O Atlas da Violência no Brasil, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apontou crescimento nos índices de violência em Roraima. Entre os destaques, está o aumento de 113,7% no número de homicídios cometidos no Estado entre os anos de 2005 e 2015.
Segundo a análise, baseada principalmente nos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, Roraima registrou 95 assassinatos de janeiro a dezembro de 2005, enquanto que no mesmo período de 2015 o número subiu para 203. A média da taxa de aumento em número de homicídios no Estado no período foi de 65,4%, bem acima da média nacional, que foi de 10,6%.
JUVENTUDE PERDIDA – Em Roraima, a morte violenta de jovens entre 15 e 29 anos teve um aumento de 83,3% no período apontado na pesquisa. Ao todo, 42 pessoas dessa faixa etária foram mortas em 2005 no Estado, enquanto que, em 2015, subiu para 77. Já a taxa de homicídios para a faixa etária entre 15 e 29 anos por 100 mil habitantes passou de 35,4, em 2005, para 51,9, em 2015, um aumento de 46,5% no período.
NEGROS E NÃO NEGROS – A pesquisa também mostrou as taxas de vitimização de indivíduos negros e não negros no Estado. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes de negros em Roraima também cresceu. Em 2005, foram 25 negros assassinados para cada 100 mil habitantes. Dez anos depois, o número saltou para 38,1, um crescimento de 52,2%.
O Estado ficou atrás, apenas do Tocantins, quando se trata da taxa de homicídios por 100 habitantes não negros no período. Em 2005, foram registradas 20,5 mortes, enquanto que em 2015 o número mais que dobrou, para 44, aumento de 114,4%.
ARMAS DE FOGO – Em 2015, 41.817 pessoas sofreram homicídio em decorrência do uso das armas de fogo, o que correspondeu a 71,9% do total de homicídios ocorridos no País. Por outro lado, Roraima foi o Estado que menos registrou homicídios por arma de fogo, com apenas 57 ocorrências, dez a mais que em 2014.
Já o número de mortes decorrentes de intervenções policiais passou de duas, em 2014, para seis, em 2015. A maioria dos casos, quatro ao total, envolveu policiais fora de serviço.
PESQUISA – O Atlas da Violência 2017 analisa os números do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, entre os anos de 2005 e 2015, em paralelo com informações dos registros policiais publicadas no 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Entre os dados reunidos, está a evolução dos homicídios por macrorregiões, Unidades da Federação e municípios. O relatório também aborda os registros de mortes decorrentes de intervenções policiais, os números relativos às mortes de jovens, de mulheres e de negros nesse período de onze anos, assim como os óbitos por armas de fogo e as taxas de mortes violentas com causa indeterminada. Além do relatório, os autores do estudo lançaram uma plataforma digital de consulta aos dados. (L.G.C)
Para especialista, homicídios estão diretamente ligados ao tráfico de drogas e ao crime organizado
Para o tenente-coronel Jurandir Pereira Rebouças, da Polícia Militar de Roraima, especialista na área criminal e que recentemente lançou um livro sobre Segurança Pública no Estado, a alta taxa de homicídios em Roraima está diretamente relacionada ao tráfico de drogas e ao crime organizado. “São comércios ilegais que movimentam cifras astronômicas e há disputa entre traficantes por ponto de vendas e hegemonia”, disse.
Conforme Rebouças, o percentual de homicídios reflete o confronto das organizações criminosas na disputa pelo tráfico de drogas. “Se percebe de forma clara que um grande percentual desses homicídios está relacionado com o confronto entre as organizações criminosas pelo controle do tráfico”, frisou.
Ele defende mudanças no Código Penal como uma das formas de diminuir os índices de violência. “Fazem mudanças para desencarcerar, mas não tem acompanhamento. Aqui em Roraima preso que era para estar em prisão domiciliar vive cometendo roubo qualificado. A nossa legislação é frouxa e acaba potencializando essas ações”, destacou.
Segundo o especialista, o País gasta menos de meio por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em Segurança Pública. “A sociedade, por não ter conhecimento disso, cobra resultados da Polícia, que faz muito pouco por conta da falta de recursos para a segurança pública. Temos 16 mil quilômetros de fronteiras secas, mas não há fiscalização para controle da entrada de drogas”, declarou.
Para ele, o maior erro do Estado foi ter negado a existência do crime organizado, o que acabou fortalecendo as facções. “Acho difícil que esse ciclo vicioso seja revertido. É preciso investimento nos estados e municípios, porque quem tem a chave do cofre é o Governo Federal. Não vejo a curto e médio prazo perspectiva de melhorias desses dados”, pontuou. (L.G.C)
Filosofia de Polícia Comunitária diminui taxas de crimes, diz Governo
Em nota, o Governo do Estado informou que no início deste ano redimensionou o efetivo da Polícia Militar na capital e no interior para a atuação em três ou quatro bairros, em média, gerenciados por tenentes. “Essa divisão proporciona o melhor conhecimento dos problemas de segurança pública do setor, assim como a busca de soluções usando os recursos da Corporação e das parcerias com a comunidade e outros atores, por meio da filosofia de Polícia Comunitária, o que tem contribuído para a redução das taxas de crimes nas comunidades, entre eles, homicídios”, alegou.
Ressaltou ainda que a Polícia Militar tem reforçado as rondas nos bairros e atendido aos chamados da sociedade, no sentido de coibir práticas criminosas e garantir a segurança da população. O chamado pode ser feito por meio do 190.