Cotidiano

Comunidade pede providências para a BR-174

Líder da comunidade Nova Esperança afirma que dezenas de índios morreram atropelados e que comunidades não vão mais tolerar descaso

A comunidade Nova Esperança, situada na Terra Indígena São Marcos, no trecho norte da BR-174, no Município de Pacaraima, procurou a Folha para se posicionar sobre o acidente que matou uma criança indígena e que gerou protestos, com bloqueio da estrada. O líder da comunidade, Alfredo Silva Wapichana, disse que considera legítimas as manifestações na rodovia federal.
O atropelamento que vitimou uma menina de 8 anos ocorreu na noite do dia 20, provocado por um taxista que se dirigia para a sede de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, em alta velocidade. Durante os protestos, os indígenas pediram a implantação de redutores de velocidade e sinalização ao longo do trecho das áreas habitadas da BR.
Os indígenas bloquearam e quebraram 12 pontos do asfalto da estrada que dá acesso à fronteira com a Venezuela. Alfredo Silva, da comunidade Nova Esperança, disse que as manifestações contaram com o apoio de outras comunidades vizinhas. “A escavação na estrada é para mostrar à opinião pública que a situação é séria”, defendeu.
Segundo ele, ao longo dos últimos 15 anos, conforme levantamento feito pelas comunidades, foi constatada a perda de quase 30 vidas de indígenas atropelados na região. “Refiro-me também ao entorno, lógico. É por isso que outras comunidades se manifestaram no mesmo ato do ‘corte’ da estrada. É uma questão que atinge a todos dali”, relatou.
A preocupação das comunidades da região era chamar a atenção para que os órgãos competentes olhem com responsabilidade a situação grave que os habitantes daquela região enfrentam diariamente. “A medida foi drástica, porém necessária. Ao longo destes 15 anos, foram feitas várias manifestações, inclusive documentais, feitas por várias comunidades. Não foi apenas a nossa”, disse, mencionando o caso da comunidade de Sorocaima I, onde duas meninas morreram atropeladas anos atrás. Após o fato, dois redutores de velocidade foram instalados na região pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Trânsito (Dnit).
Alfredo Silva ressaltou que busca uma negociação com as autoridades responsáveis pela estrutura da rodovia. “Queremos deixar claro que a BR é patrimônio da União. As terras indígenas também, ainda que estejam sob posse dos povos. A estrada passa justamente na nossa terra e estamos preservando vidas. Acreditamos que é nosso dever, como líderes, defender os interesses dos povos”, frisou.
“O que posso falar em nome da comunidade é que estas situações já não serão toleradas. A resposta é concreta e um sinal claro de que trabalharemos para que nossa segurança seja garantida”, frisou o líder da comunidade.
DNIT – A Folha não conseguiu contato com a Superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Anteriormente, o superintendente do órgão, Pedro Christ, afirmou que o Dnit não concorda com o tipo de atitude das comunidades e que sempre atuou na melhoria da trafegabilidade e da segurança da rodovia federal. “Não há necessidade nenhuma de a comunidade realizar danos ao patrimônio como os que provocou”, declarou, na segunda-feira passada.
Na ocasião, Christ explicou que não caberia ao Dnit autuar as pessoas que danificaram a rodovia. Afirmou ainda que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal seriam notificados pelo Dnit sobre o caso. (JPP)