Em coletiva realizada na manhã desta segunda-feira, autoridades de saúde decretaram estado de alerta preventivo para a dengue e chikungunya, no Estado de Roraima, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti. A preocupação surgiu por conta do aumento de casos das doenças na Venezuela, país vizinho ao Norte, e grande número de infestação do mosquito em todo o Estado devido ao período chuvoso.
Desde o mês de dezembro do ano passado a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial de Saúde (OMS), através do Ministério da Saúde (MS), vêm chamando atenção e repassando informações aos países com relação à transmissão do novo vírus nas Américas e sua possível chegada ao Brasil. Até o momento, no Brasil, há apenas os chamados “casos importados” de chikungunya, casos estes em que pessoas viajaram para outros países onde foram infectadas, mas só desenvolveram e descobriram o quadro clínico posteriormente.
Segundo o diretor em exercício do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Joel de Lima Melo, o alerta feito pelo MS agora acontece diariamente. Até o domingo, a Venezuela tinha mais de 150 casos de chikungunya. Além disso, já havia mais um agravante: 11 estados do país vizinho, inclusive Bolívar, estão com casos graves de dengue. De acordo com ele, há a circulação viral dos quatro sorotipos de dengue.
Joel Melo explicou que é baixo o índice de pessoas com dengue em Roraima, mas que é preciso preparar-se para uma possível epidemia da doença, além de preparar-se para a entrada do novos vírus no Brasil e no Estado através de países próximos que apresentaram os casos.
No caso de Roraima, Venezuela e Guiana apresentam casos de chikungunya. “Pela situação ambiental e os trabalhos que estão sendo desenvolvidos nos municípios, estamos em situação de alerta porque nós temos baixa transmissibilidade de dengue, mas estamos com alto índice de infestação do mosquito transmissor dessas duas doenças [dengue e chikungunya]”, frisou Melo.
Ele disse que neste momento é preciso chamar a atenção da população para a necessidade de baixar a densidade vetorial do Estado. Para ele, somente o setor público não dá conta de combater o mosquito. “Nos preocupamos em passar essas informação para a população para que esta possa, dentro de sua própria residência, diminuir o número de focos. Sabemos que com o período de chuvas provavelmente teremos uma nova população de vetores”, disse. “A medida não é para que não tenhamos dengue, mas para que tenhamos condições de prestar a devida atenção para essas pessoas que venham adoecer”.
Com relação à febre chikungunya, ele disse que não é possível evitar que o vírus entre no Estado. “O que temos a fazer é nos preparar para fazer ações de controle e para ter condições de dar uma resposta tanto na questão da investigação quanto no manejo clínico do paciente que possa vir infectado não só com o vírus da dengue, mas também com o da chikungunya e até mesmo outras doenças”, enfatizou.
MEDIDAS – No que diz respeito ao fechamento da fronteira como forma de evitar a entrada do vírus no Estado, Joel Melo explicou que deve ser seguido o Regulamento Sanitário Internacional, que proíbe a questão. Para ele, a medida não resolveria o problema.
Uma medida adotada pelas autoridades de saúde foi propor parceria com uma equipe de saúde de Bolívar para que pessoas doentes vindas daquele estado passem primeiro pelo hospital de Pacaraima. “Lá o paciente será estabilizado e manuseado clinicamente conforme suas condições, para posteriormente ser transportado para o município de Boa Vista”, explicou.
O diretor do Departamento de Vigilância anunciou o lançamento de uma nota técnica de orientação aos municípios, tanto para a área da assistência quanto para a área de controle vetorial. A Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde também estará trabalhando em parceria com uma equipes de saúde dos 15 municípios a fim de tomar as decisões e definir estratégias mais avançadas para o combate ao mosquito.
O primeiro município a se reunir com a Coordenadoria foi Pacaraima, localizado na fronteira com a Venezuela, de onde ações já estão definidas e logo mais serão executadas. Na tarde de ontem, uma reunião foi realizada também com o Comitê de Ações de Controle da Dengue do Município de Boa Vista.
Joel Melo enfatizou sobre o carro fumacê que não tem mais circulado pelas ruas devido à baixa transmissibilidade da dengue. “Justificados pelo eminente risco de entrada de um novo vírus, nós voltaremos a usar os carros, mas a população também deverá colaborar evitando acúmulo de lixo no quintal e nas ruas”, destacou.
CHIKUNGUNYA – De origem africana, o vírus causador da doença também chamada de chikungunya, semelhante à dengue, espalhou-se pelo continente asiático chegando à Europa e recentemente às Américas Central e Sul.
O chikungunya é uma doença que tem baixa letalidade e alguns estudos realizados na Ásia e na África apontam que essa letalidade também depende das condições biológicas de cada população, conforme informou o diretor do Departamento de Vigilância. “Em média a mortalidade está de 0,06%, sendo considerada baixa. Como sempre, quem são mais atingidos são crianças e idosos”, afirmou.
A doença demora alguns dias para se manifestar e causa febre alta por até oito dias seguidos. A princípio, ela tem uma capacidade de deixar a pessoa fora de ação por muito tempo (de 6 meses a 1 ano). O que a diferencia da dengue são as fortes dores nas articulações. As dores tornam-se mais intensas em pessoas com tendência a ter doenças reumáticas, problemas com artrose ou artrite.
Superlotação do HGR também preocupa autoridades estaduais
O coordenador de Urgência e Emergência da Secretaria Estadual da Saúde (Sesau), Álvaro Forte, também presente na coletiva, destacou com relação ao Hospital Geral de Roraima (HGR), onde desde a semana passada ações vêm sendo discutidas com a Coordenação de Vigilância. “Hoje temos uma possibilidade de entrada de um número maior de doentes com dengue, pois temos todos os fatores que vão adicionar mais doentes”, disse.
Por essa razão, o coordenador ressaltou a necessidade de agir de forma preventiva para reduzir o número de pessoas atingidas pela dengue ou chikungunya, evitando uma superlotação na unidade hospitalar. “Com grande número de pessoas doentes, principalmente se for com chikungunya, nós teríamos uma população de trabalhadores que não conseguiriam trabalhar, diminuindo a força de trabalho no Estado”, analisou.
Segundo Álvaro Forte, já está pronto um plano de contingência dentro do HGR para absorver a população que possa ficar doente. “Hoje nós temos os leitos de retaguarda do Hospital Lotty Iris, que darão suporte caso haja necessidade”, informou.
Conforme ele, atualmente a unidade disponibiliza 44 leitos de retaguarda, mas ainda este mês passará para 60 leitos. “Isso nos dá um suporte para que não aconteça o que ocorreu em outras épocas: o hospital enchendo de pacientes. Além disso, estaremos conversando com os municípios para que também nos deem suporte necessário”, disse. (M.F)
Cotidiano
Decretado estado de alerta em Roraima
Preocupação aumenta com a infestação do mosquito transmissor da dengue e chikungunya em Roraima, além da presença do vírus nos países vizinhos