Cotidiano

Delegada diz que é preciso bom senso antes de registrar caso na polícia

Na semana passada foram registrados pelo menos cinco desaparecimentos de pessoas em Roraima. Há também este ano denúncia de sequestro. Os casos ocorrem com mais frequência com adolescentes, mas, segundo a Polícia, a maioria não passa de “alarme falso”, ou seja, os jovens saem de casa sem avisar, a família dá queixa na Polícia, mas dias depois o “desaparecido” reaparece.

Moradora do bairro São Vicente, zona Sul da Capital, a autônoma Rosângela Ramos, de 39 anos, mãe de um casal de adolescentes, passou apuros no mês passado. Ela contou que havia chegado do trabalho, à noite, e a filha de 16 anos não estava em casa. O filho de 17 anos havia acabado de chegar e também disse que não sabia do paradeiro da irmã.

“O celular dela só caía em caixa postal. Então, comecei a ligar para amigas dela, da escola, mas ninguém sabia. Fui ainda a alguns lugares que ela frequentava, mas me informaram que ela não havia aparecido. Não consegui dormir esta noite. Foi horrível”, lembra a mãe.

Assim que amanheceu, a autônoma procurou a Polícia. Como a jovem não era de sair de casa sem avisar, as investigações logo começaram, mas ninguém descobriu o paradeiro da adolescente. Três dias depois, relembra a mãe, a filha apareceu em casa, como se nada tivesse acontecido.

“Não sabia se dava uma surra nela ou a abraçava. Sabe o que ela disse? Que estava pro interior com o novo namorado, outro adolescente, e que lá não pegava celular, por isso ela não entrou em contato. Ela ficou uma semana de castigo sem poder acessar internet”, ressaltou a mãe.

É comum também o sumiço de jovens e até crianças quando há briga familiar. O menor desaparece por um tempo e os responsáveis correm à delegacia, mas dias depois o sumido reaparece. Casos como esse também ocorrem com frequência em Boa Vista, mas o sumiço temporário de uma pessoa pode ter uma grande repercussão e gerar até comoção quando cai nas redes sociais ou quando é divulgado no aplicativo WhatsApp.

Por isso, a delegada Suébia Cardoso, da Polícia Civil, orienta as pessoas a terem cuidado com a disseminação de informações a respeito de “desaparecidos” porque, segundo ela, muitos casos são factoides, ou seja, não procedem. “Mas as pessoas querem divulgar, querem aparecer. Isso às vezes se torna até um ato de irresponsabilidade”, observou.

Suébia disse que não existe prazo para registrar um desaparecimento, mas, segundo ela, deve haver bom senso, pois cada caso é um caso. “Deve-se avaliar o cotidiano da pessoa. Veja bem. Uma pessoa sai para comprar pão e não volta mais. Aí, a família esperando o pão para tomar café, mas nada do menino chegar. Então, tem que ser rápido e registrar logo o B.O (Boletim de Ocorrência)”, disse.

Mas tem casos, ainda conforme a delegada, em que o jovem é acostumado a sair sem avisar e passar até dias fora de casa. “Neste caso, antes de registrar o desaparecimento, é aconselhável que a família procure primeiro na casa de amigos, namorado (a) e em lugares que ele é acostumado a frequentar. Como disse: deve-se avaliar o cotidiano da pessoa, pois cada caso é um caso”. (AJ)
 
Governo cria Cadastro Nacional de Desaparecidos

A cada ano, em média, 250 mil pessoas desaparecem no Brasil sem deixar rastro. Dessas, 40 mil têm menos de 18 anos. Criado pelo Governo Federal, o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos tem como proposta montar um banco de dados seguro, capaz de auxiliar na difusão de informações e no esclarecimento dos casos de desaparecimento.

Mas mesmo após passar por reformulação, a nova versão colocada no ar até agora não conseguiu se consolidar como uma referência no enfrentamento da questão. A baixa adesão sinaliza a falta de efetividade da ferramenta. Passados quatro anos, a quantidade de inscritos não chega a 400 em 20 estados.

O Ministério da Justiça destacou que a Secretaria Nacional de Segurança Pública está integrando os boletins de ocorrência nas Polícias Civis dos Estados por meio da Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização (Rede Infoseg) e do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas (Sinesp). (AJ)