Cotidiano

Construção de banheiros e lavanderia vão favorecer acolhida a migrantes 

A cidade de Pacaraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela, é município com maior taxa de crescimento da população no país, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2017, foram registrados 12.375 habitantes e em 2019, estima-se um número 17.401 pessoas, um aumento de mais de 40%.

De acordo com os dados da Organização Internacional para Migrações (OIM), em julho de 2019, cerca de 642 pessoas estavam desabrigadas, vivendo nas ruas e praças de Pacaraima. Em dezembro, o número de pessoas nas ruas diminuiu por conta das festividades natalinas. Nessa ocasião muitos migrantes retornaram à Venezuela para ficar junto às famílias. Passado esse período, os números devem voltar a crescer nos primeiros meses de 2020.

Diante dessa realidade na fronteira, a Cáritas Brasileira em parceria com a Cáritas Diocesana de Roraima, apoiadas pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), implementaram o projeto Orinoco: Águas que atravessam fronteiras. A iniciativa tem o objetivo de oferecer para a população migrante em situação de rua, água, saneamento e promoção de higiene, por meio da construção de banheiros sanitários, chuveiros, abastecimento de água e lavanderias.

Dois pontos já foram construídos em Boa Vista: um na Igreja de Santo Agostinho, no bairro Pricumã, outro na Igreja Nossa Senhora da Consolata, bairro São Vicente. As instalações ficam próximas à Rodoviária Internacional de Boa Vista, ponto focal de circulação de migrantes e refugiados. 

Já em Pacaraima, a construção das instalações, no Centro de Formação Comunitária da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, começou em dezembro de 2019. No local, serão disponibilizados 08 banheiros sanitários, 08 banheiros com chuveiros, 14 lavatórios com pias, fraldário, 02 máquinas industriais de lavar roupas, 01 secadora industrial de roupas, 01 bebedouro de 200 litros, sistema de captação de água da chuva e sistema de painéis solares. A previsão é que as instalações sejam inauguradas ainda no final de fevereiro de 2020. 

Segundo a assessora nacional da Cáritas Brasileira para emergências, Cristina Luthner, o projeto disponibiliza instalações sanitárias de qualidade para migrantes e pessoas que se encontram em situação de rua ou vivendo em ocupações improvisadas. “Para ajudar nessa acolhida e dar um pouco mais de dignidade a essas pessoas, o projeto Orinoco, está construindo instalações, para oferecer acesso a condições sanitárias de qualidade. O Orinoco se preocupa ainda com os impactos ambientais, por isso, contará com um reator anaeróbio para tratamento do esgoto gerado na instalação e painéis solares para a lavanderia. O projeto busca trazer um pouco de conforto e melhoria de saúde pública, tanto em Pacaraima como em Boa Vista”, destacou.

Saúde e dignidade – A missionária Ana Maria da Silva, da congregação de São José de Chambery, está há quase dois anos em Pacaraima, colaborando com os trabalhos humanitários da Igreja Católica com migrantes e refugiados. Para ela, o projeto vai dar a dignidade que essas pessoas merecem. “Na realidade hoje, eles lavam roupas e tomam banho em poças de lama. Mesmo com o rio e riachos aqui em Pacaraima, os migrantes não conseguem tomar banho porque são rechaçados pelos brasileiros que ficam atirando pedras neles. Muitas pessoas vêm aqui na minha casa pedir remédios para doenças de pele e tudo isso por lavar roupas e tomar banhos em águas paradas. Por isso, a possibilidade de lavar roupas e usar banheiros com água limpa e sabão vai dar dignidade e melhorar a saúde desses migrantes”, disse a missionária.

Próximo a construção vive o venezuelano Angel Medina, de 29 anos. Ele a esposa e as duas filhas, com três e um ano de idade, chegaram a Pacaraima no dia 25 de dezembro do ano passado, com esperança de dias melhores. Mas não foi exatamente o que aconteceu. O migrante vive fazendo pequenos bicos e vendendo café nas ruas da cidade fronteiriça. Ele contou que muitos compatriotas são explorados e fez um apelo: “A ONU precisa tomar alguma medida, precisamos receber o justo pelo que trabalhamos”, desabafou. Quando soube da construção das instalações em Pacaraima, Medina confirmou as dificuldades enfrentadas para as famílias migrantes que chegam em Pacaraima. “Aqui a vida não é fácil e esse espaço vai ajudar muitas famílias”, concluiu.