Cotidiano

Corpos apodrecem ao ar livre por falta de ‘geladeiras’ no IML

Seis corpos não identificados estão desde o início da semana apodrecendo no pátio do Instituto Médico Legal (IML) de Boa Vista, localizado no bairro Liberdade, zona Oeste, em frente à Escola Estadual Ana Libória e ao lado de vários comércios do ramo de alimentos. Além dos cadáveres, que estavam em avançado estado de decomposição e embalados em lonas plásticas no chão, ossadas de pelo menos mais dois indigentes foram encontradas no mesmo local, armazenadas em caixas de papelão e baldes plásticos.

A falta de estrutura e rede elétrica adequada no instituto, o único de Roraima, não comportam as câmaras mortuárias que deveriam ser utilizadas para armazenar os corpos que chegam à unidade. Apenas uma das sete “geladeiras”, que deveriam comportar seis corpos cada, funciona de maneira parcial.

A denúncia sobre as diversas irregularidades foram feitas por pessoas anônimas, que sentiram o forte odor nas proximidades do muro do IML e acionaram o Ministério Público de Roraima (MPRR). O promotor de justiça Carlos Paixão e a promotora de justiça da Saúde, Jeanne Sampaio, foram até o local e constataram a situação caótica.

Além dos cadáveres em estado de decomposição e das ossadas armazenadas em lugares impróprios, o promotor denunciou as condições insalubres pelas quais os servidores do instituto são submetidos. “Os funcionários trabalham em condições subumanas. Viemos averiguar e nos deparamos com corpos putrefatos, cheios de bicho e ossadas. Corre o risco de um servidor ficar doente, e, até mesmo, a vizinhança submetida a contaminações”, disse.

Ele criticou a falta de postura da Delegacia-Geral da Polícia Civil, responsável pelo instituto, de ter tomado medidas para solucionar os problemas na unidade. “É dever da Delegacia-Geral cuidar disso, se não está cuidando, que passe para outro órgão. Isso não é de hoje e ninguém consegue dar conta. Imagina a família de uma dessas pessoas que morreram e estão apodrecendo aqui?”, indagou.

A promotora Jeanne Sampaio enfatizou que o MP tomará medidas sérias e efetivas para que haja uma solução dos problemas enfrentados no IML. “Pelo que a gente encontrou aqui, algumas medidas foram tomadas sim, mas para enganar o judiciário. Essas câmaras foram compradas, mas nunca foram colocadas em funcionamento porque não tem carga elétrica que as suporte”, afirmou.

Ela informou que já tramita no Judiciário uma ação civil pública movida pelo Ministério Público sobre a situação no instituto. “A ação judicial propõe uma solução para esses problemas do IML.

Infelizmente, o governo tem sido omisso em solucionar esse problema”, destacou.

Os promotores afirmaram que, caso os gestores do instituto não tomem medidas urgentes para amenizar os problemas estruturais do órgão, eles poderão responder criminalmente e o governo poderá ser obrigado a pagar multa. “Na ação que impetramos, não foi pedida liminar, mas nada impede que, em razão dessa situação, seja requerida uma medida e aplicar multa aos responsáveis”, frisou.

VEÍCULOS – O IML também enfrenta a falta de veículos que deveriam ser utilizados no transporte de corpos, conhecidos como “rabecãos”.  O caso foi divulgado após o corpo do madeireiro Bimael Silva, de 51 anos, que morreu na noite de sábado, 14, no Município de Rorainópolis, Sul de Roraima, ter sido removido somente na tarde de domingo, 15, em uma caminhonete, o que revoltou os familiares. Outros casos também ocorreram no fim de semana passado.