A pandemia do novo coronavírus fez com que muitas pessoas passassem a olhar com mais carinho para as viagens nacionais assim que for seguro tirar férias. Por sorte, há destinos belíssimos no país, muitos deles ainda pouco conhecidos do grande público. Um exemplo é o Monte Roraima, situado na divisa entre Brasil, Venezuela e República Cooperativista da Guiana.
Frequentado por aventureiros, cientistas, biólogos, antropólogos, esotéricos, fotógrafos, cineastas e místicos, o local marca o sétimo ponto mais elevado do Brasil, com 2.739 metros. Seu nome deu origem ao estado de Roraima e é formado pelas palavras “roroi” (verde azulado) e “ima” (grande), na língua pemon (de indígenas que vivem ao sul da Venezuela).
A história do Monte Roraima
O primeiro homem a catalogar o local foi o inglês Sir Walter Raleigh em 1595, que chegou até a base, mas não conseguiu subir o Monte Roraima. Essa proeza foi realizada apenas em 1884, quando o botânico Everard Im Thurn explorou a região. Seus relatos teriam inspirado o escritor Arthur Conan Doyle a romance o livro “O Mundo Perdido”.
Lagoa no Monte Roraima (Foto: Dulce Marchioro/Reprodução)
Como todos os picos da região, o Monte Roraima começou a ser formado há quase dois bilhões de anos, quando nem sequer os continentes apresentavam seus contornos atuais. Em seu topo há pedras escuras com formas e dimensões distintas que variam conforme a luz, formando uma paisagem belíssima.
Muitos trechos de seus quase 90 km de área permanecem intocados, seja pela dificuldade de acesso ou pelas crenças indígenas que os isolam. O Vale dos Cristais, local próximo ao ponto que marca a tríplice fronteira, por exemplo, só foi desbravado em 1976.
Tudo isso emprestou uma aura de mistério ao Monte Roraima. Visitantes e estudiosos juram ter visto criaturas pré-históricas ou ouvido urros estranhos por lá, o que atrai muitos místicos à região. Os únicos seres vivos devidamente registrados no topo, porém, são formados por grupos de pássaros, insetos e anfíbios – entre eles a peculiar borboleta-tigre e o sapo preto da barriga vermelha, do tamanho de uma unha.
Estima-se que pelo menos 400 tipos de bromélias e mais de 2 mil tipos de flores e samambaias compõem a diversidade da flora do Monte Roraima. Forçadas a adaptar-se por causa da falta de nutrientes do solo, elas evoluíram em novas espécies – as bromélias, por exemplo, criaram surpreendentes hábitos carnívoros, alimentando-se de insetos.
O que fazer no Monte Roraima
Quem vai ao Monte Roraima pode fazer trekkings de diferentes níveis para se conectar com a natureza e ver de perto as grandes atrações da região, O marco piramidal que define a tríplice fronteira (um elemento totalmente estranho à paisagem) fica numa espécie de arena, cercado por impressionantes formações. De um lado, desprende-se o Vale dos Cristais, extenso e bonito (na Venezuela). Do outro, o temido Labirinto (na Guiana).
Um caminho repleto de fendas e lagoas leva ao paredão do lado brasileiro. Muito além do Labirinto fica o Lago Gladys. Alguns índios dizem que o local não existe e criam dificuldades para quem deseja encarar os mais dois dias de trilha “suicida” a partir do ponto tríplice. O caminho ao Gladys é apenas um entre os muitos temores dos índios pemons, que exercem um estranho controle sobre a montanha.
Sozinho ou em grupo, fazer as trilhas que levam ao topo do Monte Roraima é uma aventura inesquecível. Para realizá-la, no entanto, é preciso se planejar com calma e ter um bom preparo físico.
SERVIÇO
Como chegar
O Monte Roraima fica ao norte do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela e Guiana. A melhor forma de chegar lá é pegar um avião até Boa Vista. A partir da capital, deve-se rodar quase três horas pela BR 174 até Santa Elena de Uairén, totalmente asfaltada. Depois, mais 68 km até a entrada da vicinal que conduz à Comunidade Indígena de Paraitepuy, localizada no Parque Nacional Canaima.
Quando ir
A melhor época é no período menos chuvoso, que compreende os meses de setembro a abril. Nesse período, as trilhas ficam menos escorregadias, a travessia de alguns rios é menos complicada e há um pouco mais de “conforto” nos acampamentos. As viagens nos outros períodos representam uma aventura maior, compensada também pelo espetáculo das cachoeiras mais densas. A temperatura na base oscila em torno dos 20ºC, e no topo fica por volta de zero graus à noite.
Quem leva
A Roraima Adventures é uma das principais operadoras de turismo da região. Mais informações e reservas: www.roraimaadventures.com.br ou (95) 3624-9611.
Fonte: Diário do Grande ABC