Nesta segunda-feira, dia 1º de maio, é comemorado o Dia Internacional do Trabalhador. Em Roraima, conforme lideranças sindicais ouvidas pela Folha, a data deverá ser de profunda reflexão sobre a necessidade de defender os direitos do trabalhador, ameaçados pelas possíveis aprovações da PEC 287, Proposta de Emenda à Constituição que prevê mudanças nas regras de aposentadoria pela Previdência Social, e da Reforma Trabalhista, aprovada pela Câmara dos Deputados na última quarta-feira, 26 de abril.
Na sexta-feira, 28, movimentos sindicais promoveram greve geral em todo o país. Em Roraima, as manifestações contra as propostas defendidas pelo presidente Michel Temer (PMDB) reuniram cerca de 5 mil pessoas, na Praça do Centro Cívico, segundo dados da Frente Sindical Popular de Lutas de Roraima, entidade que reúne mais de 50 representações sindicais no Estado.
“O ato realizado na sexta-feira demonstrou o quanto as pessoas estão insatisfeitas com a tomada de decisões propostas pelo governo Temer. O ato foi realizado em todos os Estados brasileiros, e em Roraima o público foi de fato o que nós esperávamos”, avaliou a presidente da Central Única dos Trabalhadores em Roraima (CUT-RR), Maria Alves.
A sindicalista destacou o empenho dos trabalhadores em resistir às propostas do Governo, ressaltando que, caso as mesmas venham a ser aprovadas, o trabalhador terá muito a perder. Dada à dimensão positiva dos protestos da sexta, atos deverão ser realizados durante este feriado.
“Com a manifestação do dia 28, nós estamos pensando como fazer os atos para esse dia 1º de maio. Há de se analisar essa questão, justamente pelo fato dos movimentos sociais atualmente carecerem de recursos para a realização de atos deste porte. Apesar disso, nós vamos realizar ações voltadas a questões específicas dos trabalhadores do nosso Estado”, destacou.
Para o presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem e Técnicos de Saúde do Estado de Roraima (Sidprer), Melquisedeque Menezes, apesar dos trabalhadores não terem tantos motivos para comemorar, devida a situação conturbada que o país atravessa, a data serve de estímulo para que, tanto a sociedade quanto a classe trabalhadora, busque resistir à retirada de direitos assegurados pela Constituição.
“Hoje, o trabalhador brasileiro não tem o que comemorar. Ao contrário, estamos enlutados devido às ações do Governo Federal em relação à classe trabalhadora. O ato que promovemos na sexta-feira, 28, traduz essa insatisfação. Nós somos um povo de caráter, formado por pessoas sofridas, mas aguerridas. Não temos o que comemorar, mas estamos em luta, porque o trabalhador nas ruas demonstra a força que temos”, frisou.
Assim como Menezes, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Boa Vista (Sitram), Suely Cardozo, também avalia o momento como oportuno para que toda a sociedade brasileira busque refletir sobre a necessidade de construir um futuro mais justo.
“Nós, enquanto movimento sindical, afirmamos que essas medidas são um retrocesso para a sociedade. Isso ocorre toda vez que a gente atinge um nível de direito, no sentido de cobertura jurídica. São vitórias conquistadas ao longo de vários anos de luta, que agora o Governo tenta retirá-los. Nós queremos avançar no país, garantir uma vida mais justa, e não perder direitos, sob a ótica de crise econômica, que a situação vai se normalizar”, pontuou.
Mercado de trabalho em Roraima registra déficit em contratações
De acordo com dados do Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o número de admissões de trabalhadores no mercado de trabalho em Roraima foi inferior ao número de demissões no período de março de 2016 a março deste ano.
Conforme o MTE, o mercado roraimense contratou 20.039, no entanto, acabou demitindo 20.272, uma redução de 233 postos de trabalho. O Caged foi criado com a finalidade de monitorar os registros de admissão e dispensa de empregados no país, sendo utilizado pelo Programa de Seguro-Desemprego para conferir os dados referentes a vínculos trabalhistas, além de outros programas sociais.
O levantamento destacou também que, somente levando em consideração o primeiro trimestre deste ano, o Estado registrou 1.544 admissões contra 1.584 demissões, uma redução de 40 postos de trabalho. Os números são bem diferentes do que ocorreu no ano passado, quando as empresas locais admitiram 1.969 trabalhadores e demitiram 1.728 pessoas, resultando no acréscimo de 241 postos de trabalho.
Ainda sobre os dados de março deste ano, segundo o Caged, o setor de serviços foi o que mais empregou pessoas em Roraima, com 44 contratações; seguido da construção civil, com 27 contratações; agropecuária, com 12 admissões; e serviços industriais de utilidade pública, com 10 postos de trabalhos preenchidos.
Já o comércio foi o setor da economia que mais demitiu pessoas em Roraima, com -169 postos de trabalho; seguido da indústria de transformação, com -7 postos; e o extrativismo mineral, com -3. O único setor que não contratou, nem demitiu pessoal foi o da Administração Pública.
CARTEIRAS – Segundo o chefe da Sessão de Políticas de Trabalho, Emprego, Renda e Economia Solidária (Septer), da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Roraima (SRTE-RR), Péricles Pereira, das mais de 20 mil carteiras de trabalho expedidas pelo órgão no ano passado, pouco mais de 2 mil foram solicitadas por estrangeiros.
Ao todo foram 2.142 carteiras de trabalho expedidas para estrangeiros, um aumento de mais de 100% em relação ao ano anterior. “No ano passado, nós emitimos 19.405 carteiras de trabalho, sendo 779 solicitadas por estrangeiros. Esse ano, tanto o quantitativo de emissões foi maior, sendo pouco mais 20 mil expedições de carteira, e destas, 2.142 foram para estrangeiros, na sua maioria de origem venezuelana”, destacou. (M.L)