Cotidiano

Embaixadora diz: “A única forma de parar a migração é Maduro sair”

´O trabalho que o Brasil realiza com o meu povo não existe em nenhum outro lugar´, disse a embaixadora Maria Teresa Belandria

A professora Maria Teresa Belandria, embaixadora reconhecida legalmente pelo governo federal como representante de Juan Guiadó, atual presidente do Parlamento, que se declarou presidente interino do país, esteve em Roraima pela terceira vez para acompanhar o trabalho da Operação Acolhida, ação coordenada pelas Forças Armadas em parceria com instituições e organizações não governamentais que dão assistência aos venezuelanos fugidos da ditadura instaurada no país vizinho.

Em entrevista exclusiva à Folha, Belandria falou sobre os desafios políticos e humanitários que vive a Venezuela e ressaltou a importância do trabalho de acolhimento feito aos imigrantes que chegam a Roraima. 

“As primeiras visitas tiveram caráter diplomático, conversa com autoridades e representantes da Operação Acolhida para saber como estão os processos de interiorização e como foram ordenadas as ações para os imigrantes. Nos emociona ver como o povo brasileiro está empenhado em não somente acolher o venezuelano, mas a devolver identidade ao providenciar toda a documentação para que essas pessoas recomecem no Brasil”, disse a embaixadora.

De acordo com Belandria, 4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela, o que representa 33% da população total do país. A segunda maior população que imigra, perdendo apenas para a Síria. Parte daqueles que ainda estão na Venezuela e são opositores à ditadura sofrem tortura.

“40% dos profissionais como Engenheiros, Médicos, Professores e Advogados optaram por deixar sua pátria devido às condições desumanas que se encontra o país. Não temos energia elétrica, água e nem comida. Aqueles que possuem poder aquisitivo foram para outros países e os de classe mais humilde pediram refúgio nos países de fronteira, mas o trabalho que o Brasil realiza com o meu povo não existe em nenhum outro lugar”, ressaltou Belandria.

Conforme explicado pela embaixadora, Juan Guiadó foi reconhecido por 54 países como presidente da Venezuela, o que representa grande vitória entre muitas a serem conquistadas pelos Democratas. Em janeiro desse ano, Guaidó anunciou que estava assumindo a Presidência após afirmar que a reeleição de Maduro no ano passado foi uma farsa, tornando o socialista ilegítimo sob a lei venezuelana. A reivindicação de liderança interina, feita até que novas eleições possam ser realizadas, foi apoiada pelos Estados Unidos.

“Uma de nossas maiores refinarias, a Citgo Petroleum Corporation, com sede nos Estados Unidos, possui conselho administrativo Anti-Maduro e quebrou o controle do ditador sob parte do petróleo. Cerca de 3, 5 mil dólares deixaram de financiar o governo ditador de Nicolas Maduro”

Planos de Restruturação para a Venezuela – Maria Teresa Belandria disse que Juan Guiadó tem planos para reestruturar a Venezuela após a saída de Maduro do poder. “A situação agora é difícil porque o nosso governo não possui controle do dinheiro para ajudar os venezuelanos por meio de programas. A única solução para o problema da imigração desenfreada é a queda do governo. Temos elaborado o ´Plan País` de recuperação econômica. Sabemos que é preciso primeiramente levantar o país por isso o plano abrange áreas como agroindústria, agropecuária, indústria petroleira, eletricidade e mineração”

Esperança – Belandria disse que assim como o povo venezuelano, também tem esperança de voltar para o país e que conforme passam os dias é o sentimento de voltar à pátria que a motiva na luta por democracia. 

O governo de Juan Guiadó elaborou plano chamado de ´Vuelver a casa´ para acompanhar para onde vão os imigrantes e outras informações sobre os números dos que desejam um dia retornar.

“Um dos problemas no processo de interiorização é que alguns venezuelanos não querem ir para longe porque esperam pelo dia que voltarão à Venezuela. Quando olham no mapa que o Sul fica a muitos quilômetros da cidade natal, apresentam resistência. A única forma de parar o fluxo é Maduro sair, pois os venezuelanos querem retornar ao país de origem” concluiu.