O Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) está passando por um momento crítico, segundo a denúncia recebida pela FolhaBV nesta terça-feira, dia 28. Documentos aos quais a reportagem teve acesso, revelam a falta de antibióticos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, o comprometimento da escala de plantão para o mês de março, após findar o contrato de médicos seletivados e o aumento da taxa de mortalidade de recém-nascidos.
O denunciante compartilhou com a reportagem da Folha um memorando, elaborado pela administração, composta por Diretoria técnica e Direção Geral da Unidade, pedindo providência para contratação de novos profissionais, tendo em vista o fim da vigência do processo seletivo, o que acarretou na perda de vínculo e no problema de escala dos servidores responsáveis pelo atendimento à população. O texto de solicitação informa: “Visto que somos poucos na composição do corpo clínico deste serviço que conta com as altas demandas de atendimento e assistência a gestante, puérperas e recém-nascidos”, reiterou.
Em outra oportunidade, a Direção Técnica voltou a cobrar, no dia 02 de fevereiro, a escassez de antibióticos na UTI do Hospital Materno. “Considerando o risco de sepse [complicação de infecção potencialmente capaz de matar] e choque séptico [infecção grave] a que os recém-nascidos são submetidos dentro de uma UTI neonatal, relato que, no atual momento, não dispomos de antibióticos de primeira e segunda linha na Unidade, bem como a ausência de antifúngicos para tratamento de sepse fúngica. Estamos fazendo o que temos, escalonando esquemas antibióticos e caminhando totalmente contra todas as referências bibliográficas e protocolos mundiais em neonatologia”, destacou o memorando.
O documento ainda salientou que a ausência dos medicamentos compromete a qualidade da assistência médica, aumentando o tempo de internação dos pacientes e elevando a resistência bacteriana, resultando no aumento de óbitos. “A UTI neonatal é a última chance de sobrevivência do bebê que nasce com algum comprometimento de saúde, e o lugar onde os pais depositam toda a sua expectativa e esperança em salvar a vida dos seus filhos. Infelizmente, sem os insumos necessários e adequados, nós como médicos especialistas, mesmo portadores de todo conhecimento para a assistência de excelência, somos impedidos do bom exercício profissional, devido às condições de trabalho estarem prejudicadas”, frisou.
Atualmente, a equipe médica listou a ampla falta de antibióticos como ampicilina; gentamicina; amicacina; piperacilina+tazobactam; oxacilina; cefepime; vancomicina; anfotericina B lipossomal; metronidazol; cefazolina; cefalotina; claritromicina.
A folha teve acesso à escala de atendimento dos médicos plantonistas especialistas e subespecialistas em Pediatria/Neonatologia e Ginecologia e Obstetrícia. Por conta da deficiência na escola de profissionais, um documento foi enviado ao Conselho Regional de Medicina (CRM) para relatar o que a equipe técnica chamou de “situação de alerta”.
“Observamos situações de ausência de médico em setores críticos ou até mesmo colegas, sozinhos, fazendo cobertura de setores com alto fluxo de atendimento. Nota-se também colegas médicos escalados sozinhos e, consequentemente, dando cobertura a mais de um setor, o que culmina em falta de condições mínimas para o exercício profissional”, alertou o responsável pela elaboração do documento.
A escala deste mês de março tem diversas lacunas, com um total de 177,5 plantões de 12h vagos, sendo necessário um total aproximado de 14 médicos com carga horária de 40h semanais para que a escala de atendimentos ficasse completa.
“A crise na gestão da saúde chegou à maternidade, então, os números de parto e atendimento vêm caindo em relação a janeiro e fevereiro dos últimos anos, conforme os relatórios e, em contrapartida a taxa de mortalidade duplicou, dobrou em janeiro. Tem documento da própria administração solicitando remédios, informando da crise e isso tem repercutido neste momento crítico de mortes. O mais grave é que as escalas de março demonstram várias falhas, vários pontos sem médicos, até porque o contrato dos médicos terceirizados, do seletivo, acaba nesta terça-feira, dia 28, e estão sem médicos, com escalas vazias e sem perspectiva de melhora, apenas piora no mês de março”, salientou o denunciante.
