Cotidiano

Corrida aos postos fez faltar vacina

Medo do primeiro caso de raiva humana fez muitas pessoas buscarem vacinação de seus animais no sábado

Moradores da Capital reclamaram de falta de organização e planejamento durante a terceira etapa da campanha de imunização de animais domésticos no combate à raiva, que foi realizada no sábado, 21, em 34 postos de saúde de Boa Vista. Devido ao primeiro caso de raiva humana confirmado em Roraima, a corrida para a vacinação foi intensa.

Embora a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) tenha informado que houve um número recorde de vacinações, com 22 mil cães e gatos, dezenas de donos de animais acionaram a Folha para reclamar que houve falta de vacinas muito antes do horário previsto para o término do evento, programado para as 18h.

Segundo eles, além da demora na chegada do medicamento nos postos de saúde, onde houve falta da vacina, com muitas pessoas, entre crianças e idosos, esperando em pé. Segundo eles, quando os profissionais eram questionados sobre a previsão do recebimento da medicação, a população não obteve uma resposta concreta sobre o assunto e eram solicitados apenas para “aguardar um pouco mais”.

No posto de saúde localizado no bairro Cinturão Verde, zona Oeste, houve falta da carteira de vacinação, documento que estava sendo disponibilizado gratuitamente aos donos dos animais para o registro do medicamento. No bairro 31 de Março, zona Norte, a espera também foi grande. Mais de vinte animais e seus donos aguardaram em pé pela chegada do material, em um forte e sem local apropriado para acomodar a todos.

Muitos disseram que chegaram a desistir do procedimento e que deverão recorrer a outros meios, como a vacinação privada, para manter seus animais sadios ou procurar o Centro de Zoonoses, que também promove atendimento gratuito durante a semana.

“Levei meus três cachorros para vacinar às 16h no posto de saúde do bairro Jardim Primavera [zona Oeste] e já não tinha mais vacina. Esperei por quarenta minutos e só me disseram que ia chegar, mas nada. Saí de lá, fui resolver outras pendências e voltei às 17h30 e já não tinha mais as carteirinhas para registrar a vacinação. Desisti e agora vou levar durante a semana no Centro de Zoonoses. Pior foi que ninguém sabia informar quando chegava o material”, relatou o empresário Ray Denner Mendes. “Quando saí, havia mais de 40 pessoas esperando na fila. É um estresse não só para gente, mas pros animais também. Todo esse deslocamento para nada”.

O presidente do Sindicato dos Agentes de Saúde e Endemias (Sindacse), Flavinei Almeida, esteve atuando junto com os servidores municipais no posto de saúde do Jardim Primavera e também presenciou o despreparo durante a ação. “Visitei três postos de saúde e o que nós vimos foi uma total desorganização do município”, informou Almeida. Segundo ele, uma das maiores falhas foi o encerramento das atividades das 12h às 14h, horário em que muitos daqueles que trabalham nos fins de semana teriam a oportunidade de levar seus animais para vacinar.

“Nós estamos praticamente em um caso único do País onde a questão da raiva é de extrema importância e os postos de saúde fecharam para horário de almoço em plena campanha”, avaliou Almeida. “O povo atendeu ao chamado, só que o município não estava preparado logisticamente para poder fazer a ação. A rotatividade de pessoas foi muito grande, não faltou trabalhador para ajudar, mas faltaram outras coisas. Espero que seja programada uma nova campanha e que não se deixe faltar vacina”, frisou o sindicalista.

Questionada sobre a situação, uma servidora da Prefeitura que atuava no posto de saúde do bairro 31 de Março, que preferiu não se identificar, negou que houve falta da vacina e informou que o material estava em falta momentaneamente, pois estava sendo recolhido em outras unidades e sendo reposto em todos os postos de saúde. Pouco tempo depois da chegada da equipe de reportagem, foram disponibilizadas cadeiras de plástico para os donos dos animais que estavam esperando em pé pela vacina.

PREFEITURA – A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) ressaltou, em nota, que foram recebidas 60 mil doses da vacina pelo Ministério da Saúde para a campanha na Capital na sexta-feira, 20, e negou que houve grande demora de reabastecimento da vacina.

Alegou que a demanda de pessoas com animais não vacinados foi muito além do esperado, o que ocasionou a falta temporária, mas com reposição imediata e uma espera maior em alguns casos. “As equipes fizeram a reposição imediatamente antes do término do estoque de cada unidade”, frisou. (P.C.)

