Todo ano, na avenida Santos Dumont, no bairro Aparecida, moradores se reúnem para destroçar simbolicamente, sem dó nem piedade, o pior malfeitor do ano. O alvo é retratado geralmente em um boneco de pano ou isopor, e pendurado como se tivesse sido enforcado em um poste. Em Roraima, a tradição é mantida há sete décadas pela família Coutinho.
Este ano, duas figuras foram escolhidas para serem retratadas no boneco como alvo da fúria da população: o apresentador Danilo Gentili e o mosquito Aedes Aegypti. O comediante do SBT foi duramente criticado, no ano passado, após fazer declarações ofensivas às mulheres de Roraima. Já o transmissor do Zika Vírus, Dengue e Chikungunya foi escolhido como forma de conscientizar a população quanto ao risco do mosquito.
A malhação do boneco ocorre no chamado sábado de Aleluia, que na tradição católica acontece entre a Sexta-Feira Santa e o domingo de Páscoa. O funcionário público Josenito Coutinho contou como a família trouxe a tradição ao Estado. “Aqui em Roraima meus avós chegaram na década de 40 e desde essa época sempre trouxeram até hoje está sendo passada por gerações. Isso faz com que a gente mostre para Roraima que nós não somos um povo que esquece as coisas com tanta facilidade”, disse.
Conforme ele, a ideia é malhar o Judas justamente vendo alguma indiferença que acontece no cotidiano da população. “Isso faz com que as pessoas reflitam sobre as situações que ocorrem no nosso país e em Roraima. Malhar o Judas não é nada mais do que ver algo que esteja ocorrendo, e isso traz para nós a união”, afirmou.
TRADIÇÃO- A malhação representa o julgamento popular contra Judas Iscariotes, um dos apóstolos que teriam acompanhado Jesus Cristo. Judas teria traído Jesus e o entregue ao Sinédrio, conselho supremo e representação dos judeus perante os romanos, em troca de dinheiro.
Por conta desse episódio relatado no Novo Testamento, as populações seguidoras da fé católica adotaram o ritual de na semana da Paixão de Cristo fazer simbolicamente o julgamento, a condenação e a execução de Judas, o traidor. Na tradição popular, antes da “execução” dele, é lido o “testamento” de Judas, que escrito em versos é colocado no bolso do boneco e traz sátiras às pessoas e a fatos locais.