Cotidiano

Em protesto contra criação de Parque do Lavrado, produtores bloqueiam rodovia

Manifestação é contra proposta apresentada pelo MDA para que unidade de conservação seja criada entre Terras Indígenas São Marcos e Santa Inez

Um movimento pacífico, “O Amajari é Nosso”, iniciado às 6h de sábado, dia 1º, interditou parcialmente a BR-174, sentido Pacaraima, a 90 quilômetros da Capital, no município de Amajari. O objetivo dos participantes era a manifestação contra a demarcação de 21 mil hectares de área produtiva naquele município para a criação da unidade de conservação Parque Nacional do Lavrado, proposta do Governo Federal.

A BR-174 ficou fechada parcialmente durante 12 horas, das 6h às 18h. A cada 20 minutos os produtores liberavam o tráfego de veículos. Enquanto o trânsito estava parado, os manifestantes entregaram panfletos e conversaram com a população explicando o motivo do protesto.

Segundo os manifestantes, esses hectares ficam dentro da área proposta pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para a criação da unidade de conservação, ou seja, entre a Terra Indígena São Marcos, nos municípios de Pacaraima e Boa Vista, e Terra Indígena Santa Inez, no Amajari. A proposta, porém, ainda está em discussão na Câmara Técnica de Regularização e Destinação de Terras Públicas Federais na Amazônia Legal.

O movimento foi liderado pelo deputado estadual Marcelo Cabral (PMDB) e contou com produtores rurais, pecuaristas, sociedade civil organizada, comerciantes, o prefeito do Amajari, Moacir Mota (PR), e vereadores do município. “Como filho de Roraima e representante do povo, não podemos aceitar essa demarcação. Pedimos apoio de todas as autoridades para juntos impedirmos que isso aconteça”, frisou o prefeito.

Marcelo Cabral ressaltou que o movimento foi para mostrar a insatisfação da sociedade, e em especial a da classe produtiva, sobre demarcação nestas áreas produtivas. “Chega de demarcações em áreas produtivas. Hoje o Amajari possui somente 31% de área propícia à produção. Se esse parque for demarcado, esse total cai para 28,9% e os prejuízos serão imensuráveis”, frisou.

Ainda de acordo com o deputado, para que isso ocorra, o Governo do Estado tem que dar o aval. “A contraproposta é que essa delimitação seja feita numa área já demarcada ou improdutiva. Como produtor e representante do povo, convido a todos para se unirem a essa causa”, afirmou.

Em entrevista ao programa Agenda da Semana, na Rádio Folha 1020 AM, o secretário estadual do Planejamento e Desenvolvimento, Alexandre Henklain, descartou a possibilidade da criação da unidade de conservação Parque Nacional Lavrado na região entre as Terras Indígenas São Marcos e Santa Inez.

De acordo com Henklain, o Governo do Estado é contra qualquer demarcação de reserva ambiental em áreas de produção em Roraima. Ele se justificou afirmando que já existem muitas áreas de preservação demarcadas, deixando apenas 10% das terras do Estado propícias para a agricultura. “Nós somos absolutamente solidários a todos os manifestantes. Roraima já fez demais, tendo 66,48% do seu território já demarcado e o restante com áreas completamente improdutivas, acreditamos que a demarcação é uma afronta para o desenvolvimento produtivo do Estado”, afirmou. “Garantimos que nenhuma região produtiva será afetada”, reforçou o secretário.

O Governo do Estado informou que defende, desde o início, a dupla afetação na Terra Indígena São Marcos ou a criação do parque no sítio arqueológico da Pedra Pintada, onde há um atrativo turístico tradicional, próximo da BR-174, “portanto, com perfeitas condições para ser implementado”, ou ainda um pouco mais ao sul da reserva, na região conhecida como Campos do Maruai, onde há cavalos lavradeiros (conhecidos como cavalos selvagens).

De acordo com o governo, ambas as áreas têm entre 40 mil e 45 mil hectares, e além de amplas, são muito representativas do lavrado, que é um dos objetivos na criação de uma unidade de conservação, para garantir a manutenção das características desse ecossistema.

“O Governo do Estado está desenvolvendo uma série de tratativas com as lideranças indígenas da região para demonstrar que as comunidades têm muito a ganhar do ponto de vista de qualidade de vida e geração de renda com a implementação dessa unidade de conservação”, informou.