Cotidiano

Em RR, 71% dos homens não vão o médico

Falta de informação associada ao preconceito afasta os homens dos consultórios médicos, conforme pesquisa da SBU

Parte da Política Nacional de Saúde do Homem é realizar, anualmente, o Novembro Azul, um mês inteiro com ações facilitadas para incentivar os homens a realizaram exames com foco no combate ao câncer de próstata. De acordo com informações da Comissão de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o foco da campanha é conscientizar a população masculina e romper com os preconceitos.

Pesquisa da SBU aponta que a falta de informação associada ao preconceito afasta os homens dos consultórios. Cerca de 80% deles não vão ao médico por preconceito. Em Roraima, este número chega a 71%. Os dados apontam que o câncer de próstata é o sexto tipo mais comum de câncer e o segundo tipo mais frequente entre homens, atrás somente do câncer de pele. Ele representa, mais ou menos, 10% do total de casos da doença. Cerca de 70% dos casos de câncer de próstata são diagnosticados em homens com mais de 65 anos.

Para o urologista Mário Maciel, o homem procura cuidar tardiamente da saúde por dois motivos: socioculturais e fatores institucionais ou burocráticos. “Primeiro, é cultural. O homem não tem, socialmente falando, o hábito de ir ao médico. Não é criado assim. E, segundo, ele não tem a flexibilidade no trabalho de poder sair no horário da consulta. Não existem consultórios que atendam depois do horário comercial ou durante o final de semana, e isso dificulta o acesso do homem ao médico”, ressaltou.  

Ele explicou que com relação à próstata, os homens devem começar a procurar o médico a partir dos 45 anos, para população negra ou com precedentes de câncer de próstata na família, ou a partir dos 50, para homens brancos e sem precedência da doença em parentes. “Mas o ideal mesmo é que o homem comece a ser acompanhado por um médico desde os 18 anos. Que vá regulamente e cuide de toda a saúde e não só da próstata. Esse check-up é feito anualmente”, analisou Maciel.

O diagnóstico precoce é o grande trunfo no combate ao câncer de próstata, pois em estágio inicial a chance de cura é de 90%. Esse diagnóstico é feito através da dosagem sanguínea de uma proteína chamada PSA e do toque retal. Esses exames são complementares, e a realização de um não exclui o outro. A prevenção é fundamental para aqueles que já passaram dos 50 anos, sobretudo os que tenham em seu histórico familiar casos de câncer e os afrodescendentes.

Maciel destacou que a iniciativa do Novembro Azul é importante, mas que a saúde masculina deve ter atenção em todos os meses do ano. “Eu costumo dizer que é importante falar disso nesse mês, mas não pode existir só o Novembro Azul. Hoje o homem tem outros dados bem relevantes que estão matando bem mais o homem que a próstata, como acidente vascular, diabetes, acidentes de trânsito, bebidas, entre tantos outros. Então, falar sobre a próstata é importante porque ainda há muita falta de informação, mas é muito importante que todos os outros fatores sejam levados em consideração para que os homens tenham uma qualidade de vida melhor”, explicou.

Consultas regulares mudaram a vida de homem de 70 anos

Aos 70 anos, Gilberto dos Santos Bezerra afirma que a regularidade das consultas médicas mudou sua vida. “Quando eu estava quase chegando aos 40 anos, eu comecei a sentir muita dor no peito e procurei um médico. Eu estava obeso e sofria sérios riscos de enfarte. O médico passou exames, recomendou exercícios físicos e uma dieta. Desde então eu revolucionei minha vida”, relembra.

Com a rotina de exercícios e as consultas frequentes ao médico, Bezerra eliminou as chances de ter problemas de coração, diabetes e hipertensão. “Naquela época, minha taxa de diabetes estava quase alta devido a muita gordura que eu comia. Hoje em dia, eu tenho uma saúde ótima e ainda bebo uma cervejinha com os amigos em casa nos finais de semana. Sem muitos exageros. Às vezes, ainda dá para namorar com a esposa”, brincou, destacando que a mulher o acompanha em todas as atividades.

