Cotidiano

Comércio prevê um fim de ano de crise

Associação Comercial acredita que não haverá contratação de vendedores temporários para Natal e Ano Novo

O fraco desempenho das vendas no comércio de Roraima, durante os dez primeiros meses deste ano, tem levado a Associação Comercial e Industrial de Roraima (Acir) a não ver perspectivas de aquecer as vendas nas festas de Natal e Final de Ano, datas em que tradicionalmente o comércio mais fatura. Com esse sentimento, a entidade prevê que não haverá contratação de pessoal para trabalho temporário, como acontece tradicionalmente todos os anos.   

“Teremos um Natal e um fim de ano fracos e sem perspectivas de aquecimento nas vendas”, afirmou o presidente da Acir, Joaquim Gonçalves Santiago, comparando o possível resultado de vendas deste fim de ano com o mesmo período do ano passado. “Em 2014, tivemos um Natal com vendas de razoável a boa, mas este ano a tendência é de que as vendas sejam fracas”.

Para embasar essa tendência no Estado, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Roraima (CDL/RR), Edson Freitas, citou uma pesquisa feita pelo Serviço Centro de Proteção ao Crédito (SCPC Brasil) e Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) nos estados da região Norte, incluindo Roraima, a qual aponta que de cada dez lojas que habitualmente fazia contratação temporária, apenas uma fará contratação para as vendas de Fim de Ano.

“Roraima não foge a essa regra e está nesse mesmo índice”, frisou Freitas ao complementar que esse tema foi debatido durante reuniões da Associação Comercial e o que se definiu é que não haverá contratações por parte das empresas que habitualmente costumam fazer novos contratos nesta época. “Ninguém tem perspectiva de contratar. Nem a metade do que se contratava em anos anteriores. O que se fala é que não haverá novas contratações e vão trabalhar com os funcionários que já têm”.

O presidente da Acir destacou ainda que o comércio já vem fazendo promoções e dando descontos. As vendas ainda não aqueceram devido à falta de dinheiro na mão das pessoas. “Quando a venda é no dinheiro, o cliente pode barganhar um preço melhor, mas o problema é que as pessoas estão sem dinheiro e querem comprar no cartão e dividir em seis vezes. O custo do dinheiro é muito alto e não dá para dar um desconto maior”, disse.

Nestes tempos de crise, a Acir orienta as pessoas a andarem bastante para pesquisar os melhores preços. “Façam pesquisa de preços! E onde for mais barato, tentem comprar à vista e barganhem um preço melhor!”, frisou.

Inadimplência é alta e número de consultas ao SCPC caiu

O presidente da Acir, Joaquim Gonçalves Santiago, afirmou que não vê perspectiva de melhoras nas vendas para o final do ano, em parte, devido ao alto número de inadimplentes no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). Segundo dados da Estatística de Consultas e Registros de Consultas do SCPC, ligado a Acir, este ano diminuiu o número de consultas em relação ao mesmo período de 2014. Em outubro deste ano, foram feitas 2.230 consultas contra 3.031 em outubro do ano passado.  

“A consulta acontece quando está sendo feita uma venda. Então, se temos menos consultas, quer dizer que diminuíram as vendas deste ano em relação ao ano passado”, disse Santiago. Quanto aos registros recebidos de novos nomes para a lista de inadimplentes do SCPC, em relação a outubro de 2014 a outubro deste ano, houve um aumento de 823 pessoas para 978 inadimplentes. “As famílias estão endividadas e perderam a receita. Esse final de ano será de recessão, pois as pessoas vão pegar o décimo terceiro e pagar as dívidas acumuladas durante o ano”, destacou.

Pelo menos um dado estatístico do SCPC se apresenta positivo: o de registros cancelados, ou seja, aqueles que conseguiram sair da inadimplência. Em outubro de 2014, a relação apontou apenas 1.150 registros cancelados. Este ano, o número foi de 1.386 pessoas fora da lista do SCPC. (R.R)        

Lojistas são orientados a apostar em criatividade

Os lojistas procuram alternativas para se adequarem à realidade de época de crise e da falta de dinheiro circulando no mercado. Para conquistar clientes, algumas lojas já anunciam promoções, que variam de 10% a 20%, além de melhorar a qualidade no atendimento. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Roraima (CDL/RR), Edson Freitas, o cenário que se vê no Estado é o de famílias endividadas e, para atrair o cliente, ele recomenda criatividade. “Esperamos que aconteça o aquecimento nas vendas neste período de festas de Natal e fim de ano. Os lojistas estão se preparando para isso com criatividades em suas empresas para atrair o cliente com mais qualidade no serviço, melhor atendimento, melhores preços e promoções para que se possa alcançar boas vendas e assim tire o amargor que muitas empresas viveram o ano inteiro”, disse.

Ele ressaltou que fazer promoções no final do ano já é uma estratégia habitual, porém, destacou que para este ano as promoções estão vindo mais forte. “As promoções vão variar muito de setor para setor, mas será, em média, de 10% a 20%, podendo até serem maiores, mas dentro da margem de lucro, que este ano estão bem menores”, disse.

“Essa foi a proposta discutida nas reuniões entre os mais de 200 associados da CDL. Encaminhamos essa proposta aos demais lojistas do Estado, inclusive para a Associação Comercial e Industrial de Roraima e até para outros setores, como os sindicatos de lojas de informáticas, eletrodomésticos e de concessionárias de veículos”, complementou.

Ele afirmou que a preocupação com a recessão nas vendas é discutida nas reuniões mensais da CDL. “Tivemos um ano de recessão, e a perspectiva é de aquecer as vendas agora no final de ano”, disse ao destacar um fato curioso. Apesar de recessão, pesquisas mostram que Roraima aponta saldo positivo nas contratações e abertura de novos postos de trabalho.

“Acredito que isso se dá pelo período que passamos de crescimento em Boa Vista com a chegada de novas empresas, através dos dois shoppings, e outras empresas da linha de supermercados que estão abrindo filiais, então, isso fez surgir novas contratações”, disse.

Porém, o lojista afirmou que, se de um lado o mercado cresce com a vinda das grandes lojas, do outro, o pequeno empresário acaba sentido a queda no faturamento devido à migração de clientes para estas grandes redes. “Essa migração acontece até por questão de bom atendimento, melhores preços, qualidade dos produtos. E isso tem sido uma das coisas que temos debatido junto aos associados: que melhorem seu atendimento e revejam seus custos e margem de lucro”, frisou. (R.R)