Cotidiano

Em três anos mais de 30 mulheres foram assassinadas em Roraima

Relacionamentos abusivos que levam a morte podem ser evitados se a mulher ficar atenta aos sinais

Viver em um relacionamento abusivo pode levar a morte. Em Roraima segundo dados do  setor de Estatísticas da Secretaria de Segurança do Estado entre os anos de 2016 e 2018, 35 mulheres perderam a vida vítimas de crimes violentos, dentre os quais 10 foram registrados como Feminicídio (assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino, quando o crime envolve violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher).

A rotina nas delegacias que atuam com flagrantes e também na Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (DEAM), é movimentada com casos que envolvem a violência contra mulher e que são enquadrados na Lei Maria da Penha.

Em uma denuncia recente envolvendo uma cuidadora de crianças de 38 anos e um funcionário público, o homem foi preso em flagrante por lesão corporal dolosa e violência familiar onde foi aplicada a Lei Maria da Penha.  Conforme o registro de ocorrência o caso aconteceu no bairro Jardim Primavera, e a vítima só não sofreu o pior porque um dos filhos do casal chamou a polícia e a tragédia em família foi impedida.    

Casos como este podem ser evitados se a vítima ficar atenta aos sinais e a partir de então tomar uma atitude. Segundo a psicóloga Adriana dos Prazeres, as relações abusivas podem ocorrer em qualquer meio que estejamos, porém dentro de uma relação afetiva entre homens e mulheres, ele (relacionamento abusivo) anda de mãos dadas com a violência psicológica.

Ela explica ainda que para contextualizar é preciso falar sobre as três fases da violência que envolvem um relacionamento abusivo.    

“A primeira é a fase da tensão, que começam as brigas, discussões em que o parceiro começa a afetar a mulher de maneira psicológica, baixar a autoestima, criar situações para que existam conflitos e com isso gerar dúvidas sobre o que esta acontecendo”, explica.

Dentro desta primeira fase ainda segundo a psicóloga, aquele que pratica a violência faz com a mulher se sinta feia, gorda e veja outros ‘defeitos’ que não existem.  “Ele usa adjetivos negativos sobre a pessoa. É assim que se caracteriza a fase de tensão onde existem conflitos de forma verbal”, reafirmou.  

Na sequência ela detalha que existe o período de explosão onde o homem já não lida mais só com a questão verbal, já é a agressão física, como um puxão de cabelo, socos e outras formas de agressões que podem inclusive levar a morte segundo a especialista.

E por fim vem a fase da lua de mel. “O companheiro percebe que há tempos vem afetando o psicológico da mulher deixando-a com a autoestima baixa, se arrepende e percebe que está machucando a companheira dele. Nesse momento ele olha para ela admite que está errado de certa forma e pede desculpas, promete que não vai mais fazer”, completou Adriana.

Depois de passadas todas as fases ela explica que na maioria dos casos o companheiro não muda, e a situação se arrasta até acontecer o pior. “Muitas vezes neste ciclo da violência ele vai fazer tudo novamente e as mulheres vivem nessa situação e às vezes nem percebem”, considera a psicóloga.   

Para sair disso ela fala ainda que existem as políticas públicas que estão voltadas para as mulheres e usa como exemplo a lei Maria da Penha, porém a mulher precisa dar o primeiro passo para buscar ajuda.

Canais de ajuda

Para atendimento as mulheres podem buscar ajuda na Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) que funciona dentro da Casa da Mulher Brasileira, localizada na rua Uraricuera, sem número, São Vicente.

Existe ainda atendimento especializado disponível 24 horas por meio ZapChame 98402-0502, que atende capital e interior. O serviço é coordenado pelo Centro Humanitário de Apoio a Mulher (CHAME), da Assembleia Legislativa de Roraima.

Por meio do Disque 180, a mulher pode receber apoio e orientações sobre como resolver o problema. O serviço é nacional e pode ser acionado de qualquer capital brasileira. A denúncia é distribuída para uma entidade local, como a Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) ou Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM), conforme o estado.