Cotidiano

Em tempo de empinar papagaio, linha com cerol se torna um risco

A prática de passar uma mistura de pó de vidro com cola na linha para cortar outro papagaio pode até ocasionar morte

Com o verão e as condições favoráveis de vento, muitas pessoas aproveitam o tempo livre para praticar atividades ao ar livre. Uma das ações mais procurada no período é a prática de empinar pipa (papagaio). Nos bairros mais afastados do Centro, a brincadeira atrai muitas pessoas, reunindo gente de várias idades.
Ao mesmo tempo em que é considerado um lazer para crianças e adolescentes, a brincadeira também pode se tornar um risco, já que muitos costumam revestir a linha com cerol, um composto formado por pó de vidro e cola, para cortar a linha de outras pipas, em uma disputa no ar que acaba se tornando o principal motivo do lazer.
No começo do ano, uma manicure de 35 anos levou 11 pontos após ser atingida por uma linha com cerol. Por sorte, a ocorrência não acabou em morte, mas o episódio reacendeu a preocupação em relação à fiscalização de motos para que tenham um acessório chamado de “corta pipa”.
“A linha com cerol faz um corte profundo e fino. É um ferimento que costuma sagrar muito e, para quem sobrevive a esse tipo de acidente, a cicatrização costuma ser lenta. Quando se usa cerol, usa-se o vidro como elemento cortante e, às vezes, as pessoas até utilizam vidros de lâmpadas fluorescentes, que têm outros produtos químicos na sua composição, o que pode agravar a lesão”, explicou o major do Corpo de Bombeiros, Mário Luiz Turco.
Conforme a Prefeitura de Boa Vista, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito realiza fiscalização das motocicletas, que devem possuir a antena “corta pipa”, item obrigatório para a proteção do condutor desse tipo de veículo.
Em relação à fiscalização do uso de linhas com cerol, a secretaria salienta que, por ser uma questão de segurança pública, cabe apenas à Polícia Civil investigar onde está sendo fabricado o cerol e onde está sendo vendido, o que muitas vezes não acontece, pois muitas vítimas acabam deixando de registrar boletim de ocorrência pelo fato de os acusados serem, na maioria das vezes, uma criança ou adolescente.
“É de conhecimento da população que o uso da linha com cerol é proibido por lei. Existem legislações nos municípios que proíbem a utilização desse material. Então, qualquer pessoa que comete esse tipo de ação pode estar sujeito a uma penalidade legal”, disse o major.
Os praticantes da brincadeira devem sempre procurar locais onde não haja trânsito de veículos. “O ideal é que ela seja uma área reservada, que não traz transtornos às pessoas. Para isso, aqui nós temos praças públicas como a Germano Augusto Sampaio, o Parque Anauá ou até mesmo nas grandes áreas de lavrado. Independente do cerol, a linha por si só pode vir a cortar o pescoço de um motociclista. O cerol vai apenas agravar os riscos”, destacou.
Bombeiro orienta como proceder em caso de acidente com as linhas
Em relação aos cuidados com pessoas acidentadas, o major do Corpo de Bombeiros, Mário Luiz Turco, orienta o uso rápido de um pano limpo para estancar o sangramento. “O corte vai causar uma hemorragia e a primeira coisa que a pessoa deve fazer para socorrer o ferido é utilizar um pano limpo para conter essa hemorragia. A pessoa vai dobrar esse pano, fazendo uma espécie de almofada, colocar sobre o ferimento, fazendo uma compressão de leve para não obstruir as vias aéreas. E deve removê-lo para o serviço de saúde”, complementou.
“Em caso de pessoas em veículos, a orientação é realizar o mesmo procedimento e acionar o serviço de atendimento de saúde. Nós temos o número do Corpo de Bombeiros, que é 193, e o do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, 192. A pessoa deve ligar de imediato para que sejam feitos os procedimentos de primeiros-socorros, no sentido de imobilização, porque pode acontecer de o paciente ter sofrido algum tipo de fratura em decorrência da queda”, frisou. (M.L)