Cotidiano

Consumidores evitam compras no crediário

Momento de incerteza na economia e medo de demissão no trabalho são fatores que levam as pessoas a evitarem compras parceladas

O efeito da crise e a instabilidade econômica que afligem o país provocaram reflexos no consumidor roraimense, que está mais cauteloso em relação a compras no crediário. O gerente de uma das lojas da rede que vende eletrodomésticos, Vanei Oliveira Alves, disse que as vendas à prestação caíram aproximadamente 30% nestes dois primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2015. “A crise chegou forte em Roraima e estamos com dificuldade de vender no crediário”, disse.

Ele afirmou que boa parte da clientela que compra em várias prestações tem apresentado outra postura e pensa bem antes de entrar em outra compra parcelada. “As pessoas estão com receio de comprar no crediário e dizem que têm medo de comprar em muitas prestações e vir a perder o emprego, ficando sem condições de pagar a dívida depois. A opção do cliente hoje é querer comprar à vista, barganhar um desconto e não assumir dívidas”.

Segundo o gerente, a crise no setor de eletrodomésticos começou a ser sentida ainda em 2015 e aumentou no início de 2016. Porém, ele ressaltou que tem perspectiva de melhoras, já que o ano de venda de eletrodomésticos começa depois de fevereiro.

“Temos os meses anteriores de novembro e dezembro bons, mas depois vêm janeiro e fevereiro, que são meses em que os recursos familiares são dedicados a outras opções. Neste início de março já deu para sentir uma melhora, mas é aquele movimento nos dez primeiros dias do mês em que os servidores recebem o salário, depois as vendas enfraquecem”, frisou.

Para reconquistar os clientes, a loja tem apostado em promoções de descontos de 30% nas compras à vista ou em uma vez no cartão. “Dar um desconto de 30% em toda loja, com mercadorias perfeitas e sem avarias, é algo que não se vê em nenhum lugar do comércio de Boa Vista. E isso fez aumentar as vendas e pensamos até em prorrogar a promoção”, disse.

ALERTA – O endividamento das famílias brasileiras está ligado a compras por impulso, prestações a perder de vista e, principalmente, pelo uso indiscriminado do cartão de crédito, já que as taxas para uso do crédito rotativo do cartão atingiram uma média de 454% ao ano, segundo informou o economista Raimundo Keller.

Neste período de crise e incertezas na economia do país, no qual muitas pessoas têm perdido seus empregos, Keller adverte os consumidores que evitem compras em crediário, principalmente os usuários de cartão de crédito, que evitem entrar na ciranda dos juros e sempre tentar pagar a fatura completa.

Outro alerta é sobre as compras por impulso, que muitas vezes acabam aumentando o endividamento com compras que poderiam ser evitadas. “A crise econômica esta batendo a nossa porta. São muitas pessoas que da noite para o dia perderam seus empregos ou tiveram seus salários reduzidos para poder manter o emprego. Neste momento, o melhor é não arriscar fazer compras à prestação, pois além de sair mais caro, corre o risco de ficar desempregado e não poder pagar a dívida”, disse.

Keller orienta que o melhor para o momento é tentar fazer uma poupança e comprar o objeto desejado à vista. “Com o dinheiro em mãos, é mais fácil conseguir um bom desconto com o gerente da loja e o comprador ainda fica livre das prestações mensais”, disse.

Ele também criticou a morosidade da equipe econômica da Presidência da República em apresentar uma solução para amenizar a crise e o país voltar a ter crescimento. “Até agora a equipe econômica não apresentou nenhuma evidência de que a curto ou em longo prazo vamos voltar a ter crescimento econômico no País. Enquanto isso, quem sofre é o trabalhador, é o empresário que vê seu faturamento de vendas cair e ter que demitir”, frisou.