Cotidiano

Começa teste da vacina contra a dengue

Meta é vacinar 1,3 mil voluntários dos bairros Buritis, Asa Branca, Liberdade e Pricumã

A terceira fase de testes em humanos da vacina desenvolvida para erradicar os quatro tipos do vírus da dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, iniciou na manhã de ontem, 30. A meta é vacinar 1.360 voluntários dos bairros Buritis, Asa Branca, Liberdade e Pricumã, na zona Oeste. A vacinação será realizada no posto de saúde do bairro Buritis, localizado na rua Raimundo Filgueiras, nº 661.

A Universidade Federal de Roraima (UFRR) é um dos 14 centros escolhidos pelo Governo Federal para realizar a pesquisa, que é liderada pelo Instituto Butantan, de São Paulo. A terceira etapa de testes tem o objetivo de avaliar a eficácia da vacina para futura produção em larga escala e disponibilização para campanhas de imunização em massa na rede pública de saúde em todo o Brasil.

Segundo o coordenador do projeto na Capital, professor doutor Alex Jardim da Fonseca, a dengue vem sendo encarada como um desafio de saúde pública no País. “Sabemos que a dengue é um grande desafio de saúde pública e que estamos perdendo a batalha nas últimas décadas somente combatendo o vetor, que é o mosquito. Mas essa luta vai ganhar uma grande força, que é a vacina”, disse.

A vacina foi elaborada pelo Instituto Butantan com o auxílio de um instituto de pesquisa americano. “Já está sendo há dez anos testada e já passou por duas fases em humanos. É uma vacina que já demonstrou eficácia em induzir anticorpos que protegem contra a dengue e segura em termos de efeitos adversos”, destacou.

Ele informou que a terceira fase de testes da vacina será a última. “Para liberar a vacina para a população precisamos concluir essa fase, que vai incluir 17 mil pessoas no Brasil, e coube à Secretaria Municipal de Saúde junto com a UFRR incluir 1,3 mil pessoas em Roraima”, frisou.

Os voluntários serão acompanhados durante o período de cinco anos para testar a eficácia da vacina. “Os voluntários irão receber mensagens, e-mails, ligações, além das visitas dessas pessoas nos centros de saúde para termos certeza de que não terão dengue nesse período. Para cada episódio vai haver uma equipe médica para acompanhar, fazer exames, e isso será um compromisso das pessoas de participarem e aceitarem essas condições”, ressaltou.

De acordo com o pesquisador, as duas primeiras fases de testes da vacina mostraram-se eficazes contra a doença. “A vacina já foi aprovada nas fases 1 e 2 e mostrou-se extremamente eficaz e segura. Ela conseguiu induzir na pessoa anticorpos que evitam que a pessoa tenha dengue, mas para poder liberar a vacinação temos que comprovar que quem toma vacina não pega a doença”, explicou.

A expectativa é que, após a fase de testes, a vacina comece a ser distribuída para toda a população entre 2019 e 2020. “A certeza dessa eficácia teremos daqui a cinco anos, porém o Butantan prevê uma análise interina de dados no meio do estudo porque são 17 mil participantes, então devemos ter dados já em 2019 ou 2020. Estamos torcendo para que a vacina esteja liberada nesse período, mas para isso precisamos da participação dos moradores”, disse.

Os voluntários interessados em participar dos estudos devem ter como requisito boa saúde, independente de já terem contraído ou não a dengue, e se enquadrem em três faixas etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 anos e 18 a 59 anos. Gestantes não poderão tomar a vacina.

Gestores destacam vacinação como benefício à população

Boa Vista será a única capital da Região Norte a receber a terceira fase de testes da vacinação contra a dengue. Durante o lançamento do projeto, o reitor em exercício da UFRR, Américo Lyra, reforçou a importância da colaboração entre as instituições para a pesquisa. “É importante frisar a importância da colaboração entre as instituições que traz benefícios para todos nós e fortalece o nosso papel de distribuir conhecimentos voltados ao benefício da sociedade”, destacou.

O secretário municipal de Saúde, Kleber Pinheiro, afirmou que a Prefeitura não mediu esforços para dar apoio ao projeto. “Quando a prefeitura soube do projeto, não mediu esforços para que cedesse o espaço da unidade de saúde do Buritis, assim como profissionais de saúde para que pudéssemos conseguir êxito nessa vacina”, disse.

Ele citou a economia em recursos destinados a campanhas de combate ao mosquito Aedes aegypti se comprovada a eficácia da vacina. “Para nós, é importante porque conseguiremos reduzir consideravelmente o recurso e poderemos remanejar esse recurso para atender outras demandas. Existe uma demanda reprimida grande e daqui a cinco anos tendo resultado positivo teremos como investir mais ainda na saúde”, frisou.

Voluntários se dizem esperançosos

Primeiro voluntário a participar dos testes da vacina contra a dengue na Capital, o servidor público Thiago Melville destacou que a vacina beneficiará principalmente as futuras gerações. “Participar desse projeto vai beneficiar minha família, meus filhos e futuramente meus netos. Tenho certeza que a vacina será aprovada e irá beneficiar toda a população”, afirmou.

Para ele, a vacina surge como forte aliada no combate à dengue. “A população está perdendo a guerra contra a dengue e esse projeto é bom para beneficiar as pessoas. Quero convidar a população a participar desse projeto porque a dengue é uma doença complicada”.

A técnica em enfermagem Anelita de Souza comentou que decidiu tomar a vacina para estimular outros moradores a participarem dos testes. “Eu sou moradora do Buritis e esse foi um dos requisitos para participar. Eu tenho uma amiga que trabalha no posto. Ela falou sobre essa vacina, eu me interessei e decidi participar. Acho importante porque é difícil as pessoas participarem de um projeto importante como esse. Na nossa casa tivemos muito problemas com dengue e isso nos fez querer participar desse projeto”, frisou. (L.G.C)