42 ANOS DE HISTÓRIA

Com raízes francesa e nordestina, conheça o município de Normandia

Normandia era um distrito pertencente ao município de Boa Vista e foi elevado com a Lei nº 7.009/1982

Normandia é um município habitado por mais de 13 mil pessoas. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Normandia é um município habitado por mais de 13 mil pessoas. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Uma história sempre tem mais de um lado e não seria diferente na criação de um dos municípios mais emblemáticos de Roraima: Normandia, aquele que teria abrigado o Pappillon. A cidade, que tem mais de 13 mil habitantes, segundo o Censo de 2022, traz na bagagem as raízes francesas e nordestinas.

Normandia começou como um distrito pertencente a Boa Vista e somente em 1982, com a Lei nº 7.009, foi elevado a município. A história, contada por moradores, é de que a região – que faz fronteira terrestre com a Guiana Inglesa e o município do Uiramutã, e aquática com a capital roraimense, Pacaraima e Bonfim – começou com nordestinos que vieram ao antigo Território Federal do Rio Branco para o garimpo de diamante.

Nivaldo Souza é filho de potiguar que se tornou pecuarista no município de Normandia. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Com o decreto de criação do município, Nivaldo relembra que Maurice Habert, um parisiense fugitivo da Ilha do Diabo, antiga Guiana Francesa, foi quem sugeriu o nome Normandia. O filho deste francês, Mauricio Habert Filho, de 77 anos, contou que esta é uma homenagem à cidade na França atacada na Segunda Guerra Mundial, em 1944.

“Ele colocou Normandia em homenagem aos aliados da Guerra Mundial. Meu pai sabia tudo o que se passava na França, [porque] naquele tempo tinha rádio de pilha. […] Ele fabricou três filhos, eu e mais dois, e contava as fugas dele. Quando ele casou com minha mãe [Iracema Galvão], ela já tinha três filhos. […] Muitos [da família] se formaram e foram para Boa Vista, […] mas eu nunca saí daqui. Meu pai fundou Normandia e eu tenho orgulho”, relembrou Maurício.

Maurício Habert Filho foi responsável por contar a história do pai Maurice em um livro intitulado de “O fundador de Normandia” junto ao escritor Damásio Douglas Nogueira. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Sem Papillon?

Maurício ainda explicou à reportagem da FolhaBV sobre o famoso Papillon, que teria passado pela região para fugir da prisão da Guiana Francesa por volta de 1935. A história é contada por Henri Charrière no livro Papillon, lançado em 1969. No entanto, segundo o herdeiro das histórias de Normandia, o fugitivo francês nunca teria pisado em terras roraimenses.

Desenvolvimento econômico de Normandia

Normandia cresceu com a pecuária e plantação de arroz. Em 1984, segundo a edição 37 do jornal Folha de Boa Vista, o município teria desenvolvido um viveiro que já havia gerado 34 mil mudas de maracujá, jambo, abacate e outros frutos, e estava se firmando como o maior produtor de tomate do Território.

Com o desmembramento de Uiramutã, em 1995, e a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, 10 anos depois, o município diminuiu a produção. Hoje a principal atividade econômica é a plantação de melancia. No entanto, outros fatores ainda fazem o município se desenvolver aos pequenos passos, principalmente sem o asfaltamento da BR-401.

“Essa estrada nós estamos esperando há mais de 30 anos. Todo governo prometem, hoje a gente só espera”, disse Nivaldo Souza, morador de Normandia.

Wenston Raposo, prefeito de Normandia. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Para o prefeito, Wenston Raposo, natural do município, Normandia tem um futuro promissor devido os rios que cercam a região e a pavimentação da rodovia. Segundo ele, o asfaltamento é um dos pilares do desenvolvimento do local, algo que estaria sendo feito para acesso às comunidades indígenas.

“Apesar desse esquecimento do passado, eu vejo um município ainda grande. As comunidades indígenas elas crescem, hoje são 105 [comunidades]. Eu vejo um município muito próspero, com potencial muito grande por causa desses rios, por causa do acesso fácil com a Guiana Inglesa. Nós temos o lago Caracaranã para movimentar o turismo. […] A expectativa é que a pavimentação asfáltica [da BR-402] comece a ser feita no ano que vem, ou janeiro ou dezembro. O mais importante é que o projeto já foi concluído e daqui para frente é licitação, que eu estou calculando[um período] de seis a oito meses”, completou Raposo.

Lar da arte

Jaider Esbell nasceu no município de Normandia. (Foto: Divulgação)

O município de Normandia também é casa de artista. Jaider Esbell, indígena Makuxi, artista, escritor e produtor cultural, nasceu e viveu por 18 anos na região que hoje é a Raposa Serra do Sol.

Para incentivar a arte, a cidade conta com o Espaço Cultural Jaider Esbell, criado pela parceria da Galeria Jaider Esbell e a prefeitura local. O espaço é destinado a realizações de exposições, cursos e oficinas para adolescentes e jovens indígenas, visando descobrir novos talentos.