O consórcio que integra as empresas Oliveira Energia e a distribuidora de combustíveis Atem arrematou com a melhor oferta a Boa Vista Energia no leilão das distribuidoras da Eletrobras realizado ontem, 30, na Bolsa de Valores de São Paulo. O consórcio foi o único a oferecer proposta pela distribuidora de Roraima e venceu o leilão pelo lance mínimo.
Ao conquistar a Boa Vista Energia, com lance ao índice “zero”, sem deságio para a flexibilidade tarifária ou pagamento de outorga, o grupo se comprometeu a pagar cerca de R$ 45 mil pelas ações da empresa e ainda a realizar um aporte de R$ 176 milhões.
O principal executivo da Oliveira Energia, Orsine Oliveira, explicou durante coletiva de imprensa que eles se prepararam há um certo tempo para o leilão.Segundo Oliveira, as empresas têm “suporte de caixa”, mas ainda avaliarão opções de financiamento. A distribuidora de Roraima era considerada uma das mais difíceis de serem arrematadas, justamente por não estar interligada ao sistema elétrico brasileiro e sua geração depender de importações da Venezuela.
A dívida acumulada da Boa Vista Energia é de R$ 1,2 bilhão, que foi assumida integralmente pela Eletrobras, por decisão do Conselho de Administração. Ou seja: o consórcio não terá que pagar essa dívida, ficando com os ativos da empresa, que valem milhões de reais.
Quem é a Oliveira Energia
A empresa que adquiriu a preço de carro popular a Boa Vista Energia tem sede em Manaus e passou de modesta revendedora de motores de barco, para operadora geração de sistemas isolados (geração termelétrica), administrando cerca de quarenta usinas termoelétricas no Amazonas e em Roraima. O braço de geração do grupo Oliveira já detém 80% do parque termoelétrico que abastece Boa Vista e afirma ter combustível suficiente para garantir por, ao menos 15 dias, o abastecimento do estado, em caso de emergência.
O consórcio Oliveira-Atem é formado por uma empresa de geração de energia que opera térmicas para os sistemas isolados da região Norte e por uma distribuidora de combustíveis, respectivamente.
As empresas, portanto, não possuem experiência na operação de concessionárias de distribuição. O grupo vem sendo assessorado pelo engenheiro Flávio Declat, ex-presidente de Furnas, subsidiária da Eletrobras, que possui longa experiência no setor elétrico, com passagens pela Eletrobras e Cemig.
Orsine Oliveira afirmou em entrevista coletiva a imprensa que “eles foram escolhidos por Deus para essa vitória”. “Trabalhamos longamente no projeto, somos conhecedores da região. Fomos escolhidos por Deus. Nós somos crentes de Deus, nossa missão é levar qualidade de energia para o povo de Roraima”, disse.
Questionado sobre a inexperiência da empresa no segmento de distribuição (já que a empresa hoje atua principalmente com geração), Oliveira afirma que “distribuição não é coisa de outro mundo” e que vão “aprender bem rápido”.
“Nós estamos em Boa Vista há seis anos. Nossa empresa tem 40 anos de vida, 25 no setor de energia. Achamos que é um segmento que dá rentabilidade. Vamos trabalhar muito, contratar pessoas especializadas”, disse o presidente do grupo, afirmando ainda que uma das primeiras iniciativas da empresa será construir uma nova usina de 60MW para melhorar o fornecimento de energia no estado.
Investimento e Passivo
A privatização das distribuidoras deve levar a um novo ciclo de investimentos, indicou o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira. Segundo ele, os investimentos nos sistemas de distribuição devem alcançar R$ 1,5 bilhão nos próximos cinco anos.
Os novos proprietários da Boa Vista Energia têm obrigação inicial de aporte de capital de cerca de R$ 176 milhões para cumprir as metas de qualidade e os recursos para os investimentos iniciais virão do próprio caixa do grupo. Além dos investimentos, a venda deve levar a uma redução dos passivos da estatal da ordem de R$ 2,8 bilhões, que passará a ser passivo das empresas.
Aneel diz que empresa será averiguada
Questionado sobre a vitória de um grupo sem experiência de distribuição de energia no leilão, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, disse que a Oliveira Energia está comprando toda a estrutura da concessão de Roraima no leilão, inclusive funcionários. Ele também afirmou que a qualificação da empresa será averiguada pelo regulador no momento de aprovar a transferência da concessão. “Vamos seguir o que está na regulamentação e ver se, item a item, atende a contento”, disse.