz, trigo, óleo e ovos.
Alves foi informado pelos auditores de que não há previsão para o término da greve e, consequentemente, para liberação dos veículos e mercadorias. “Vai ficando difícil porque, apesar de dormir no caminhão, as despesas de alimentação são por nossa conta. Toda sexta-feira eles dizem que vão liberar alguns veículos, quando chega ou não tem sistema, ou eles liberam duas carretas, no máximo”, disse.
Prestes a completar 20 dias na fronteira, o caminhoneiro Antônio de Andrade contou que estava vindo de Puerto Ordaz, com destino à Boa Vista, para entregar a mercadoria de calcário. Além das despesas para sobreviver no município, ele frisou que a família, que mora na capital, começa a passar dificuldades financeiras sem a presença do patriarca. “Minha família depende de mim e eu dependo dessa mercadoria. É complicado”, relatou.
Pelo fato de o caminhão estar parado no pátio da Receita Federal, ele informou que os motoristas precisam sair do local para se alimentar e, ainda assim, devem estar de volta em horário determinado pelos auditores fiscais. Do contrário, os motoristas não conseguem ter acesso ao pátio. Para ele, os motoristas estão pagando o preço da greve dos auditores, apesar de não ter nenhum tipo de envolvimento.
O proprietário da Cooperativa de Transportes Autônomos do Norte (Coopertan), José Adenir Cabral, disse que está com quase 80 veículos da frota parados no pátio da Receita. Como empresário, a principal dificuldade tem sido realizar o pagamento dos motoristas, devido à falta das entregas. “Estou perdendo motoristas porque não tenho como pagar. Dependo das carretas para trabalhar e estão impedindo isso”, destacou.
A reportagem procurou o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal em Roraima (Sindifisco), Isaac Campos, mas recebeu a informação de que ele só estaria disponível amanhã, 11.
ENTENDA O CASO – A greve dos auditores fiscais começou em outubro do ano passado, em razão da falta de regularização do bônus de eficiência da categoria por parte do Governo Federal. Em acordo com o Ministério do Planejamento, uma norma deveria ter sido publicada até o dia 31 de dezembro de 2017 com a regulamentação. No entanto, nada aconteceu até o momento. (A.G.G)