Na manhã deste domingo, em entrevista ao programa Agenda da Semana, o coordenador-geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai (CGEtno), Jefferson Fernandes do Nascimento, explicou os desafios e perspectivas de sua atuação no cargo, assumido no início de dezembro. Segundo ele, a principal missão de sua coordenação é promover a produção sustentável, geração de renda e fortalecimento da autonomia nas terras indígenas.
“O foco principal do etnodesenvolvimento é fazer a coordenação nacional de todos os territórios indígenas, com ações voltadas para a produção de renda, sustentabilidade e comercialização”, destacou. Fernandes, que também é agrônomo, enfatizou que seu perfil técnico foi determinante para assumir a função.
Sustentabilidade como base
Durante a entrevista, o coordenador ressaltou que a sustentabilidade ambiental, social e alimentar é uma prioridade nos projetos da Funai. “Não se trata apenas de produção, mas de garantir que os territórios tenham condições de manter sua autonomia e proteger suas características culturais e ambientais”, afirmou.
Ele mencionou os altos índices de diabetes e hipertensão em algumas populações indígenas como os Xavantes, o que reforça a necessidade de um planejamento alimentar adequado.
“Imagine um território que, há 40 anos, não tinha açúcar. Hoje, as crianças crescem comendo produtos industrializados, como salgadinhos. Isso impacta diretamente na saúde dessas populações”
Roraima em destaque
Fernandes também apresentou dados sobre a população indígena no Brasil, apontando que cerca de 689 mil pessoas vivem em terras indígenas, sendo que Roraima concentra as maiores comunidades, como Yanomami e Raposa Serra do Sol, cada uma com mais de 25 mil pessoas.
Além disso, destacou que projetos como o cultivo de café e a produção de artesanato e turismo em comunidades locais estão em andamento. “Temos dois projetos sendo executados aqui em Roraima, enquanto outros dois ainda estão em fase de reestruturação para atender aos critérios exigidos”, explicou.
Diversificação e desafios
Ao abordar questões de arrendamento e monoculturas, Fernandes destacou que o papel da Funai não é estimular culturas específicas como a soja, mas sim diversificar a produção.
“Dentro de um território indígena, a diversificação é essencial para garantir sustentabilidade. Estamos trabalhando para diminuir o arrendamento irregular e empoderar as comunidades com tecnologias próprias”
Ele citou o exemplo dos Pareci, em Mato Grosso, que abandonaram o arrendamento após adquirir expertise técnica. “Hoje, eles são referência em produção de soja dentro dos territórios, sem arrendamentos”, afirmou.
Para o ano, a CGEtno tem como meta ampliar a viabilidade de projetos e capacitar as comunidades para elaborar propostas que atendam aos requisitos da Funai. A expansão das coordenações regionais também será um passo importante para atender a demandas locais.
“Nosso papel é garantir que essas populações sejam protagonistas de suas próprias histórias, respeitando sua cultura e buscando soluções sustentáveis para os desafios que enfrentam”.