Cotidiano

Coordenador da Funai diz ter sido mal interpretado sobre declaração

O coordenador-geral da Frente de Proteção Yanomami e Ye’kuana, da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Catalano, retificou ontem o que disse a respeito do Monumento do Garimpeiro, no Centro de Boa Vista. Ele havia proposto a demolição da estátua que, segundo ele, faz apologia ao crime de garimpagem, mas agora ele afirma que essa demolição seria apenas no campo ideológico.
“Na verdade, a proposta foi levantar esta discussão: a garimpagem ilegal em Roraima, principalmente em terra indígena. A demolição que proponho é a ideológica. Temos que observar que a atividade ilícita do garimpo não é opção de desenvolvimento econômico do Estado”, afirmou.
O coordenador também disse que falou como historiador e indigenista, e não em nome da Funai. “Tenho 20 anos de Roraima e sei o mal que o garimpo fez a esta terra. É preciso discutir a degradação ambiental e o desrespeito aos povos indígenas. Temos que pensar em alternativas econômicas, e não defender a garimpagem ilegal e seus criminosos”, retrucou.
Catalano admitiu que a estátua ali, onde está, não faz mal a ninguém, mas o garimpeiro que está usurpando a riqueza do povo, este sim, prejudica não apenas os índios, mas toda a sociedade. “Esses que defendem a garimpagem ilegal e seus criminosos deveriam ir até uma área de garimpo para ver o que eles fazem, a destruição que cometem ao meio ambiente. Aí, eu queria ver se teriam argumentos para defender esses criminosos”.
O coordenador mais uma vez alertou as autoridades: “Os rios estão poluídos, a floresta é derrubada e o solo é revirado. A área fica totalmente degradada, destruída e a natureza levará séculos para recuperá-la. O empresário da garimpagem ilegal, que não é roraimense, vai embora depois levando o ouro deste povo. E ainda tem gente aqui que defende isso?”.
Também lembrou que crimes hediondos acontecem com frequência nas áreas de garimpo, nas terras indígenas em Roraima, como tráfico de drogas, de armas, trabalho escravo e até estupro de crianças indígenas. “Tudo isso acontece nesses garimpos clandestinos e ainda tem gente que defende? Essas pessoas deveriam primeiro conhecer a realidade para depois falarem”, disparou.
O coordenador voltou atrás no que disse sobre a demolição do Monumento do Garimpeiro, mas não em seu posicionamento contra a garimpagem ilegal. “Garimpeiros foram os pioneiros no desenvolvimento de Roraima, é o que defendem, mas me mostre o que este povo ganhou. Algumas famílias de outros estados enriqueceram com o ouro do solo Macuxi em detrimento de todo um povo”.
Catalano vai além e reforça seu posicionamento. Segundo ele, para o roraimense sobraram apenas as mazelas sociais. “Mas ainda tem gente que vem com este discurso de que o garimpeiro trouxe prosperidade. Como já disse: a garimpagem só trouxe mazelas sociais a este povo. O ouro saiu daqui para enriquecer gente bem longe. E o que foi que este povo ganhou? Me mostra a prosperidade econômica?”, voltou a questionar.
Sobre os crimes hediondos e contra a natureza que ocorrem nas terras indígenas de Roraima, o coordenador afirmou que as denúncias são encaminhadas à Polícia Federal. “Se a lei diz que garimpagem é crime, então é crime. E não temos que concordar ou não. Temos que cumprir a lei, e é o que faço, o que todos devem fazer”, disse.
DEPUTADOS – Na sessão de ontem da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-RR), vários deputados repudiaram o posicionamento do coordenador da Funai e até avisaram que iriam fazer uma nota de repúdio. Antes, Catalano já havia denunciado parentes de deputados e até de um senador, donos de balsas de garimpo em terra indígena. (AJ)