Cotidiano

Criminosos divulgam vídeo com ameaças à polícia e ao governo

Vídeo gravado por suposto membro da facção Comando Vermelho traz ameaças a autoridades policiais e agentes penitenciários

A audácia de membros de facções criminosas tem tirado o sono dos policiais. Neste mês, cinco carros da Prefeitura de Boa Vista foram incendiados por pessoas que se intitulavam membros do Comando Vermelho (CV) – veja matéria da prisão de envolvidos na página 10A. Na noite de sábado passado, um elemento que também é suspeito de integrar grupo criminoso tentou incendiar carros da Polícia Civil.
Para somar a este quadro preocupante, surgiu a divulgação de um vídeo gravado supostamente por integrante da facção criminosa CV mandando recado para autoridades e ameaçando policiais. Outro fato é a existência de uma ocorrência policial de um homem que quase foi executado por criminosos que achavam que ele seria policial.
O caso ocorreu no dia 19 deste mês, mas o fato foi mantido sob sigilo pelas autoridades policiais. Conforme o Boletim de Ocorrência Policial, o homem estava em frente de casa quando três bandidos armados apareceram dizendo que ele iria morrer por ser policial. Ele só foi poupado quando o trio se conformou que ele não trabalha na polícia.
Conforme a delegada responsável pela investigação sobre o crime organizado, Luciene Mendes, pelo menos um dos envolvidos foi preso ontem pela Polícia Civil.  “Esse envolvido chegou há pouco tempo na cidade e as investigações apontam o envolvimento dele em atividades ligadas a uma facção criminosa que atua dentro e fora do sistema prisional do Estado. Ainda não sabemos se existem outros envolvidos na ação, mas já existe um trabalho sendo feito em sigilo”, frisou
Apesar dos avanços das investigações, o grupo tem mostrado audácia. A Folha teve acesso a um vídeo no qual homem faz sérias ameaças a policiais e agentes penitenciários que trabalham no sistema prisional do Estado.  Na gravação, o homem que se intitula “membro do conselho do Comando Vermelho (CV) no Estado” afirma que o grupo luta contra o que eles chamam de “opressão contra irmão do sistema prisional”.
“Nós, do Comando Vermelho, informamos que a nossa briga não é contra a sociedade. É contra o governo que está oprimindo os nossos irmãos, companheiros e familiares dentro do sistema prisional. Se não acabar com essa opressão dentro do sistema, a guerra não vai acabar”, diz a gravação.
Conforme o vídeo, o grupo teria uma lista com 26 endereços de agentes penitenciários. Caso as exigências da facção não sejam atendidas, todos poderão ser alvos de ações criminosas. “Somos 200 membros no Estado de Roraima. Pedimos ajuda de todos os criminosos a unirem ao Comando Vermelho contra a máquina opressora, o Estado. Se morrer algum integrante, a resposta será a altura, pois temos 26 endereços de agentes penitenciários. Se o bandido quiser fechar com Comando Vermelho, você sabe a quem procurar. Assina o Comando Vermelho. País de justiça e liberdade”, diz a gravação.
SEJUC – Na avaliação do secretário de Justiça e Cidadania (Sejuc), Natanael Nascimento, a ação conjunta entre os órgãos de segurança pública vem enfraquecendo as ações de células dentro e fora do sistema prisional do Estado. “Com as últimas ações conjuntas entre a Polícia Federal e a Sejuc, por exemplo, o PCC [Primeiro Comando da Capital], ou o que existia dele, foi desarticulado. Já o Comando Vermelho, na avaliação das próprias autoridades que estão envolvidas na repressão ao crime, não possui a mesma estrutura que tinha o PCC. Pelo próprio discurso proferido pelo meliante do vídeo, ele convoca novos adeptos, ou seja, não tem estrutura formada para fazer força aqui no Estado, tanto que as ações do grupo são totalmente esporádicas”, avaliou.
O secretário falou ainda sobre os avanços feitos na repressão contra os crimes cometidos dentro das unidades prisionais de Roraima. “A repressão a qual eles se referem é justamente as ações implementadas pelo governo nos presídios. Quando o Estado tirou os 11 presos perigosos que estavam aqui, houve a extinção dos mais de 30 comércios que foram formados dentro dos presídios”, frisou.
“Houve também uma reestruturação no funcionamento das unidades prisionais. As visitas, por exemplo, que às vezes começavam às 9 horas e terminavam às 17 horas, e que de certa forma possibilitava a entrada de itens, foram reorganizadas. Como essa brecha foi tirada, eles consideram isso como uma forma de opressão. Ou o Estado cumpre o seu papel em dar ordem ao sistema ou correria o risco de deixar como estava, e esse não é o papel da segurança”, complementou.
Nascimento admite a existência de falhas, mas ressaltou os avanços realizados pela secretaria em pouco tempo. “Falhas existem, problemas estruturais e falta de recursos podem aparecer. Mas, mesmo com todas as dificuldades, o Estado tem cumprido com o seu dever de manter o controle da situação. Eu acredito que consolidando essas ações conjuntas, esses problemas serão sanados e a população vai sentir essa pronta resposta nas ruas”, frisou.
MÍLICIA – Outro fato que preocupa foram mensagens pichadas em muros de prédios públicos insinuando a criação de uma milícia para combater as organizações criminosas PCC e CV. As mensagens são bem claras quando afirmam que criminosos iriam morrer.