Cotidiano

Detentos têm até esta sexta para se inscrever no Enem Prisional

Até agora, 60 reeducandos já fizeram a inscrição para a prova, que acontece em dezembro dentro das unidades prisionais

Pagar por um erro pode ser uma maneira de recomeçar. Dotado deste pensamento, o reeducando Wellington Gentil Pereira, 40 anos, encontrou uma nova maneira para cumprir sua pena – na Cadeia Pública de Boa Vista – quando prestou, no ano de 2012, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) Prisional e foi aprovado para o curso de Administração de Empresas.

A oportunidade de fazer um curso superior também é vivenciada por mais 18 reeducandos em Roraima e está com inscrições abertas até o dia 23 deste mês para aqueles que querem obter uma qualificação superior enquanto cumprem com seu dever perante a sociedade. Até o momento, o sistema prisional de Roraima registrou 60 reeducandos inscritos.

De acordo com o Governo do Estado, no ano passado, o sistema registrou 127 inscrições para o Enem Prisional. A meta para este ano, conforme o secretário de Justiça e Cidadania, Josué Filho, é que o número de inscritos aumente. “Nós reforçamos o estímulo à educação buscando todos os benefícios assegurados em Lei para promover a ressocialização e possibilitar que estas pessoas tenham oportunidade de crescer e se preparar para o retorno à sociedade”, disse.

As provas, previstas para serem aplicadas nos dias 01 e 02 de dezembro nas seis unidades prisionais do Estado, obedecem ao mesmo padrão das provas aplicadas pelo Enem normal. As notas do Enem podem ser usadas nos processos seletivos do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que oferecem bolsas de estudo em instituições de ensino superior em faculdades particulares e também possibilita o acesso a instituições públicas. Atualmente, no Estado, existem 19 reeducandos cursando o ensino superior um formado pelo Instituto Federal de Roraima (IFRR).

Logo após entrar no sistema, o reeducando Welligton Pereira aproveitou a oportunidade e realizou a prova do Enem. Após obter o êxito no exame, o reeducando solicitou a liberação para ir às aulas da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejuc) e foi liberado para iniciar seus estudos no semestre 2012.2.  

“Quando eu fui informado que eu tinha alcançado nota para me inscrever em dois cursos, Analista Ambiental e Administração, eu fiquei alegre e surpreso. A gente, dentro do sistema prisional, de repente tem a oportunidade de estudar e de escolher o curso.Foi uma surpresa maravilhosa. Não só para mim, como para os meus colegas de dentro da cadeia”, lembrou o detento.

Ele conta que todas as segundas-feiras vai à faculdade acompanhado de uma escolta policial. “Hoje eu tô no sexto semestre de muita dedicação e estudo”, disse. De acordo com Wellignton, sua condição de reeducando não foi empecilho na hora de se relacionar com os colegas de curso. “Graças a Deus eu tive uma receptividade muito boa. No começo, eu me preocupei em como eles iriam me receber, mas eu tive uma grande surpresa. Todos eles me tratam muito bem, quando tem um trabalho eles me ajudam”, disse.

Sobre a experiência, ele afirma que precisa ter dedicação. “Todo mundo passa dificuldades. Eu vejo todos os meus colegas também tendo que se empenhar para aprender, mas o que vale é avontade, o esforço pra conseguir”, afirmou.

Conforme o reeducando, o apoio da família, dos colegas de curso e da direção da cadeia tem sido fundamental. “Eu tenho que visitar empresas lá fora, digitar trabalhos, e para tudo isso tenho tido ajuda deles, que sempre estão dispostos. Fora toda a logística elaborada pelos diretores da Cadeia, que sempre me deram todo o apoio possível”,ressaltou.

Sobre a conclusão do curso e a expectativa de poder iniciar uma carreia quando concluir sua pena, Welligton afirmou estar ansioso e pronto para recomeçar. “Quando a gente tá nesse processo é por que nós erramos e temos que pagar. Então nós chegamos aqui sem nenhuma expectativa, muitas vezes confiando só em Deus, e quando eu comecei a estudar, eu comecei a me ver e projetar o meu futuro com esse curso. Não só eu, como a minha família. Agora que eu sei que quando a gente se esforça pode ser recompensado. Acredito que vou sair, conseguir um trabalho, exercer minha profissão”, frisou.

Mesmo internado em unidades prisionais, não há distinção destes candidatos para os demais concorrentes, inclusive, o cálculo da avaliação é o mesmo. As provas do Enem nos presídios possuem o mesmo grau de dificuldade e a mesma estrutura das provas realizadas em todo o Brasil: provas objetivas de múltipla escolha e uma redação.

Foi assim que o reeducando E. R. A., da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), teve conhecimento da prova. “Eu entrei no sistema prisional em 2011 e vi que o reeducando tinha a oportunidade de fazer uma faculdade. Como eu ainda não tinha o Ensino Médio, eu comecei a estudar e concluir meus estudos dentro do sistema”, lembrou.

No ano seguinte, E. R. A. realizou a prova do Enem e conseguiu aprovação para dois cursos, o de Pedagogia e o de Letras. “Fiz a prova e obtive a aprovação em 2013. Em 2014, eu pedi a autorização para sair, mas foi negada. Só que agora, neste ano, a Sejuc fez um novo pedido. Eu já fui a uma audiência para ser liberado e acredito que esse ano eu vou conseguir”, afirmou.

Ele explicou que desde que ingressou no sistema prisional tem procurado estudar. “Fiz vários cursos desde que entrei no sistema. Aprendi computação, fiz um curso de eletricista e agora faço de um Biblioteconomia. Hoje vejo que, a cada novo curso, eu ganho uma visão nova de vida e os professores me mostram um mundo de oportunidades para poder recomeçar minha vida quando eu sair daqui. Acredito que uma formação superior vá melhorar muito mais minhas condições e por isso não vou desistir”, ressaltou.

ACESSO AO ENSINO SUPERIOR – O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma prova criada em 1998 pelo Ministério da Educação e utilizada como ferramenta para avaliar a qualidade geral do Ensino Médio no país. Posteriormente, o exame começou a ser utilizado como exame de acesso ao Ensino Superior em universidades públicas brasileiras através do SiSU(Sistema de Seleção Unificada) e universidades privadas pelo Prouni. O Enem é o maior exame do Brasil, que conta com mais de 4,5 milhões de inscritos divididos em 1.698 cidades do País. (J.L)