Em Boa Vista (RR) há mais de um ano para se dedicar à recepção dos imigrantes venezuelanos, o empresário Carlos Wizard Martins, fundador da rede de idiomas Wizard, tem batido em diversas portas de Brasília em busca de apoio para o segundo passo dessa ação: interiorizar os estrangeiros.
Apesar da ampla agenda com integrantes do governo Bolsonaro, como a primeira-dama Michelle e os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Damares Alves (Direitos Humanos), poucas medidas saíram do papel. O empresário relata ainda que se reuniu com deputados da Frente Evangélica, mas descobriu que “alguns desses evangélicos têm mais vaidade do que caridade”.
Com quais autoridades o senhor se reuniu em Brasília?
Com quem você imaginar eu estive em Brasília. Com a ministra Damares, com o ministro Osmar Terra (Cidadania), falei com o Ernesto Araújo (Relações Exteriores), estive há poucos dias falando com o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Todos se demonstram sensíveis, interessados na causa. Eles fizeram muito bem o trabalho de acolhimento, tanto é que hoje temos 13 abrigos em Roraima. Alguns venezuelanos estão aqui há mais de um ano bem acolhidos, com três refeições diárias, segurança, remédio, mas as pessoas acabam se acomodando, e isso não é a solução. Por isso tenho batido na tecla da interiorização. Essas pessoas precisam sair de Roraima e serem levadas para outras regiões do Brasil onde tenham condições dignas de vida, emprego.
O que o governo federal tem feito nessa frente?
No aspecto da interiorização, a atuação do governo é muito limitada. Aí que está a minha inquietação. Nesse período de pouco mais de um ano, por meio do programa que eu conduzo, já interiorizei mais de 6 mil pessoas. Trabalho só eu e minha esposa, sem orçamento, apenas com a sociedade civil. Por outro lado, há a operação acolhida que tem mais de 500 militares, ONGs, um orçamento milionário e, nesse mesmo tempo, interiorizou pouco mais de 7 mil pessoas. Há um desequilíbrio entre a ação da sociedade civil organizada e o resultado que o Exército está alcançando.
A ministra Damares tentou realizar uma ação com a Frente Evangélica do Congresso. Como isso evoluiu?
A ministra tentou fazer uma ação de interiorização vinculada à Frente Parlamentar Evangélica. Falamos com os parlamentares. Mas acabei descobrindo que alguns desses evangélicos têm mais vaidade do que caridade. Se ele não é o líder do projeto, a caridade fica em segundo plano. Não estou aqui por interesse político, comercial, meu único objetivo é praticar uma ação humanitária para o imigrante que hoje não tem nada. Na primeira reunião da qual participei com a ministra havia dez lideranças. A ideia era que cada um acolhesse mil imigrantes, totalizando 10 mil. Eu fiquei emocionado, bati palmas e tudo mais. Mas na prática a ação foi comprometida por essa vaidade.
O senhor tentou contato com o próprio presidente Jair Bolsonaro?
Estive com a primeira-dama Michelle e ela se demonstrou muito receptiva, gravou um vídeo de apoio ao programa. Por onde eu faço palestra levo esse vídeo, onde ela reconhece a necessidade de acolhimento e convoca líderes comunitários e religiosos. Agora, o papel dela é mais na área social, Michelle não tem a caneta na mão para dar ordens. Tenho o conhecimento que o presidente Bolsonaro está ciente da situação, mas conduzir um país como o Brasil, com todas essas questões que estão acontecendo, é um desafio.
*Com informações O Globo