Cotidiano

Criança é agredida com mordidas em primeiro dia em creche

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

O primeiro dia de aula de uma criança de um ano e seis meses resultou em um episódio traumatizante. A mãe, Rafaelle Cavalcante, contou que procurou uma creche particular para cuidar de seu filho enquanto ela e o pai trabalhavam e também para que a criança pudesse se socializar e se desenvolver, mas logo na segunda feira, 4, seu filho foi agredido com dezenas de mordidas por todo o corpo e rosto, que o deixaram com dor, feridas e sinais de trauma.

“Eu o deixei por volta de umas 7h e me ligaram às 11h dizendo que uma criança tinha mordido ele, mas que não era nada grave e que não tinha marcas. Eles me pediram para voltar à escola na hora do almoço para conversar com a professora e quando cheguei lá me deparei com esta situação”, contou Rafaelle Cavacalnte, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.

A mãe foi atendida por professores, mas disse que não havia um responsável pelo local. Então, foi a uma delegacia registrar o caso, depois levou a criança ao IML para realizar o exame de corpo de delito e retornou à creche para cobrar explicações sobre o que havia acontecido. Segundo Rafaelle, a resposta que obteve foi que não tinha nada para ser dito, que o máximo que poderiam fazer seria pedir desculpas pelo ocorrido.

Ainda de acordo com Rafaelle, uma professora comentou que foi um momento de descuido, em que outra criança fez o ataque. Mas a mãe duvida que se trate de um momento isolado, pois foram mais de dez mordidas e pela gravidade das feridas já na primeira o filho deveria ter gritado.

“O que consigo imaginar é que ele foi praticamente torturado. Eu não sei quem é a criança, o tamanho dela, mas ele é um bebê, tem um ano e seis meses e para uma criança ter feito algo deste jeito com certeza é maior do que ele e tem mais força para poder segurar”, declarou a mãe, enquanto o filho alternava entre puxar os próprios cabelos e morder os dedos de Rafaelle.

TRAUMA – Já no primeiro dia, a criança aparentava estar mais agitada. A mãe contou que ela sempre foi muito dócil, mas que no dia do ocorrido estava muito agitada e agia como se estivesse revivendo a situação.

“Ele dormiu por volta de umas 20h30 e às 22h acordou em pânico. Olhava só para um canto fixo, parecia hipnotizado, gritava muito, batia no próprio rosto e puxava o cabelo. Era como se ele estivesse revivendo o momento de terror que viveu na escola. Como mãe, eu vejo assim”.

Mesmo a criança tendo apenas um ano e seis meses, a psicóloga Katherine Mabel afirmou que a situação pode deixar traumas. E por isso é preciso reconstruir a confiança para que a criança não sinta medo em excesso.

“Uma forma de mostrar que a criança pode confiar, é por exemplo: se ela está brincando e fica com medo de algo, o ideal é não repreender, mas sim dar um abraço, demonstrar proteção e que sempre vai estar por perto e tentar ressocializar com outras crianças, outras pessoas”, explicou a psicóloga.

Mas como se trata de uma criança que ainda não fala, o cuidado necessário é com o desenvolvimento. É preciso estar atento se a criança está andando corretamente, se o peso e o tamanho estão sendo desenvolvidos normalmente e se não há nenhuma reação física.

Rafaelle Cavalcante optou por não revelar o nome da instituição porque sua revolta era por causa da negligência dos responsáveis pelo local e que deseja que a Justiça seja feita sobre o caso para que outras famílias não precisem passar por esse tipo de situação.

“A minha revolta não é para denegrir nem fazer um escândalo. Eu quero que sejam tomadas providências. Eles deveriam ser os primeiros interessados em me procurar e prestar apoio, mas eu não recebi isso”.

CONSELHO TUTELAR – Na terça-feira, 5, a mãe optou por procurar o Conselho Tutelar. Como deu início ao acompanhamento da situação ontem, 6, o órgão ainda não pode divulgar muitas informações para não atrapalhar o andamento do caso.

“Não posso entrar em detalhes de quando será feito, nem quando será feito, mas é com a maior agilidade possível e vamos dar encaminhamento para a questão da Justiça para que os responsáveis sejam devidamente punidos”, declarou a conselheira tutelar Andreza Ferreira.

Cuidados necessários ao procurar uma creche ou escola

O primeiro passo para quem pretende confiar a responsabilidade dos fi lhos a creches ou escolas é conhecer bem o local e os profi ssionais que atuam na área. Para isso é válida uma conversa com os profissionais de instituições diversas e recomendações de outros pais em que a família confie.

“Particularmente, eu sempre oriento que se há alguém da família que possa fi car com a criança durante a rotina de trabalho dos pais é preferível que não coloque em uma instituição como uma creche porque é difícil diagnosticar qualquer tipo de maus-tratos em crianças de tão pouca idade”, recomendou a conselheira tutelar Andreza Ferreira.

Nem toda agressão fica marcada e exposta na pele das crianças, por isso é preciso manter diálogo com os profissionais do local e com as crianças que já sabem falar. Mas também é possível ficar atento a mudanças de comportamento. “Uma criança que falava bastante sobre a escola e professores e de repente passa a não falar mais, fica mais apática ou então a criança que gostava muito de ir à escola e, então, gradativamente passa a não gostar mais, a ter medo, chora para ir à escola ou até mesmo ter pesadelos”, declarou a psicóloga Katherine Mabel.

O corpo da criança também pode indicar através de sintomas físicos que há algo de errado ocorrendo. Se os filhos apresentam constantes dores de cabeça, dor de barriga, dizem estar cansados, febre ou dor física, pode ser a manifestação de algum tipo de estresse. Outros exemplos podem ser a falta de sono e a falta de apetite. (F.A)