Quem um dia escolheu o caminho do crime, hoje tem a oportunidade de escrever uma história diferente. Esse é o caso dos presidiários que são alunos da Escola Estadual Professora Crisotelma Francisca de Brito Gomes, localizada na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC).
A reportagem da FolhaBV esteve na PAMC para conhecer o projeto que vem sendo executado e ampliado pela nova diretoria da Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (SEJUC) para zerar o número de analfabetos dentro dos presídios de Roraima e aumentar as oportunidades de reinserção dos presos após o fim da pena, tendo em vista que o analfabetismo exclui uma parcela da população do acesso às informações mais básicas.
Além da PAMC, as aulas também são realizadas na Cadeia Pública Feminina e Masculina de Boa Vista e disponibiliza de turmas da 1º série do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, dando a oportunidade de quem está atrás das grades ter acesso ao sistema educacional em todos os níveis.
Relatos de detentos
Os conteúdos vistos em aula são em grande parte novidade para os detentos que não tiverem a oportunidade de frequentar ou concluir os estudos. Aulas de Artes, Geografia e Ciências estão entre as preferidas do detento J.K.D.S, que aos 28 anos, está cursando o 1º ano do Ensino Médio.
“Os professores se esforçam muito para nos transmitir de uma forma simplificada e alcançar um resultado construtivo. No meu ponto de vista eu tenho melhorado muito daquilo que eu era há oito anos atrás. Coisas que no passado via como antiquadas, hoje são muito importantes. O estudo é muito importante na vida daqueles que querem se ressocializar”, relatou o jovem.
Pessoas com níveis insuficientes de alfabetização possuem menos oportunidades profissionais ou pessoais e têm dificuldade de acesso aos seus direitos. Apesar do interesse, a necessidade de um trabalhar desde a infância fez com que algumas pessoas não tivessem acesso ao direito básico de aprender a ler e escrever.
“Morava no interior, na roça do Maranhão e não tive a oportunidade de estudar. Meus irmãos eram pequenos e eu sempre precisava cuidar deles. Agora, com 53 anos, eu sei ler e escrever. Me sinto melhor”, contou um presidiário.
Gestão da Escola
Com um total de 224 alunos distribuídos entre as séries e turnos, Francisca Pereira, coordenadora pedagógica da Escola, destaca que o trabalho é realizado com o melhor que está ao alcance dos funcionários, com respeito, qualidade e segurança aos envolvidos.
“Trabalhar na Crisotelma traz um certo receio, mas costumo dizer que aqui estamos mais seguros que lá fora. Seja Física, Química ou Inglês, aqui temos todas as disciplinas e um professor para cada área. Muitos não têm documentação e precisamos correr atrás. Para o professor, é arregaçar a camisa e trabalhar para ver os resultados no período do Encceja, Enem…Ver 700 pontos em algumas áreas é muito gratificante”, ressaltou a coordenadora.
O diretor do Departamento de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania da SEJUC, Hallison Santana, completou que um projeto para oferecer cursos profissionalizantes no local está em andamento para iniciar ainda este ano. Ele ressaltou a importância de trabalhos dedicados à educação dos presidiários e como isso exige uma atenção maior dos órgãos competentes.
“Vemos os resultados do empenho na questão educacional e isso alimenta a gente a querer sempre mais. A grande dificuldade que temos hoje é vencer aquela visão da população do que era antes, em 2018, para o que é hoje. Estamos com um sistema 100% controlado e graças a esse controle conseguimos atingir os números na educação, com mais de 400 alunos no sistema regular. Vamos vencendo as guerras, pois tudo é uma construção e ainda melhorar esse número”, pontuou Hallison.
Para Oliveira Júnior, gestor administrativo da Crisotelma, o termo de cooperação técnica que passou a responsabilidade do sistema educacional de dentro dos presídios para a SEJUC, teve um impacto positivo, pois triplicou o número de alunos atendidos nas três unidades prisionais do Estado.
“É muito gratificante para nós que temos a oportunidade de estar aqui. Conseguimos desenvolver coisas que tínhamos esquecido e temos proximidade com aquilo que estávamos à margem. Nos esforçamos para dar o nosso máximo para demonstrar que não está sendo em vão para eles”, finalizou um presidiário, sobre o sentimento em fazer parte do projeto.