ANA GABRIELA GOMES
Editoria de Cidade
Não é mais novidade a burocracia e o tempo de espera que os pacientes que precisam de Tratamento Fora de Domicílio (TFD) enfrentam. Independente de gênero, raça ou partido político, o caminho de quem utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS) e recorre a esse tipo de tratamento é o mesmo, ainda que esta pessoa seja alguém cuja responsabilidade é cuidar de outros pacientes.
Márcia Galvão chegou de Pernambuco há mais de 25 anos e por pelo menos 20 trabalhou como enfermeira no Hospital Geral de Roraima (HGR) e no município de Mucajaí. Atualmente, cumprindo atestado médico em casa, ela entra no nono mês de espera do TFD. A enfermeira foi diagnosticada com hérnia cervical em março deste ano e, desde então, espera pela cirurgia de urgência, com risco de ficar tetraplégica.
Os incômodos na coluna, no entanto, apareceram nos últimos cinco anos. A enfermeira contou que relacionou as primeiras dores à rotina no hospital. “Não trabalhamos em um ambiente salubre. Sempre estamos debruçados, de cabeça baixa ou pegando peso. Já cheguei a trabalhar doente e sozinha no HGR por conta do número reduzido de servidores. É como se o profissional de saúde não pudesse adoecer”, observou.
Nas primeiras consultas, Márcia ouviu de médicos que deveria aprender a lidar com a dor por conta do trabalho. Em uma ocasião, chegou a se recusar a trabalhar devido as dores e foi ameaçada de processo pela unidade de saúde. A enfermeira pontuou ainda que não se trata de um caso isolado. Conforme relato, inúmeros profissionais de saúde, principalmente de enfermagem, se automedicam.
Foi após uma crise que a enfermeira decidiu procurar, novamente, por ajuda médica. O diagnóstico foi dado em caráter de urgência. “A hérnia está comprimindo minha medula. Se eu cair, tossir ou fizer qualquer movimento brusco corro o risco de ficar tetraplégica. Desde então passo 24 horas por dia deitada com o cordão cervical”, contou.
Márcia não tem previsão de receber notícias sobre o TFD, mas aproveitou a oportunidade para alertar as autoridades competentes sobre a situação dos profissionais. “Meus colegas estão adoecendo e morrendo, e os problemas psicológicos são os que a gente mais vê. Não consigo entender como não existe sensibilidade em cuidar dos servidores da saúde para que eles voltem logo a trabalhar. Me sinto mal de estar em casa, deitada. Sempre gostei de trabalhar”, lamentou.
O presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem do Estado de Roraima (Sindprer), Melquisedek Menezes, confirmou à reportagem que o problema de saúde dos servidores estaduais já vem sendo discutido desde 2016 e que mais de 20 profissionais de saúde morreram nos últimos quatro anos. No mesmo ano, inclusive, houve um simpósio voltado à saúde mental dos profissionais de saúde. “É uma situação desesperadora e inadmissível. No contexto da saúde pública, os enfermeiros são os servidores que mais passam tempo com os pacientes e os menos valorizados”, destacou. Esse é um dos motivos que embasa a greve geral da enfermagem, prevista para o dia 26 de novembro.
SESAU – A reportagem entrou em contato para ter informações do TFD da enfermeira e, por meio de nota, a Sesau informou que até o momento ainda não houve nenhum retorno por parte da CNRAC (Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade) sobre a vaga requerida para o TFD.
“Por determinação o MS (Ministério da Saúde), a CNRAC é quem fica responsável por verificar a existência de vagas em unidades hospitalares para pacientes que buscam especialidades que não são oferecidas em seus estados de origem. Somente após a constatação de abertura de vaga é que a CNRAC emite o retorno para a Regulação do Estado solicitante, que toma as providências necessárias.”
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