Vacinação atingiu 22 mil animais e será levada para a zona rural

A terceira etapa de imunização contra a raiva, no sábado, foi realizada simultaneamente em 34 pontos de vacinação na Capital, pela Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV), em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), além da colaboração de servidores da Agência de Defesa Agropecuária (Aderr), agentes comunitários de saúde e endemias do município e acadêmicos de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Conforme a Prefeitura, de 22 mil animais, na sua maioria gatos e cachorros, foram vacinados somente no último dia da campanha de vacinação, o que representa uma cobertura de vacinação de 79% dos animais em Boa Vista. O registro é considerado recorde em comparação com as outras duas campanhas de vacinação ocorridas em fevereiro e março deste ano, que alcançou uma cobertura de animais vacinados de somente 56%, pouco mais da metade.

Uma das participantes da ação foi a estudante de medicina veterinária da UFRR, Arissa Vasconcelos, de 26 anos, que levou seus três cães para vacinar no posto de saúde do bairro Pricumã. “Por conta da faculdade, eu não tinha tempo de levar os animais para vacinar, então aproveitei que a ação foi feita em um sábado, em um local perto da minha casa. Assim ficou bem mais fácil. Agora não tem mais como o pessoal falar que não tem dinheiro para vacinar, com essas campanhas que vacinam de graça”, disse.

ANIMAIS DE RUA – O diretor da Unidade Municipal de Vigilância e Controle de Zoonoses, Rogério Lima, destacou a importância da vacinação nos animais domésticos. “É a única forma de nos prevenirmos dessa doença. Cada dono deve levar seu animal doméstico para receber a dose da vacina. É uma vez por ano e vale uma vida”, disse.

O diretor também foi categórico ao afirmar que ninguém deve manipular os animais de rua, tendo em vista a possibilidade de contaminação. “Se você tiver pena do animal, não o coloque dentro da sua casa por dois motivos: você está levando um animal que pode estar contaminado com algum tipo de doença e que pode disseminar para os outros animais sadios”.

Questionado sobre uma possível iniciativa municipal de imunização dos animais sem donos, o diretor afirmou que, por falta de uma política pública, não é responsabilidade da Unidade de Controle de Zoonoses realizar qualquer campanha de vacinação dos animais de rua. “O que existe são organizações não governamentais que fazem esse trabalho”, afirmou.

ZONA RURAL – Com o encerramento da campanha de vacinação ocorrida no sábado, 21, a ação também deverá ser ampliada ainda este ano para os habitantes da zona rural. “A campanha encerrou na área urbana, mas nós vamos nos mobilizar e estruturar novamente para que a gente promova uma ação destas na área rural. Então vamos criar um cronograma de atendimento nestas localidades para que a população não tenha que deslocar o seu animal para a cidade, pois nós vamos até lá”, informou o diretor informou Rogério Lima.

Ele esclareceu que aqueles que tiverem a possibilidade de trazer os animais para Capital, basta ir ao Centro de Zoonoses, localizado na avenida Centenário, nº 469, no bairro Centenário, zona Oeste, de segunda à sexta-feira, das 08h às 12h e das 14h às 18h.

CUIDADOS – O diretor da Unidade de Vigilância também frisou que o animal deverá renovar a sua vacina por mais 12 doses, uma a cada ano. Também precisa atender certas exigências para ser vacinado. “A partir dos três meses de idade, o animal já pode ser vacinado, mesmo se tiver amamentando. A fêmea também pode ser vacinada mesmo quando estiver prenha, haja vista a questão das circunstâncias”, disse Lima.

Segundo ele, é preferível que o animal doméstico seja acompanhado por uma pessoa maior de idade que tenha a capacidade de conter o seu bicho, para evitar acidentes tanto no deslocamento, para evitar brigar com um animal de rua que possa estar doente, quanto com as pessoas que estão envolvidas na ação, evitando uma mordedura desnecessária. É recomendado que o animal também esteja fazendo o uso de uma guia e focinheira, de preferência.

No caso de agressão, como mordidas e arranhões profundos, principalmente nas áreas da face, mão e pés, é recomendado que a vítima lave o ferimento com sabão e água e procure a unidade de saúde mais próxima. (P.C.)