Cotidiano

Diferentemente do restante do país, Roraima começa colheita de soja este mês

Segundo dados da Expedição Safra, projeto que monitora a produção de grãos no Brasil e no mundo, com 18 mil hectares cultivados, o estado colherá 50 mil toneladas este ano.

Mariana Branco  Agência Brasil 
Enquanto no restante do Brasil terminou a colheita de soja e foi iniciado o plantio para a próxima safra, Roraima tem realidade diferente. Situado no Hemisfério Norte e com regime de chuvas diferente das demais regiões, o estado  começa a colher o grão agora. Trata-se, no momento, do único local com oferta de soja no país. A quantidade plantada na área ainda é pouco representativa no cenário nacional. Mas a produção, destinada principalmente à exportação, tem potencial para crescer.
Segundo dados da Expedição Safra, projeto que monitora a produção de grãos no Brasil e no mundo, com 18 mil hectares cultivados, o estado colherá 50 mil toneladas este ano.  O volume é pequeno no universo de 86,12 milhões de toneladas de soja previstas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de 2014. Mas Giovani Ferreira, coordenador do projeto, ressalta a perspectiva de crescimento e a importância local da atividade.
Ele ressalta que a colheita prevista para este ano representa 100% de crescimento em relação à da safra anterior. Giovani cita ainda projeções da Expedição Safra, segundo as quais em 2019 a área plantada de soja será 120 mil hectares, o que, calcula, pode resultar em uma colheita de 360 mil toneladas do grão. “É um impacto grande na economia local, porque a soja tem grande valor agregado. Tem impacto médio na economia regional e, quando a gente fala de participação na produção nacional, tem que esperar [o crescimento nos próximos anos] para avaliar”, comenta.
O coordenador acredita que a elevação na produção de soja em Roraima pode superar as projeções. “Pode ser mais do que isso [estimativa], a depender do processo de regularização de terras”. Há alguns anos, a União iniciou processo de transferência de terras para o estado de Roraima. Muitos ocupantes estão às voltas com regularização da titularidade e licenciamento ambiental. No início de setembro, o Supremo Tribunal Federal determinou a suspensão das transferências da União até a regulamentação da Lei 10.304/2001, que trata do assunto. 
Segundo Giovani Ferrreira, a melhora na infraestrutura também pode ajudar na expansão da soja na região. “[O produtor] precisa de empréstimos para armazéns. Hoje, o número é muito pequeno. Você colhe e já tem que escoar”, acrescenta. O escoamento tem sido feito por Manaus ou Itacoatiara.
No caso da capital amazonense, a 700 quilômetros de Boa Vista, como o porto não tem estrutura para embarcar grãos em navios, o embarque de 23 mil toneladas exportadas à Rússia na safra passada ocorreu em sacolas, o que gerou custo adicional aos produtores. Em Itacoatiara há estrutura para o embarque, mas é preciso rodar 270 quilômetros adicionais para chegar à cidade e o porto é particular. “A logística [atualmente] é básica, mas pode melhorar”, diz Ferreira.
Segundo o produtor rural Geison Nicaretta, presidente da Comissão Organizadora da Colheita de Soja do Estado de Roraima, o escoamento ideal seria por Georgetown, capital da Guiana Inglesa, a 650 quilômetros de Boa Vista e onde há um porto adequado. Mas, por enquanto, não há asfalto que permita chegar lá. “Estão sinalizando que vai ter duas hidrelétricas e, quando sair, o asfalto é um dos requisitos”, informou, referindo-se a projeto debatido entre o governo brasileiro e a Guiana para a construção das hidrelétricas em território guianense e uma rota por terra até Roraima.
Geison explica que, em Roraima, o período de chuvas começa em maio e vai até o fim de setembro. “A janela de plantio é a mesma dos Estados Unidos. A gente planta em maio e setembro é a colheita”, explica. No restante do Brasil, a soja é plantada entre setembro e outubro e colhida em janeiro. “Quando eles [outros produtores] terminam, nós estamos nos preparando [para começar].  É vantajoso porque, quando a gente vai comercializar o nosso grão, no resto do Brasil não está tendo mais soja. Então a gente pega preços mais elevados. E a nossa soja é convencional não é transgênica”, diz.