Cotidiano

Empresário enxerga oportunidade e se torna o maior produtor de charque de RR

Hoje dono da maior indústria de charque e linguiças de Roraima, no passado perdeu tudo e foi até carvoeiro, mas deu a volta por cima

A história empreendedora de Pedro Cavalcante Pinheiro, de 44 anos, é marcada pela persistência. Hoje, o empresário domina o mercado regional de charque, fazendo até cinco mil quilos por semana de produtos industrializados. Mas, antes do sucesso profissional, ele e sua família perderam tudo apostando no beneficiamento de arroz, que teve a produção praticamente paralisada no Estado com a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, na região Nordeste de Roraima.

O empresário falou de sua trajetória empresarial. Relembrou que há 20 anos chegou a Roraima para estudar, mas, empreendedor que era, viu que aqui havia muitas oportunidades em diversos setores empresariais.

Ele não perdeu tempo e falou para o pai, que também veio do Pará. “Com pouco dinheiro, a gente comprou equipamentos para beneficiar o arroz, pois Roraima era um grande produtor até a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Então, a matéria-prima, o arroz, faltou e nossa indústria parou. Quebramos”, recordou.

Sem dinheiro e com as máquinas paradas, Pedro Cavalcante começou a vender porco e até carvão. Foi um tempo difícil, mas novamente viu uma boa oportunidade de negócio. “Descobri que tinha carne industrializada no Mafirr [Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima] com preço bom. Aí, eu comecei a comprá-la e revendê-la para um empresário que produzia charque aqui. Mas logo percebi que poderia também fazer charque. Então, consegui montar uma pequena empresa, me qualifiquei, ralei muito, mas valeu a pena. Hoje domino o comércio do charque em Roraima”.

Além do charque, o empresário ainda produz linguiça mista, de peixe e outras carnes embaladas a vácuo. No ápice da produção, o empresário compra até 50 bois por semana e produz uma média de cinco mil quilos de charque, linguiças e outras carnes embaladas a vácuo.

Cavalcante abastece toda rede de supermercados da Capital. Ele também vende para comerciantes amazonenses, venezuelanos e guianenses. O charque Pinheiro também já é vendido no Suriname. Aqui em Roraima, a empresa também abastece a rede pública, Base Aérea de Boa Vista, Exército Brasileiro e a Fundação Nacional do Índio (Funai) e Fundação Nacional de Saúde (FNS).

Mas, como todo começo é um desafio, o empresário lembra que teve dificuldade para comprar equipamentos e contratar mão de obra qualificada. “Mas eu persisti e corri atrás do meu sonho. Fui a várias feiras nacionais buscar aprender sobre o ramo e consegui comprar equipamentos com tecnologia de ponta, por isso meu produto tem qualidade”, frisou.

Pedro Cavalcante já se considera um empreendedor vitorioso, mas quem disse que ele se contenta. O empresário garantiu que vai aumentar sua produção para conquistar novos mercados, assim que a crise no País passar.

“A situação de instabilidade no Brasil brecou nossa produção. Antes da crise, por exemplo, a gente tinha 15 funcionários, mas tivemos que reduzir para sete. O movimento agora começou a melhorar. Acreditamos na expansão deste mercado e no fortalecimento da economia de Roraima”. (AJ)

Produção chega a 400 quilos por dia

O processo de fabricação do charque e linguiças é todo acompanhado por profissionais. O empresário Pedro Cavalcante compra o boi vivo de fazendeiros de Roraima e, após o abate, a ponta da agulha e a parte dianteira entram em processo industrial. O primeiro passo é a desossa do boi. Selecionadas, as peças de carne vão para o setor de salga, onde passam até quatro dias em processo de desidratação. “Mas o tempo depende da qualidade da carne”, explicou.

Depois do ponto, a carne segue à prensa e, em seguida, vai para o setor de corte, onde é embalada a vácuo, ficando pronta para a venda. A produção atual de charque é de até 400 quilos por dia, mas a quantidade varia muito, dependendo das encomendas.

O maquinário do Charque Pinheiro tem tecnologia de ponta. O moedor, por exemplo, tem capacidade para operar com até 800 quilos de carne por hora. É o mesmo utilizado pelas grandes empresas de processamento de carne, como a Friboi.

“Meu maior investimento foi adquirir equipamento de ponta, de última geração, que associado com uma boa carne produz um produto de qualidade. Isso me fez crescer até mesmo no momento de crise do País. Apesar do mercado em queda, me mantive e resisti. Hoje, com muita persistência, domino o mercado regional”, ressaltou.

O segredo do sucesso da empresa Charque Pinheiro foi a união da equipe. “Muita dedicação, sacrifício e renúncia, buscando exaustivamente tecnologia para melhorar a qualidade do nosso produto. O sucesso não é meu, mas de todo o grupo, dos colaboradores e consumidores”, frisou Pedro Cavalcante. (AJ)
 
A história por trás da culinária brasileira
 
O charque tradicional é uma carne salgada e seca ao sol com o objetivo de mantê-la própria ao consumo por mais tempo. Tem uma salga e exposição solar maiores que outras carnes dessecadas, sendo empilhado como mantas em lugares secos para desidratação. É muito utilizado principalmente na culinária nordestina e nortista.

O charque foi preparado pela primeira vez na região andina da América do Sul, na era pré-colombiana. Era uma carne desidratada com características de liofilizada, graças às condições atmosféricas do altiplano; os cortes utilizados eram de lhama ou outro gado, e denominava-se charqui. Daí a origem do nome.

No Brasil, o início da produção do charque foi no Nordeste, no fim do século XVII, quando se implantou estâncias de gado. O charque era produzido, assim como no Altiplano Andino, para a manutenção da carne. Basicamente, servia para a alimentação dos escravos que trabalhavam no ciclo da cana de açúcar. (AJ)