Cotidiano

Crianças Yanomami que morreram por covid-19 serão entregues às comunidades

Indígenas morreram pela doença em 2020, mas foram enterradas em Boa Vista e não passaram por ritos tradicionais na região Yanomami; Justiça havia determinado o traslado dos corpos

Os corpos de três crianças Yanomami, que morreram por covid-19 em Roraima serão trasladados até as comunidades onde elas viviam a partir desta quinta-feira (23). As crianças morreram após complicações da doença nos primeiros meses da pandemia, em 2020, mas desde então não haviam sido transportadas às comunidades por determinação da Defesa Civil de Roraima, que havia proibido a realização de rituais fúnebres tradicionais indígenas em razão da pandemia.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), os restos mortais das três crianças foram exumados na última semana. Já um adolescente de 15 anos, que foi o primeiro Yanomami a falecer em decorrência do vírus, também foi exumado nessa quarta-feira (22) e será trasladado nos próximos dias. A medida é resultado de determinação da Justiça Federal de Roraima, que concedeu, em março do ano passado para assegurar aos indígenas a realização dos rituais de luto.

As aldeias estão localizadas na fronteira entre Brasil e Venezuela, dentro do território Yanomami. Os corpos serão entregues aos familiares e lideranças, para que possam realizar os rituais fúnebres, de acordo com a cultura de cada população.

O transporte dos restos mortais às comunidades indígenas foi determinado após o Ministério Público Federal ajuizar ação para obrigar a União e o Governo de Roraima a promoverem a exumação e o traslado dos corpos dos indígenas Yanomami enterrados em Boa Vista. Após manifestações do MPF pedindo a execução da medida, em fevereiro deste ano, a Justiça fixou prazo de 10 dias, sob pena de multa, para que a União demonstrasse o cumprimento da determinação judicial.

“A proteção constitucional conferida (aos indígenas) inclui a realização de rituais funerários, sendo certo que ignorar as práticas culturais em momento tão grave para uma família e uma comunidade é agravar a situação de sofrimento e a violência sofrida em razão de doenças levadas por não indígenas”, sustentou o procurador da República Alisson Marugal na ação.