Cotidiano

Comoção e dor marcam dia seguinte a explosões em empresa

O acidente na distribuidora de gás e oxigênio vitimou quatro pessoas e deixou outras duas jovens feridas

AYAN ARIEL e JOÃO BARROS

Editoria de Cidades

Boa Vista ainda está em choque por conta da tragédia ocorrida nesta terça-feira, 15, em uma distribuidora de gás e oxigênio localizada no bairro São Vicente, que vitimou quatro pessoas e deixou duas outras feridas.

A dor e a comoção foram os principais sentimentos visíveis entre familiares e conhecidos das vítimas, uma das quais foi enterrada na tarde desta quarta-feira, 16, no Cemitério Campo da Saudade.

O empresário Plínio, um dos mortos na tragédia, deixa esposa e dois filhos. O cunhado dele falou com a nossa equipe e disse que todos ainda estão chocados com o que aconteceu.

“Ele era trabalhador e um entusiasta, sempre crente em um futuro melhor. Quem o conhecia sabe que ele estava sempre pronto a ajudar o próximo. A palavra tristeza não existia em seu vocabulário, seu semblante era sempre alegre e contagiava todo o ambiente em que ele se encontrava”, relata o cunhado.

O Instituto de Medicina Legal tinha liberado até o início da tarde desta quarta-feira apenas três corpos das vítimas, pois o corpo do auxiliar de produção Ariel Mateus da Silva, de 20 anos, que havia sido desmembrado durante a explosão, não havia sido identificado.

Conforme as informações apuradas pela Folha, o braço que caiu no meio da avenida Glaycon de Paiva e a perna encontrada no quintal de uma residência próxima ao local do acidente, eram do rapaz. Além disso, seu tronco também foi achado em cima de uma árvore. No fim da tarde de ontem, os familiares fizeram a liberação para realizar o funeral e o sepultamento.

A vítima estava trabalhando na empresa há pouco tempo e tinha planos de sair de lá para conseguir um emprego melhor, informou a tia. O caso está sob investigação e o laudo dos Bombeiros sobre as causas das explosões ficará pronto em até 30 dias. 

Moradores e empresários da redondeza tentam voltar à rotina


Donos de um quiosque-restaurante do Mercado Romeu Caldas, o casal Maria Francisca Almeida e Jesus Rosalez fala sobre a tragédia (Foto: Wenderson Cabral)

Com o perigo totalmente descartado, o movimento próximo do local onde ocorreu o acidente volta, aos poucos, ao normal. O fornecimento de água e energia foi restabelecido e no Mercado Municipal Romeu Caldas o comércio voltou a funcionar. 

Os moradores e empresários nas proximidades da distribuidora foram os que mais sentiram o impacto das explosões sequenciadas. Donos de um quiosque-restaurante do Mercado Municipal Romeu Caldas, o casal Maria Francisca Almeida e Jesus Rosalez comentou que acharam que as explosões poderiam trazer abaixo o Mercado, que já é bastante antigo. “Ainda bem que essa estrutura que temos aqui é bastante forte e resistente, mas ainda lamentamos muito pelo ocorrido”.

Pedro Carneiro, de 72 anos, é vizinho do local onde ocorreu o acidente há 45 anos e estava com sua mulher Joana, de 64 anos, e a neta Sara Vitória, de 10 anos. Ele conta que há muitos meses se ouvia um chiado. Porém, como acreditava ser normal o barulho, nunca pensou que isso poderia acontecer ao lado de sua casa e conta que os moradores registraram boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial. 

“Eu estava na parte de fora e minha mulher estava lá dentro quando ouvi aquele estrondo. Fomos de encontro um ao outro. Aí veio o outro estrondo e saímos para rua, quando os bombeiros chegaram e pediram para irmos para depois da escola.”

Empresa emite comunicado sobre apoio a vítimas

O advogado da Oxigênio Centro Norte disse que a empresa deve se manifestar nesta quinta (17) sobre o assunto. Em nota de pesar, a empresa informou que dá apoio aos familiares das vítimas e colabora com as autoridades para esclarecer o que ocasionou a tragédia “Estamos dando todo apoio aos familiares das vítimas, além de estarmos colaborando com as autoridades para esclarecer o que ocasionou tal tragédia’. [Confira abaixo nota na íntegra].

NOTA DE PESAR

Com imenso pesar, a Oxigênio Centro Norte se solidariza com os familiares e amigos das 4 vítimas que faleceram no acidente que ocorreu na loja, na manhã desta terça feira (15), e com todos os atingidos com esta fatalidade. Faleceram 3 funcionários e um amigo.

Ariel Mateus da Silva (funcionário)

Plínio Ricardo Anderson Rogelio Schuertz (funcionário)

Yorvis de Jesus Leon Alchada (funcionário)

Emanoel Batista Silva (cliente)

Nossos funcionários e amigo partem deixando-nos muitas lições de amizade, profissionalismo, ética e humanidade. Sem eles, a empresa perde um pouco do seu brilho, alegria e cor.

Nós, proprietários, vivenciamos tudo isso junto com os nossos funcionários, pois estávamos na loja no momento da explosão dos cilindros, por isso, ainda chocados, não temos palavras para expressar os nossos sentimentos diante desta tragédia.

Pedimos a Deus que conforte o coração dos familiares, amigos e ilumine a todos que sofrem esta enorme perda. Esperamos que a fé nos fortaleça neste momento de dor e sofrimento.

Informamos ainda que estamos dando todo apoio aos familiares das vítimas, além de estarmos colaborando com as autoridades para esclarecer o que ocasionou tal tragédia.

Muito respeitosamente, prestamos as nossas condolências e deixamos os nossos mais sinceros pêsames.

Defesa Civil e Prefeitura dizem que empresa estava sem licenças

O diretor da Defesa Civil Estadual, Cleudiomar Ferreira, confirmou que o auto de vistoria da empresa, certificando que ela segue regras estaduais de combate e prevenção de eventuais incêndios, estava vencido. Ele adiantou que “mesmo que a empresa estivesse com laudo em dia, não seria possível evitar o acidente, que não foi provocado pela falta de sistema de prevenção de incêndio, tanto é que os primeiros combates foram feitos usando o sistema de hidrante da própria empresa”, disse.

Os bombeiros estão em busca de imagens do sistema de segurança para verificar o momento em ocorreu a primeira explosão.

“É importante saber o que provocou a explosão dos cilindros”, ressaltou o diretor. As áreas afetadas pelas explosões ainda não foram mapeadas, mas o diretor disse que algumas casas e empresas próximas apresentaram danos.

A distribuidora também não possuía alvará de funcionamento. A informação foi repassada em coletiva de imprensa pela procuradora-geral do município, Marcela Queiroz, que confirmou que uma equipe de fiscais ambientais chegou a fazer uma vistoria na empresa, o que não impediu o funcionamento da mesma. Apesar disso, nenhuma notificação ou multa foi aplicada aos responsáveis.