Após fiscalizações realizadas no Hospital Geral de Roraima e Maternidade Nossa Senhora de Nazaré nesta quinta-feira, 1º, ambas as unidades tiveram cirurgias eletivas interditadas pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-RR), deixando somente as de emergência disponíveis.
De acordo com a presidente do Conselho, a pediatra Rosa Leal, a falta de materiais básicos para realização de cirurgias chegou a um ponto em que somente os pacientes que conseguem arcar com compra de materiais é que são atendidos.
“Não há esparadrapo, gaze, luvas, antibióticos, adrenalina, praticamente tudo está em falta no HGR. E a Maternidade é a mesma coisa, com falta até mesmo de ocitocina, cujo produto é utilizado em mais de 200 unidades diariamente por lá. Pacientes chegavam a ter que pagar materiais e insumos para serem atendidos, e eles eram priorizados por pagarem, o que fere totalmente a ética do serviço público”, afirmou.
Rosa destacou que a falta de material para se trabalhar nas unidades não é um problema recente. Como ela já mencionou em entrevistas anteriores à Folha, profissionais chegam a sofrer agressões físicas e psicológicas, por conta da impossibilidade de realizar procedimentos médicos básicos no atendimento aos pacientes. A interdição, segundo explicou, é uma forma de preservar a integridade do profissional e prevenir que pacientes corram riscos por conta das condições insalubres.
“Recebemos centenas de documentos de médicos dizendo que não podem realizar cirurgias que foram marcadas por pura falta de material, e isso vem agravando ainda mais com a falta de pagamento de alguns fornecedores. Hoje mesmo recebi, por meio do WhatsApp, a notícia de sete cesarianas indicadas, que não seriam feitas por falta de materiais, como fios e campo. Eu pedi para que um ofício fosse feito relatando essa impossibilidade, pois se as cirurgias ocorressem, os bebês estariam em risco, e se algo acontecesse de ruim, a culpa seria do médico”, explicou.
Não há um prazo definido para o fim da interdição. Apesar disso, na perspectiva da presidente do CRM-RR, a liberação possivelmente não ocorrerá até 2019, uma vez que o fim de ano é marcado pelo recesso de fornecedores.
“A interdição irá valer até o tempo que for necessário. Quando inspecionarmos de forma que seja comprovado que ambas as unidades são capazes de realizar essas cirurgias sem colocar os pacientes em risco, liberaremos. Eu, pessoalmente, não acredito que isso ocorrerá tão cedo, pois muitos fornecedores desses insumos ficam de recesso no fim do ano, então o que resta mesmo é aguardar os primeiros meses do próximo ano”, finalizou. (P.B)
Sesau afirma que hospitais não fecharam as portas para a população
A Sesau (Secretaria Estadual de Saúde) informou por meio de nota que a interdição do CRM-RR (Conselho Regional de Medicina de Roraima) se trata de uma interdição ética do trabalho dos médicos nas respectivas unidades.
“O CRM-RR não tem poder para fechar os espaços, mas emitiu recomendação aos médicos para que os profissionais atendam somente casos de urgência e emergência. Vale ressaltar ainda que os hospitais não fecharam as portas para o atendimento à população.
Ainda segundo a Sesau, por meio de processos de adesão de ata foram adquiridos materiais médico-hospitalares e medicamentos necessários para a realização de cirurgias.
“Já foram recebidos esta semana, itens como ocitocina, luvas, norepinefrina, atropina, epinefrina e antibióticos. Para os próximos dias, tanto por meio dos processos de adesão de ata, quanto por processos originários da Sesau, devem ser entregues outros itens como sondas, eletrodos, fita de autoclave, entre outros”, informou a nota.
A Sesau salientou ainda que a aquisição dos medicamentos e materiais médico-hospitalares é feita de maneira contínua. “A secretaria vem envidando todos os esforços para garantir atendimento de saúde humanizado e com qualidade, inclusive com o aumento de recursos que passou de 12% para 18% na atual gestão”.
Ainda segundo a Sesau, o grande número de cirurgias de emergência realizadas no HGR (Hospital Geral de Roraima), acaba interferindo na realização das cirurgias eletivas, uma vez que os procedimentos emergenciais precisam ser priorizados.
“A unidade realizou de janeiro a setembro de 2018, 3.695 cirurgias eletivas, e outras 1.240 cirurgias de emergências, totalizando quase cinco mil procedimentos cirúrgicos. Em 2017 foram quase 40% cirurgias eletivas a mais do que o registrado há três anos. Nos últimos três anos, somando HGR, Hospital Regional de Rorainópolis e o Hospital Materno Infantil já foram realizadas quase 10 mil cirurgias agendadas. Somando às cirurgias de urgência, o número chega a quase 20 mil”, concluiu a nota.