O comércio em Boa Vista vem registrando sucessivas quedas nas vendas depois que a crise econômica se agravou. A situação só vem piorando, há alguns meses, com o atraso no pagamento de boa parte dos servidores públicos. Dependendo da chamada “economia do contracheque”, muitos empresários ainda mantinham expectativa de aumento nas vendas no Dia das Crianças, comemorado hoje.
No entanto, essa expectativa foi frustrada diante da decisão do Governo do Estado em parcelar o pagamento dos servidores este mês. Com isso, somado à crise, os lojistas dizem que o volume de vendas apresentou uma queda de 50% se comparado ao mesmo período do ano passado. Antes, a saída encontrada por muitos era apostar em promoções. Hoje os comerciantes falam em redução de custos e corte de gastos.
O atual cenário econômico, unido às medidas adotadas pelo comércio para a redução de custos, contribuiu para o aumento do desemprego. “Eu mantinha seis funcionários em duas lojas, uma no Centro e outro aqui, na avenida Ataíde Teive [zona Oeste]. Tive que dispensar três diante da queda nas vendas”, disse o proprietário de lojas de eletrônicos e brinquedos, Manoel Vianei.
Segundo ele, a queda nas vendas vem se acentuando nos últimos meses diante das dificuldades do funcionalismo público com salários atrasados. “Não sentimos mais o efeito do pagamento dos servidores no comércio.
É como se o salário deles não tivesse sido pago. A gente até esperava aquecimento nas vendas nesta data comemorativa, mas não foi o que percebemos, ainda mais depois do pagamento parcelado”, disse o empresário, que atua há cerca de 20 anos no mercado.
“Antes os pais levavam os filhos para as lojas. Hoje em dia, eles até evitam trazer os filhos porque muitos não estão tendo condições de comprar o que as crianças desejam”, comentou ao frisar que a saída é deixar de investir em mercadorias e enxugar os custos.
Não foram apenas as lojas de brinquedos e eletrônicos que sentiram os efeitos da crise. O proprietário de uma loja de confecção, Frutuoso Borges, disse que durante seus 16 anos de comércio no bairro Asa Branca, Zona Oeste, nunca viu uma crise tão grave como nos dias atuais. “Os clientes sumiram, e agora, com os salários dos servidores parcelados, nossas expectativas não serão atingidas, pois passamos o mês inteiro esperando o pagamento para poder vender”, lamentou o comerciante ao mostrar um estoque de roupas infantis para serem comercializadas.
Já em uma loja de confecção na avenida Jaime Brasil, no Centro, o gerente Leonardo Rodrigues acredita que as promoções podem minimizar os efeitos negativos. “São os efeitos negativos da crise, com atrasos e parcelamento no pagamento dos servidores públicos, bancos que estavam em greve”, disse. (A.D).