Rotina diferente tem o agricultor José Luzinaldo Ferreira Filho. Aos 48 anos, ele nunca realizou consultas regulares com um médico. “Quando eu tenho algum problema, eu vou, como no começo do ano, quando senti muitas dores e fui para a emergência. Retirei pedras da vesícula. Quando não, acho que não precisa. Eu me sinto bem, disposto, trabalho na fazenda e não vejo porque ir ao médico. Fora que não tenho muito tempo para isso”, frisou

Ciente dos riscos que corre devido à ausência de um acompanhamento médico, Filho destacou que seus hábitos são provenientes da sua criação. “Quando eu era garoto, não fui educado a cuidar da saúde. Minha mãe só me levava em casos de vida ou morte. Sou assim até hoje”, ressaltou. Ele comparou ainda a diferença entre homens e mulheres. “Desde cedo, as meninas aprendem que têm que procurar o ginecologista quando ficam menstruadas. Quando ficam adultas, não pensam duas vezes quando têm que sair mais cedo do trabalho para fazer um exame preventivo ou levar o filho ao médico. Mas nós não. Isso cria uma consciência diferente da que eu tive, mas que meus filhos podem ter”, analisou.
(JL)

Campanha visa atingir 5 mil homens no Estado

Lançado há pouco mais de uma semana, o Novembro Azul visa incentivar a população masculina à prevenção contra o câncer de próstata. Durante todo o mês alusivo, ações serão realizadas em todo o Estado para facilitar o acesso a exames que possam detectar a doença. A coordenadora geral de vigilância da Secretária Estadual de Saúde (Sesau), Daniela Souza, esteve no Programa Agenda da Semana, na Rádio Folha AM 1020, na manhã de ontem, 08.

Em entrevista concedida ao economista Getúlio Cruz, ela firmou que a campanha pretende fazer com que cinco mil roraimenses procurem os hospitais ou locais de atendimento médico. Somente no ano passado, em Roraima, foram diagnosticados 45 casos de câncer de próstata e, até maio deste ano, foram detectados 13 casos. No Brasil inteiro, em 2014, foram 13 mil mortes devido à doença.

“Devido ao alto índice no Estado, esta campanha é tão importante. Os homens têm mais resistência para ir ao médico e muitas vezes essa doença, que age de maneira silenciosa na maioria das vezes, com uma simples visita ao médico pode ser detectada ainda no início, o que eleva, e muito, as possibilidades de sobrevida do paciente”, destacou Daniela.

Para descobrir a doença é necessário que seja realizado, inicialmente, um exame de sangue. Se neste forem detectadas substâncias que indiquem o tumor, será realizado o exame de toque. Para o diagnóstico completo, é necessário cerca de 55 a 60 dias. “Depois dos procedimentos iniciais, é realizada a biopsia, quando é retirado um pedaço do tumor e enviado para um laboratório fora do Estado para análise, por isso a demora”, explicou.

Durante todo o mês, além das atividades realizadas na semana passada, como palestras, as equipes da Sesau irão realizar, no próximo dia 13, sábado, um dia voltado para o homem, na Praça Capitão Clóvis, no Centro. Está programada, para o dia 21 de novembro, uma ação na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo. “Iremos passar o dia instruindo os internos daquela unidade para a importância de um acompanhamento médico. Outra ação é a Caravana do Povo, que estará nos municípios do interior com dois urologistas, pronta para atender estes homens”, frisou.

De acordo com a coordenadora, até o final do mês serão realizadas várias ações para auxiliar os homens no atendimento médico. Ela destacou que o Novembro Azul está focado também em outros aspectos da saúde do homem, como prevenção de doenças como a diabetes e a pressão alta.

