Cotidiano

Enfermeiros tem receio em denunciar agressões, diz Coren

Com poucos números registrados em quatro anos, Conselho Regional diz que profissionais são ignorados e sentem receio de se expor

Poucos são os enfermeiros que denunciam agressões em ambiente de trabalho. Segundo dados contabilizados pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RR), houveram nove notificações de denúncias relatadas por enfermeiros no período de 2015 a 2018.

Apenas um caso de agressão física e oito de violência verbal, sendo quatro somente neste ano. No ano de 2017, não houve registros. Em 2016 foram dois e em 2015, três.

Para o presidente do Conselho, Josias Neves, os dados não refletem a realidade roraimense porque muitos profissionais possuem receio de formalizarem uma denúncia e preferem se abster, o que, para o presidente, não tem motivação já que o risco de perder o emprego não existe.

                                               O presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Josias Neves   

Neves frisou que há uma desvalorização da categoria, já que os registros são oriundos de agressões feitas por pacientes e por outros membros de equipe que não seja da enfermagem. “A agressão quando vem de um paciente ou de acompanhante normalmente é devido a falta de material, por exemplo, um paciente chega para fazer um procedimento ou tomar medicação. Quando fala que não tem, não aceita e agride a equipe”, relatou.

De acordo com a Pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil, feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o sentimento de proteção por parte dos enfermeiros em Roraima foi de apenas 17,5%.

Mais de 1.220 responderam que não se sentiam seguros no trabalho, representando 49,7% e os que responderam que tinham o sentimento de segurança às vezes, foi de 23,6%. A pesquisa classificou ainda que a maior violência sofrida foi psicológica, com 63,7%, seguido de violência física (23,7%) e institucional (12%). A descriminação por gênero ultrapassou os 51%, agressão ligada a peso ou obesidade ficou em segundo com 15,3% e racial chegou aos 15,3%.

Coren solicita escolta policiais nos hospitais

O gestor do Coren-RR, apontou que os profissionais da enfermagem muitas vezes são ignorados pelo poder público e se sentem silenciados quando existe algum tipo de ato violento e não conseguem ter a mesma visibilidade que outros profissionais da saúde. Ele relembrou o caso denunciado por um grupo de medidos agredidos na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth e que no dia seguinte foi colocado um policial armado no local para coibir outros tipos de ataques.

“Quantas vezes a enfermagem já havia sido agredida da mesma forma e quantas vezes colocaram policial? Nenhuma. Isso [diferenciação entre as classes de saúde] tem reduzido, só que as tomadas de decisão do poder público é diferenciada e não deveria ser”, criticou Neves. O presidente completou dizendo que na região Sul do estado houve um afundamento na porta de uma unidade de saúde causado por uma acompanhante que quis agredir os enfermeiros, que se esconderam no banheiro.

Josias Neves solicitou que haja a policiais nos hospitais para que os casos sejam diminuídos e que garanta a segurança dos profissionais de saúde. Segundo o presidente, quando um enfermeiro é agredido por qualquer pessoa, está interferindo diretamente no andamento da prestação de saúde, já que muitos acabam se afastando da profissão, causando um déficit na quantidade de pessoas atendendo.

 População não pode descontar em profissionais

Após uma agressão, o profissional deve fazer um relatório na unidade em que ocorreu o caso, conseguir testemunhas e fazer uma denúncia no Coren-RR, onde será aplicada a resolução 433/12 do Conselho Federal de Enfermagem para serem tomadas as medidas necessárias, que podem ser uma nota de repúdio ou uma sessão solene na unidade que ocorreu o problema.

“O que a gente orienta é que não descarreguem no profissional de enfermagem o que a pessoa está passando porque não depende de ninguém [os problemas nas unidades]. Quando não tem estrutura e condições, o problema é o poder público, o empregador. O problema é de quem deveria fazer a manutenção daquele serviço e não é o profissional. Como a população pede respeito, os profissionais também pedem respeito por parte da população”, encerrou Neves. (A.P.L)