Cotidiano

Cortes no Sistema S podem resultar em perdas sociais

Possibilidade de cortes nas verbas destinadas às entidades é estudada por equipe econômica de Jair Bolsonaro (PSL)

Com o discurso de controlar e diminuir os gastos públicos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu o corte de gastos no Sistema S. A declaração, feita em dezembro do ano passado, foi motivo de preocupação por parte das instituições que compõem o setor produtivo. As nove entidades não são públicas, mas recebem subsídios do governo federal.

Ao reforçar o foco nas privatizações e na reforma da Previdência, o ministro indagou: “Como se pode cortar isso e aquilo e não cortar o Sistema S? Tem que meter a faca no Sistema S também. Eu acho que a gente tem que cortar pouco para não doer muito”, relatou durante uma reunião com empresários. Guedes afirmou que, se houver investidores, os cortes podem ser de 30% nos custos. Caso contrário, o governo poderá cortar até 50%.

No Sistema S, as entidades empresariais são voltadas para aprendizado e treinamento profissional, assistência social e técnica, consultoria e pesquisa. Ligado ao setor de agricultura e pecuária, está o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). No comércio, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Serviço Social do Comércio (Sesc).

Já no setor da indústria, fazem parte o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Social da Indústria (Sesi). No transporte, estão o Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). O Sistema S é formado também pelo Sistema Nacional de Aprendizagem do Corporativismo (Sescoop) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

De acordo com a Receita Federal, em 2018, foram repassados R$ 17,08 bilhões para as entidades que são mantidas pelas contribuições estipuladas em lei e administram recursos públicos.

Gestores avaliam perda social com corte de verbas

Ademir dos Santos, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Roraima (Fecomércio-RR), entidade que preside os Conselhos Regionais do Senac e Sesc, avalia a possibilidade de cortes nos gastos com apreensão. De acordo com ele, ainda há uma falta de conhecimento sobre a importância e serviços ofertados pelas instituições do Sistema S.

“A gente fica mais apreensivo ainda porque não há uma definição e precisamos entender o que querem fazer e qual a necessidade. Até o momento, só temos essas especulações que vão cortar do Sistema S, mas vão cortar como? De que forma? Quanto vão tirar? Hoje, a título de gratuidade, o Senac faz 100% dos seus cursos. O Sesc, 33% de tudo o que faz é gratuito, então não sei onde vão cortar mais”, criticou.

Dos Santos ressaltou que os cortes feitos no Sistema S não seriam a solução para os problemas econômicos nacionais. Ele frisou que até o momento em que não tiver maiores manifestações sobre os cortes, não é possível ter um posicionamento mais firme sobre as declarações do ministro Guedes.

SESI – “Oferecemos relevantes serviços para os trabalhadores da indústria, seus dependentes e para a sociedade em geral. É preciso conhecer o que cada S faz, avaliar a geração de valor que entrega para a sociedade e, a partir do conhecimento de causa adquirido, se houver melhorias a serem adotadas, que façamos de modo com que todos possam ser beneficiados com as decisões tomadas”, disse o superintendente do Sesi, Almecir Câmara.

Ele apontou que a entidade não tem fins lucrativos e é mantida pela indústria brasileira. E destacou que, num possível corte de verbas, o Sesi tem possibilidade de fechar as portas, considerando o departamento regional deficitário.

“[Ao considerar] o tamanho do parque industrial roraimense e o fato de ser formado praticamente por micro e pequenas empresas, dependemos do apoio financeiro advindo do Departamento Nacional e também da geração de receitas por meio de prestação de serviços e convênios”, enfatizou.

Câmara destacou que em 31 anos de serviço no Estado, o Sesi realizou mais de 2,7 milhões de atendimentos em educação, saúde e atividades culturais e esportivas. Ele avaliou que sem a instituição, haverá uma “grande perda para Roraima” e para o segmento industrial roraimense, assim como para a economia local. Além da falta de acesso a serviços mais baratos, o superintendente contabilizou os postos de empregos e estágios que seriam encerrados com a descontinuidade dos serviços.

Demais instituições preferiram não se manifestar

A equipe de reportagem entrou em contato com a gerência do Sest, Senat, Sebrae e Senar. Em resposta, o Sest e Senat informaram que “não iriam se manifestar até que tivessem informações concretas sobre os possíveis cortes para o Sistema S no governo [de Jair] Bolsonaro”.

O Sebrae relatou que “está aguardando o posicionamento nacional para quaisquer informações” e, por enquanto, “não vai falar sobre o assunto, visto que o tema ainda não foi oficializado”, informou a assessoria.

Os representantes do Senar não estavam na cidade para emitirem posicionamento até o fechamento desta matéria. (A.P.L)

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