Cotidiano

Comunidade alvo de ataques em 2021 recebe novas ameaças, diz liderança

Indígenas da Comunidade Palimiú viveram ao menos um mês de tensão com ataques a tiros e bombas de gás lacrimogêneo. A Polícia Federal reforçou a segurança no local, afirma o presidente do Condisi-YY, Junior Hekurari.

Alvo de ataques por ao menos um mês em 2021, a Comunidade Palimiú, na Terra Yanomami, recebeu novas ameaças, conforme o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Junior Hekurari.

A comunidade fica na região de Alto Alegre, às margens do rio Uraricoera, principal via fluvial do garimpo ilegal para dentro da reserva. O primeiro relato de ataques em Palimiú, em 10 de maio de 2021, foi de que três garimpeiros morreram e quatro ficaram feridos no. Um indígena também chegou a ser atingido com um tiro na cabeça, mas sobreviveu.

“A Polícia Federal está em Palimiú, pois recebemos informações de ameaças na comunidade. A gente recebeu essa informação dos Yanomami, que os garimpeiros ameaçaram atacar o Palimiú. Por isso, foi reforçado [a segurança] pela Polícia Federal”, disse Junior.

A segurança na comunidade Uxiú, onde um ataque a tiros no sábado (29), deixou um indígena morto e dois feridos, também foi reforçada, conforme Junior. Uma equipe da Força Nacional chegou na região na manhã dessa segunda-feira (1º). O corpo do agente de saúde, Ilson Xirixana, de 36 anos, também foi recebido pelos indígenas pela manhã.

Governo vai ajustar e intensificar ações de combate ao garimpo


Comitiva interministerial chegou em Roraima nessa segunda-feira (1º) para avaliar e fazer ajustes nas ações de combate ao garimpo – Foto: Nilzete Franco/FolhaBV

Com os novos ataques e ameaças, o governo federal pretende realizar ajustes e intensificar a operação para expulsar garimpeiros do território Yanomami. Uma comitiva interministerial desembarcou em Roraima nessa segunda-feira para avaliar a situação.

O setor de inteligência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) identificou fortes indícios que alguns pontos de garimpo são mantidos por organizações criminosas, segundo informou o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho.

Até o momento, foram destruídos 330 acampamentos de garimpo e apreendidas 20 aeronaves, além de diversos litros de combustível e toneladas de minérios, em especial cassiterita.

“Isto está sendo investigado, nós não temos ainda informações para adiantar. Uma das pessoas que veio a óbito nas operações ontem [30 de abril], tinha um envolvimento muito forte com uma das organizações criminosas. Isto tudo vai ser apurado dentro do inquérito federal, conduzido pela Polícia Federal. Mas o que posso dizer para vocês é que o Ibama acredita que está no caminho certo”, afirmou Agostinho.

Após sobrevoar o território Yanomami, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que viu diversos garimpos desativados, no entanto, os satélites de monitoramento apontam que outros continuam em funcionamento. Conforme ela, a visita interministerial serve “para mostrar que o Estado brasileiro não vai recuar face à criminalidade”. 

“As ações, como já foi dito pelo Ministério da Justiça, pelo secretário Tadeu [Alencar], elas vão ser intensificadas. Vamos reforçar as equipes do Ibama, da PRF, da Polícia Federal, com o suporte das Forças Armadas, que é fundamental no suporte logístico, toda a parte operacional para que a gente possa dar uma resposta à altura”, salientou a ministra.

Marina também informou que uma reunião deve ocorrer nesta terça-feira (2) para que os ministérios dos Povos Indígenas, Meio Ambiente, Saúde e da Justiça definam de que forma as ações serão intensificadas.

Segurança para servidores da saúde 

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, lamentou a morte do agente indigena de saúde. Em Boa Vista, ela visitou as duas vítimas sobreviventes, Otoniel Xirixana e Venâncio Xirixana, no Hospital Geral de Roraima (HGR). Ambos estão fora de perigo. Nisia elogiou a equipe que fez os resgates e salientou que é necessário garantir segurança a esses profissionais.

“O ataque ocorreu próximo a uma unidade de saúde que conseguimos abrir recentemente. Isso coloca, para nós, a necessidade, ao lado do cuidado com a saúde dos indígenas, o cuidado com aos trabalhadores da área. Precisamos cuidar de quem está cuidando”.

Sem violência

Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, salientou que a intenção do governo federal é que a expulsão dos garimpeiros da Terra Yanomami ocorra de forma pacifica e sem “derramamento de sangue”. No domingo (30), quatro pessoas morreram em confronto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Ibama. Um deles era foragido do Amapá.

“A nossa preocupação é que tudo aconteça da forma mais pacífica possível. A gente não está, de forma alguma, incentivando esse conflito, não queremos derramamento de sangue. É por isso que a gente vem aqui, mais uma vez, para trazer essa presença do Estado brasileiro e reforçar a operação de libertação dentro do território Yanomami”, destacou.