DADOS – Até o dia 22 de fevereiro, foram realizados 266 partos cesáreos; 385 partos normais; 51 curetagens; 22 cirurgias eletivas; 18 cirurgias de urgência e um total de 742 procedimentos. Foram 651 partos no segundo mês do ano. Ainda em fevereiro, 2.170 mulheres brasileiras foram atendidas; 280 indígenas brasileiras; 467 venezuelanas; nove guianenses e quatro de outras nacionalidades, um total de 2.930 atendimentos.
Até o dia 31 de janeiro deste ano, a taxa de mortalidade neonatal era de 19,34%, sendo superior a taxa de mortes de bebês durante todo o ano de 2022 (10,64%), assim como de 2021 (12,02%), 2020 (14,26%) e 2019 (11,48%).
Dados comparativos mostram que em janeiro de 2022, dos 924 partos, houveram 14 casos de óbito neonatal, com uma taxa de 15,25%. Em janeiro de 2023 foram 890 partos e 17 óbitos neonatais, com uma taxa de 19,34%.
Quanto ao total geral de procedimentos, em 2019 foram 13.625; em 2020 foram 11.756; em 2021 foram 11.729; em 2022 foram 12.046; em 2023 foram 1.764. Quase 51 mil procedimentos nos últimos quatro anos agregados ao levantamento feito até o dia 22 de fevereiro deste ano.
Em relação aos partos cesarianos, em 2019 foram realizados 4.072; 3.602 em 2020; 3.382 em 2021; 3.412 em 2022 e 568 até o dia 22 de fevereiro de 2023. Totalizando 15.036 no montante dos últimos quatro anos e de quase todo o primeiro bimestre do corrente ano.
Já os partos normais foram contabilizados da seguinte forma: 7.553 em 2019; 6.618 em 2020; 6.888 em 2021; 6.481 em 2022 e 973 até o dia 22 de fevereiro deste ano, totalizando 28.513 na soma dos últimos quatro anos até o fim do mês de fevereiro.
O OUTRO LADO – Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de Roraima informou que “vem a público esclarecer as informações caluniosas divulgadas por alguns órgãos de imprensa de Estado que, de forma leviana e de certo modo irresponsável, vêm tentando causar desequilíbrio na sociedade roraimense, em especial as gestantes que fazem uso da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth”.
A Sesau esclarece que somente nos meses de janeiro e Fevereiro de 2023 foram realizados 4.082 partos (2.033 em janeiro e 1.749 em fevereiro) na Maternidade, e que no mesmo período do ano passado foram contabilizados 2.039 partos (1.061 em janeiro e 978 em fevereiro), um aumento maior do que o dobro.
Ressalta ainda que em janeiro e fevereiro de 2022 foram contabilizados 19 óbitos (13 em janeiro e 6 em fevereiro) não-fetais (0 a 28 dias de nascido), e que no mesmo período deste ano foram contabilizados até o momento 17 óbitos não-fetais (15 em janeiro e 2 em fevereiro) na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth. Logo, se comparado com a quantidade de partos e nascidos vivos nos 2 primeiros meses dos referidos anos evidenciamos uma redução na Taxa de Mortalidade Não-Fetal.
É importante frisar ainda que todos os dados apresentados se encontram disponíveis no site da Sesau-RR (www.saude.rr.gov.br) para análise de qualquer indivíduo, a todo momento.
Salienta ainda que a Sesau vem realizando credenciamento médico para todas as especialidades, inclusive Médicos(as) Obstetras para fortalecer o atendimento em todas as unidades de saúde e que mesmo com o aumento significativo (mais que o dobro) de partos realizados na Maternidade Estadual, em nenhum momento houve desassistência às gestantes como comprovam os números que mostram uma redução na Taxa de Mortalidade Não-Fetal.
NOTA DA REDAÇÃO
A FolhaBV esclarece que todas as informações que recebeu sobre a denúncia descrita na matéria, provêm de documentos que comprovam os dados publicados por este veículo de imprensa.
A FolhaBV, nestes quase 40 anos, tem pautado sua linha editorial em favor da sociedade. Denúncias e matérias investigativas que demonstrem qualquer dano à comunidade, serão nossas prioridades.
A tentativa de atacar quem denuncia, só demonstra um autoritarismo característico de pessoas que não aceitam ser criticadas, quando deveriam priorizar o bom atendimento e as vidas humanas.
*Atualizada às 11h00 desta quarta-feira (01), com notas da Sesau e da Redação.