Quando saiu de casa em sua moto para ir a um sítio da família, o mecânico Ander Sandro, de 37 anos, não imaginava que seria mais uma vítima da guerrilha urbana no trânsito de Roraima. Ao retornar do passeio, ele foi atingido por um caminhão que fazia ultrapassagem perigosa em uma via movimentada e acabou perdendo uma das pernas.
O mecânico faz parte de uma estatística alarmante: somente de janeiro a setembro de 2016 foram registrados 2.886 acidentes de trânsito, média de 320 por mês, ou mais de 10 por dia, apenas no perímetro urbano de Boa Vista. No mesmo período, foram 27 vítimas fatais.
Os números do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), em conjunto com o Comando de Policiamento da Capital (CPC) e o Instituto Médico Legal (IML), preocupam, mas mostram uma realidade que vem mudando ao longo dos anos. Se comparado com o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 3.129 acidentes na Capital, a redução nas ocorrências foi de 7,8%. Em relação às vítimas fatais, a redução foi de 35,7%.
O mês do último levantamento de acidentes de trânsito em Boa Vista, setembro, foi justamente quando Ander Sandro foi vítima da imprudência. “O meu acidente ocorreu no dia 11 de setembro deste ano. Quando estava chegando do sítio da minha tia, o caminhão foi ultrapassar outro carro e acertou em cheio a minha perna”, disse.
Segundo ele, o trauma ficou ainda maior ao saber que teria de amputar a perna esquerda. “Quando cheguei ao hospital, o médico disse que daria um jeito de salvar minha perna, mas depois ele disse que não tinha como salvar e tinha que amputar. Tinha trauma porque minha mãe morreu em acidente de trânsito, ela perdeu a perna e pegou infecção no hospital. Foi complicado para mim naquele momento acordar sem a perna e com os braços imobilizados”, lamentou.
Quem sobrevive à guerrilha urbana no trânsito acaba tendo que enfrentar vários dias em hospitais. Somente no Hospital Geral de Roraima (HGR), o maior do Estado, foram atendidas 7.506 vítimas de acidentes de trânsito com carros e motos de janeiro a novembro deste ano, o que corresponde a quase 6% de todos os atendimentos realizados na unidade de saúde no período.
Com a solidariedade de amigos e a ajuda da família, o mecânico tenta, aos poucos, retomar a rotina de antes do acidente. “Eu acredito que quando a pessoa vai dirigir tem que sair de casa com a mente tranquila, até porque tem que ir e voltar. Não é a velocidade que manda e temos que ter consciência para nos conservarmos e a vida dos outros. Ter que aceitar que estava sem a perna foi complicado, até entrei em depressão, mas espero conseguir ir para outro Estado e colocar uma prótese para voltar a andar”, frisou.
Imprudência é a maior causa de acidentes, diz chefe de fiscalização
O chefe de fiscalização de trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Vilmar Florêncio, creditou a diminuição no número de acidentes de vítimas fatais no trânsito da Capital a ações de fiscalização e educação. “Apesar da queda nas estatísticas, consideramos o número alto e vamos continuar trabalhando para que o resultado do trabalho continue refletindo na diminuição do número de acidentes e óbitos”, disse.
Conforme ele, a imprudência segue sendo a principal causa de acidentes de trânsito no Estado. “Os fatores que contribuem para os acidentes são a falta de respeito às leis de trânsito, mas os acidentes com mais gravidades são ocasionados principalmente por alta velocidade e dirigir após ingerir bebida alcoólica”, afirmou.
Florêncio solicitou apoio dos condutores para ajudar a reduzir as estatísticas de acidentes. “Faço um apelo à população para que some conosco nessa luta, fazendo uma direção segura, respeitando a sinalização, evitando distrações ao celular, utilizando os dispositivos de segurança e, principalmente, evitando dirigir depois de ingerir álcool”, frisou. (L.G.C)