“A prevenção do câncer de próstata é imprescindível para evitar um desfecho negativo da doença. Mas decidimos ir além e incorporar orientação para outras doenças, já que por muitos fatores o homem não costuma ir ao médico com frequência”, afirmou. (JL)

Médico esclarece dúvidas sobre o câncer de próstata

A prevenção e o combate ao câncer de próstata são um dos principais temas debatidos no “Novembro Azul”, campanha que visa chamar a atenção dos homens aos cuidados com a saúde. Trata-se da segunda doença mais comum entre os homens brasileiros.

Acomete principalmente homens acima de 50 anos que possuam histórico familiar da doença, fatores hormonais e hábitos alimentares ruins. Homens negros a partir dos 45 anos, que tenham histórico familiar da doença, estão mais propensos a desenvolvê-la.

Em Roraima, conforme dados estatísticos do Laboratório Análise Patológica de Roraima (Laper), no ano de 2014 foram registrados 45 casos de câncer de próstata em homens com idade entre 51 e 91 anos. Neste ano, entre janeiro e maio, este número chegou a 13 registros em homens entre 61 a 86 anos.

O médico urologista, e parceiro da Folha na campanha “Novembro Azul”, Mário Maciel, destacou que o aumento dos casos de câncer de próstata continua assustando. “Um em cada seis homens vai ter a doença ao longo da vida. Ele é o segundo tipo de tumor mais comum nos homens hoje em dia. Somente neste ano, mais de 1,5 milhão de homens vão ser diagnosticados por essa doença no mundo, representando quase 500 mil mortes”, explicou.

Ele lembrou que, como qualquer tipo de câncer, se o diagnóstico for feito precocemente, a sobrevida é melhor do que nos casos diagnosticados tardiamente. Segundo estudos na área de oncologia, a taxa de sobrevida relativa em cinco anos, dos pacientes que possuem câncer localizado ou localmente avançado, é de quase 100 %. Já os que possuem um tumor que avançou para outras partes, a sobrevida cai para 28% em cinco anos.

“Nos países em desenvolvimento. os diagnósticos são dados em uma fase mais tardia e os tratamentos são dificultados pelo sistema de saúde precário. Isso, sem sombra de dúvida, faz com que diminua a sobrevida dos pacientes portadores do câncer de próstata”, disse Maciel.

O diagnóstico é estressante para a maioria dos pacientes, podendo causar alterações psicológicas. “Eu diria que, além do fator estresse, há um impacto grande na qualidade de vida e isso pode, inclusive, acelerar a progressão da doença. O fator mais preocupante de nós, médicos, que conduzimos esses pacientes, é a ideia suicida”, frisou.

Mário Maciel informou que o suicídio em pacientes oncológicos é duas vezes mais comum do que na população geral ou vítimas de outras enfermidades. Cerca de 80% dos pacientes portadores de câncer de próstata que cometeram suicídio fizeram isso durante os seis primeiros meses após o diagnóstico. E o mais interessante disso é que 60% deles visitaram seus médicos 30 dias antes do ocorrido.

“Os cuidados com os pacientes oncológicos vão além de sua enfermidade. Devemos estar cientes do risco de suicídio e prontamente identificar, monitorar e encaminhá-los para um suporte com especialistas em saúde mental quando necessário”, disse o médico.

TRATAMENTOS – Mário Maciel destacou que hoje tem-se falado muito sobre a nutrição no tratamento do câncer de próstata. “Nós chamamos isso de medicina alternativa e complementar, que utiliza minerais, ervas, vitaminas e certos suplementos dietéticos que proporcionam uma grande fonte de benefícios para a saúde prostática”, explicou.

Ele destacou que um dos elementos da soja, conhecido como genisteína, tem demonstrado ótimos resultados. “Esses componentes da soja têm demonstrado um grande fator protetor para o câncer de próstata. Recentemente, os chineses demonstraram exatamente isso em um de seus estudos. O pomegronato, presente na romã, também tem se demonstrado promissor para contensão e inibição de células tumorais na próstata”, disse.