Em média, 410 venezuelanos entraram no Brasil por dia em agosto

Crise política na Venezuela e reeleição de Maduro acentuou movimentação na fronteira.

Segundo Paula Gomes Moreira, internacionalista e professora da Universidade Federal de Roraima, a população venezuelana estaria enfrentando um desalento pós-eleitoral. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Segundo Paula Gomes Moreira, internacionalista e professora da Universidade Federal de Roraima, a população venezuelana estaria enfrentando um desalento pós-eleitoral. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Sob migração, Pacaraima registrou, em menos de um ano, o maior crescimento populacional entre os 15 municípios de Roraima, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em meio a isso, o fluxo migratório teve um novo aumento depois da eleição presidencial da Venezuela em 28 de julho.

Dados recentes da Organização Internacional para Migrações (OIM) junto à Polícia Federal (PF) mostram que, em agosto, o número de entradas de venezuelanos no município – que é a porta de entrada terrestre para os venezuelanos no Brasil – foi um terço maior do que nos últimos seis meses. A média no primeiro semestre de 2024 girava em torno de nove mil pessoas por mês, mas em agosto, esse quantitativo disparou para 12.325, diante de uma média de 860 saídas.

O descontentamento com o resultado das eleições venezuelanas teria causado tal salto na migração. Pelo menos é o caso de Sabrina Avani, de 21 anos, que está nas ruas de Boa Vista três semanas após chegar ao Brasil. “Todos tínhamos esperança de que a Venezuela tivesse outro presidente, mas não foi o que aconteceu. Foi uma derrota, algo horrível”, relatou.

A decisão de deixar a Venezuela não teria sido fácil. Sabrina votou nas eleições, acreditando que poderia haver uma mudança, mas ficou desiludida com o resultado. Na capital roraimense, ela também não vê boas oportunidades.

Sabrina está há três semanas em Boa Vista ao lado do companheiro. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

“Meu coração quebrou quando deram o resultado, e ainda está quebrando. Aqui também está complicado. Há muitos venezuelanos e as pessoas pensam que todos são iguais, não dão trabalho”, compartilhou a migrante, que busca trabalho para sustentar dois filhos, que permanecem na Venezuela.

Desalento pós-eleitoral

Após as eleições, em que o ditador Nicolás Maduro foi reeleito, o processo eleitoral foi amplamente contestado, tanto pela população quanto por membros do próprio Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Além disso, a legitimidade do governo reeleito não foi reconhecida por vários governos, incluindo nações da América Latina, Europa e Estados Unidos. Por isso, segundo Paula Gomes Moreira, internacionalista e professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR), a população venezuelana estaria enfrentando um desalento pós-eleitoral.

“O desalento é exatamente essa falta de perspectiva de melhorias no País, de que algo vai mudar, de que algo vai melhorar. Então, é uma situação que realmente vem se tornando cada vez mais aguda. Uma vez que a população está nessa situação de desalento, ela busca alternativas de sobrevivência, busca melhores oportunidades de vida”, explicou.

Essa busca por novas oportunidades só se soma à crise prolongada de inflação, fome e instabilidade política. “Quando a gente faz um retrato, hoje, da Venezuela, o que se percebe é que muitos daqueles fatores motivadores que levaram grandes contingentes de venezuelanos a deixarem o País, eles ainda permanecem sem nenhum tipo de resolução e muitas vezes eles estão se tornando mais agudos. O que é até mesmo reforçado por essa questão da fome no País, como um tema que realmente mostra o aprofundamento não só da crise econômica que o País vive, mas também entra numa crise social”, afirmou a internacionalista.

Essa crescente migração depois das eleições, ainda conforme Paula, não impacta somente ao Brasil, mas a todos os países que fazem fronteira e recebem a população, como a Colômbia.

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