Cotidiano

Dois bebês morrem em indução de parto

Em um terceiro caso denunciado, um recém-nascido foi parar no balão de oxigênio depois do processo de parto induzido

Durante o processo de indução de parto, que provoca artificialmente o trabalho de parto, duas crianças morreram e um bebê precisou ser levado para o balão de oxigênio somente esta semana no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), conforme denúncias feitas à Folha.
Na primeira situação, uma mãe de 22 anos chegou ao HMINSN no domingo, por volta das 7h, em trabalho de parto. Porém, conforme um funcionário que pediu para não ser identificado, na tentativa de se forçar o parto normal, o feto perdeu oxigênio e morreu ainda na barriga.
“Só perceberam que o bebê estava morto quando realizaram um exame para ouvir os batimentos cardíacos do neném, o que deveria ter sido feito bem antes, mas então já era tarde”, disse o denunciante. Ele explicou que os familiares procuraram a diretoria da unidade que se limitaram a afirmar que “isso acontece”.
O segundo caso, denunciado por parentes da mãe, que também preferiram o anonimato, ocorreu na madrugada de quarta-feira, quando na tentativa de forçar o parto normal, o bebê morreu dentro da barriga. “Eles enrolaram demais para decidir fazer a cesariana e o bebê passou da hora de nascer”, lamentou um familiar.
A Folha apurou ainda que um terceiro caso ocorreu na manhã de ontem, quando na tentativa de forçar o parto a mãe teve hemorragia e foi necessário levar o bebê para o balão de oxigênio, correndo o risco de ter complicações.
ESPECIALISTA – Conforme o obstetra e presidente do Sindicato dos Médicos de Roraima, Wilson Franco, o procedimento é conhecido como indução de parto e não apresenta qualquer complicação para a gestante e para o feto.
“Esse é um procedimento técnico normal. Não existe nenhum perigo iminente comprovado em induzir ou conduzir o parto normal. É um procedimento certo, com indicação precisa, que não é motivador para causar complicações. Ele é iniciado na fase final do parto e que tem um ordenamento preciso para ser realizado, usando-se medicamentos para estimular as contrações que já estão acontecendo, para organizá-la, melhorá-la e potencializar esse processo natural que é o parto vaginal”, frisou.
Explicou que, a partir do momento em que a mulher chega à unidade em trabalho de parto, alguns procedimentos devem ser seguidos. “Primeiro ela precisa ser examinada por um obstetra para saber qual a evolução do quadro, porque ela só pode ser internada quando já se transcorreu 50% da evolução do parto. Logo depois ela deve ser internada e ali acompanhada intensamente, quando se deve acompanhar os batimentos cardíacos fetais, o nível de contrações, a pressão arterial. Tudo isso faz parte do partograma, que dá os passos da evolução desse processo”, explicou.
Conforme Franco, 90% dos partos realizados no Estado são normais e outros 10% terminam em cesariana. “Mas só ocorrem cesarianas com indicação precisa. Durante a evolução do trabalho de parto é identificado se existe a necessidade de iniciar uma cesariana. Isso depende de uma indicação que pode vir tanto de uma origem materna quanto de uma origem fetal, a exemplo de pré-eclampsia, hipertensão, diabetes, quando o feto está muito grande, conhecidos como macrossômicos, o que torna o parto normal um risco a vida da mãe e da filho”, complementou.
Para ele, casos como esses que ocorreram nesta semana poderiam ser resultado de desatenção de profissionais. “O principal fator para um parto ocorrer com sucesso é o acompanhamento. A evolução do trabalho de parto, quando bem acompanhada, determina quais as medidas corretas a serem adotadas, e o procedimento de indução de parto não traz, de forma alguma, perigo à vida da mãe ou do feto”, frisou.
SESAU – Procurada pela Folha, a Secretária Estadual de Saúde (Sesau) afirmou que, em relação a óbitos ocorridos no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, a direção da unidade, embora não tenha sido procurada por nenhuma família, decidiu pedir apuração dos fatos pela Comissão de Ética Médica.
“Os resultados são enviados inclusive ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e somente ao fim das investigações será possível adotar medidas para punir eventuais responsáveis, se for o caso”, informou a Sesau por meio de nota.
“Faz-se necessário destacar que, paralelamente a esta apuração, todos os óbitos ocorridos na unidade passam ainda por investigação pela Comissão Interna de Investigação de Óbitos, a fim de saber se as mortes ocorreram ou não por causas evitáveis, que também encaminha todos os casos ao Comitê de Mortalidade Materna e Infantil. A unidade afirma que tem todo o interesse em esclarecer os fatos, e coloca à disposição, não apenas da família, mas de qualquer usuário dos serviços da única maternidade pública, as direções geral e clínica para esclarecimentos”, destacou. (JL)