Com cartazes, apitos e palavras de ordem solicitando melhorias nas condições de trabalho, centenas de cuidadores de alunos suspenderam as atividades e ocuparam a frente da Secretaria Municipal de Educação (Smec) na manhã de ontem, 9. De acordo com os servidores, a falta de diálogo com a gestão municipal tem causado prejuízos nos serviços prestados.
Em 2018, a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Boa Vista (Sitram) enviou sete ofícios à Smec com reivindicações dos cuidadores que atuam nas Casas Mães e escolas da rede municipal. Este ano, em dois encontros com a titular da pasta, foram feitas novas solicitações de melhorias para os trabalhadores, mas não houve respostas até o momento.
Entre os principais pontos criticados pela categoria, está o aumento na carga horária que saiu de 30 para 40 horas semanais, que estaria resultando em apenas uma hora de almoço para os profissionais cuidadores.
“Essa carga horária trouxe toda uma condição de degradação das relações de trabalho com sobrecarga, pressão psicológica. A prefeitura oferece hoje o ensino de creche, o que exige mais atenção e cuidado com as crianças”, relatou Sueli Cardozo, presidente do Sitram.
O grupo solicita também uma prioridade de lotação em local próximo às residências dos servidores, assim como criação de incentivo à atividade no valor de R$ 500 e gratificação de 20% por qualificação de estudos na ordem. Materiais de trabalho, de higiene e pagamento adicional de insalubridade completam as pautas de solicitações dos servidores municipais.
Sueli pontuou que caso a gestão municipal continue negando o diálogo com a categoria, não é descartada a possibilidade de greve.
“A profissão de cuidador foi criada para dar mais proteção, cuidado e incluir as crianças deficientes no sistema educacional. Em uma classe de 27 alunos, onde a secretaria lota apenas um cuidador, fica sobrecarregado e as crianças correm riscos na integridade física, então um dos pedidos é que se lotem dois cuidadores por classe”, completou.
POUCOS PROFISSIONAIS – O aumento na carga horária também foi criticado com a justificativa de que os demais profissionais de educação não tiveram mudanças na grade de trabalho, continuando com 30 horas semanais no currículo. Para o cuidador Igor Moura, a situação piora porque as duas escolas em que trabalha são distantes do bairro onde mora, sendo uma delas no Paraviana e a outra no Cauamé.
“Muita gente está na mesma situação que eu, que mora no meio da cidade e trabalha em outra ponta. Com o salário baixo e as 40 horas, às vezes a pessoa precisa pagar para trabalhar. Assistente de aluno recebe o mesmo salário que a gente e trabalha 30 horas. Só queremos que sejamos equiparados”, criticou.
Ele relatou ainda que, em alguns casos, os cuidadores foram contratados para prestar assistência para os alunos com deficiência, mas já tiveram de auxiliar toda turma quando faltam professores.
“Onde eu trabalho de manhã, de um lado é pró-infância e do outro é creche, existem escalas de três cuidadoras para 30 alunos. Isso chega a ser desumano”, lamentou.
Prefeitura não dá esclarecimentos sobre manifestação
A Folha procurou a Prefeitura de Boa Vista solicitando posicionamento sobre a manifestação dos profissionais com especialidade de cuidador, assim como questionou os motivos do aumento na carga horária e quais medidas seriam adotadas. Porém, como tem ocorrido nos últimos meses, não houve resposta. (A.P.L)